O filme Carruagens de fogo, de Hugh Hudson (1981), é uma obra-prima da sétima arte por representar a luta dos corredores ingleses para conquistarem as vagas e, posteriormente, as medalhas e a glória nos Jogos Olímpicos de Verão de Paris, em 1924.
Um século depois, a capital francesa renasce como no imaginário do protagonista do filme Meia-noite em Paris (2011), de Woody Allen. Ou seja, a Cidade Luz recuperou o glamour em torno dos Anéis Olímpicos estampados na Torre Eiffel.
Contra a violência
A expectativa é grande, pois não é só o esporte que está em jogo, mas o próprio destino da humanidade. A batalha contra a violência é regida pela paz, mas também, e infelizmente, é composta pela guerra. Sendo assim, não há vencedores, porque existem perdas irreparáveis para todos os envolvidos.
Paris escolheu o seu lado ao assumir o risco de realizar esse evento e receber milhares de pessoas em meio aos horrores em torno do planeta Terra. As lágrimas do ursinho Misha, mascote dos Jogos de Moscou, em 1980, voltam a cair neste período em que o diálogo parece tão distante.
Afinal, a intolerância é um parasita que nos infecta e, por isso, permanecemos em alerta. No caso dos torneios entre nações, o importante é competir, apesar das diferenças explicitadas no quadro de medalhas. Mesmo distante do mundo imaginado por John Lennon, os Jogos Olímpicos são uma das poucas oportunidades de congregação entre os povos.
Olimpismo
Acompanhar os Jogos de Paris é quase uma obrigação, justamente por demonstrar que o espírito esportivo, na maior parte das vezes, continua intacto. É como mergulhar nos roteiros dos filmes Divertida mente 1, de Pete Docter (2015), e Divertida mente 2, de Kelsey Mann (2024), e observar que os sentimentos estão em constante mutação e em busca de equilíbrio. E, da mesma forma, é como acompanhar as séries asiáticas e revelar uma gostosa pieguice que nos torna, orgulhosamente, dorameiros. Os apaixonados por esporte ficam loucos durante o certame. “Estão preparados até para receber uma medalha”, como brincam os jornalistas esportivos.
E é, nesse contexto, que os especialistas reforçam os valores fundamentais do olimpismo, resumidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em: buscar a excelência (encorajar o esforço); mostrar respeito (preservar a dignidade humana) e celebrar a amizade (desenvolver a harmonia).
Sendo assim, o velho ditado de que “o esporte imita a vida” é uma realidade que serve como fonte de inspiração.
Mudar o mundo
Alguns dias atrás, cheguei em casa cansado e fui dormir. Acordei na UTI de um hospital. Durante a internação, fiquei pensado em como os nossos atletas se reerguiam após duras derrotas, seja nas competições, como no caso das meninas do vôlei de quadra depois da derrota nas semifinais para a Rússia (em Atenas 2004); durante as suspensões, exemplificada pelo doping da saltadora Maurren Maggi um ano antes das Olimpíadas da Grécia; e até de Neymar, com a contusão que o deixou fora do decisivo e fatídico jogo contra a Alemanha pelas semifinais da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Em edições posteriores, todos foram campeões olímpicos.
Busco força nos heróis do esporte, como o meu amigo Miguel Angelo da Luz, treinador da Seleção brasileira de basquete feminino, campeão mundial em 1994, na Austrália, e prata olímpica em 1996, em Atlanta (EUA). Ele era um sujeito desconhecido e assumiu uma equipe desacreditada. Com a ajuda das atletas, entre elas Paula e Hortência, transformou problemas em virtudes e conquistas. Junto com o jornalista Marcelo Cardoso, logo revelaremos, pela editora Com-Arte, detalhes dessa linda história de um herói nacional.
Gostaria de terminar com uma frase que sempre repito aos meus alunos do curso de Jornalismo da USP e que reforça a mensagem dos Jogos Olímpicos de Paris:
“Acredite no seu potencial, independentemente dos obstáculos”.