Por Patrícia Santos, do Alma Preta
Reconhecida por ser a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem, Adélia Sampaio fez história ao encabeçar a produção de Amor Maldito (1984), um romance de ficção que trata de mulheres que se apaixonam e tenta lidar com o preconceito e repressão familiar.
Se atualmente não há equidade racial e de gênero nas produções cinematográficas e audiovisuais brasileiras, em 1984, quando Amor Maldito foi feito, era ainda mais dificil, como reforçou Adélia Sampaio em entrevista ao Brasil de Fato (BdF). Sem recursos ou financiamentos, a diretora finalizou a obra inteiramente de modo cooperativo.
Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, Adélia teve seu primeiro contato com o cinema aos 13 anos, e viveu com a certeza de que um dia teria um filme exibido nas telonas. Em 1968, já no Rio de Janeiro, começou a trabalhar na Difilm, uma produtora que lançou nomes importantes do Movimento Cinema Novo. No convívio com realizadores do cinema, ela ainda trabalhou como maquiadora, câmera, montadora e produtora antes de se tornar diretora.
Por conta de polêmicas que envolviam o enredo de Amor Maldito, o filme foi rejeitado pela Empresa Brasileira de Filmes S.A (Embrafilme), empresa estatal que desempenhava a função de distribuir as produções nas salas de cinema. Sampaio aceitou lançar o filme na categoria adulto, assim, o filme pôde ser exibido em oito salas de cinema em São Paulo.
O filme foi gravado durante a Ditadura Militar, o que deu à diretora ainda mais autoridade para fazer parte da produção do filme “AI-5, O Dia Que Não Existiu” de 2001, que denuncia o sangrento regime que foi instaurado no Brasil. O filme foi dirigido junto com o jornalista Paulo Markun.
Antes, Adélia dirigiu o longa “Fugindo do Passado (1987). Como produtora, Adélia participou dos filmes “Parceiros da Aventura (1980)”, “Ele, Ela, Quem? (1980)” e “”O Segredo da Rosa (1974)”. Amor Maldito e outras obras estão disponíveis no canal de YouTube da cineasta.
Atualmente com 80 anos, a diretora viaja pelo Brasil em atividades de exibição e debates de suas obras.