Cemitérios: Lições de São Paulo para Maceió
5 de novembro de 2024 8:51 por Geraldo de Majella
Por Dilson Ferreira*
Os problemas com a gestão de cemitérios no Brasil são uma realidade cada vez mais evidente, e as crises em São Paulo e Maceió são prova contundente disso. Problemas de infraestrutura, capelas degradadaals, falta de espaço e, no caso de São Paulo, os efeitos da privatização, colocam em risco o direito das pessoas terem um sepultamento digno para seus familiares.
São Paulo: Promessas Caras e Problemas que Persistem
Em 2023, São Paulo passou a gestão de 22 cemitérios e um crematório público para empresas privadas, prometendo melhorias e modernização. Mas o que aconteceu? Os preços dos serviços subiram demais! Um pacote que custava R$ 299,85 saltou para valores entre R$ 1.443,74 e R$ 4.613,25 – aumento de até 400%! Até o aluguel de itens religiosos passou de R$ 5,83 para R$ 68,84 – um aumento de 1.080%. Essa tendência pode chegar aí nordeste em pouco tempo.
Esses aumentos tornaram o sepultamento inacessível para muitas famílias de baixa renda e mesmo classe média, forçando o trabalhador a adquirir planos privados de assistência funerária. Além disso, surgiram problemas como atrasos, muros caídos, capelas sucateadas e falta de manutenção. A fiscalização, que ficou a cargo da agência SP Regula, não conseguiu garantir as melhorias prometidas. Hoje, os preços estão altos, e os problemas continuam, deixando os paulistanos insatisfeitos. E o caso de Maceió tende a ideias semelhantes, pois os nossos cemitérios possuem o mesmo cenário paulistano, guardadas as devidas proporções.
Maceió: Superlotação, Abandono e o Risco do caminho para a Privatização
Em Maceió, a situação também é complicada. Os cemitérios públicos estão superlotados, com pouca infraestrutura e sem manutenção adequada (basta ir em um deles e constatar), tornando o sepultamento ainda mais doloroso para as famílias. Em 2023, segundo dados da imprensa local, mais da metade dos enterros na cidade foram feitos em covas rasas, chegando a 70% no cemitério São José, no Trapiche da Barra. Isso põe em risco a saúde pública e desrespeita as famílias maceioenses. Detalhe, nenhum político se manifesta sobre esse descaso.
A falta de espaço tem gerado filas para enterrar entes queridos. E o problema ficou pior com a interdição do Cemitério Santo Antônio, no bairro Bebedouro, devido ao afundamento do solo causado pela Braskem. Esse fechamento aumentou a pressão sobre os outros cemitérios da cidade. Lá virou um “cemitério do cemitério” dado o descaso.
Para tentar resolver, a Prefeitura de Maceió estuda construir um novo cemitério vertical, com áreas em Santa Amélia e Benedito Bentes, segundo debates gerados nas audiências públicas e reuniões políticas sobre o tema. O projeto, acompanhado pela Comissão Especial de Inquérito (CEI) dos Cemitérios Públicos, pode dar algum alívio à crise, estamos aguardando alguma novidade. Enquanto isso cemitérios históricos sucumbem no abandono, junto com a memória das famílias.
Concluindo:
As crises nos cemitérios de São Paulo e Maceió mostram que a gestão desses serviços exige cuidados redobrados. Em Maceió, caso se venha pensar em privatização sem planejamento é um risco alto. A experiência de São Paulo é um alerta claro: sem controle rigoroso, a privatização pode pesar muito no bolso da população e ameaçar o direito ao luto digno. Ainda assim, tem político defendendo Parceria Público-Privada como saída para a falta de vagas nos cemitérios maceioenses.
Estão enterrando nossos cemitérios para dar lugar ao empreendedorismo e à indústria do segmento funerário? Só o tempo dirá?
*É arquiteto, urbanista e professor da Ufal
Os 29% de abstenção são uma resposta a tudo isso
31 de outubro de 2024 7:18 por Da Redação
Por Dilson Ferreira*
Uma reflexão:
A última eleição no Brasil trouxe à tona estratégias que ultrapassam o campo da política tradicional, transformando-a em um espetáculo digital, onde a imagem nas redes sociais supera o valor das propostas. O marketing digital psicológico tem sido usado para tornar políticos em “influencers” e eleitores em “seguidores”, criando uma relação em que a popularidade online prevalece sobre o compromisso com a cidadania. Assim, muitos candidatos acabam criando uma “cidade perfeita” nas redes, distante das necessidades reais da população brasileira.
Nas redes sociais, a desinformação e os discursos radicais se destacaram, gerando polarização e desvirtuando o debate. Questões complexas do país foram reduzidas a frases de efeito e abordagens simplistas, que promovem o que chamamos de “lacração” e infantilizam a política, afastando o eleitor de um debate maduro e construtivo. Além disso, práticas como o uso de emendas parlamentares e a mobilização de instituições filantrópicas para atrair votos confundem o eleitor, ao misturar auxílio social com interesses políticos diretos.
Esse contexto de manipulação e marketing exacerbado contribuiu para que cerca de 29% dos eleitores brasileiros optassem pela abstenção. Isso indica que muitos brasileiros já perceberam essas armadilhas e preferem não participar de um processo dominado por estratégias artificiais e oportunistas. A responsabilidade de mudar essa situação recai sobre candidatos verdadeiramente comprometidos com a ética e a transparência, que precisam entender esse cenário e agir para atrair o voto real, baseado na confiança e no diálogo verdadeiro com a população.
Uma democracia saudável exige que os eleitores se sintam representados e respeitados. Para isso honestidade e transparência dos candidatos são essenciais. Só com propostas claras e uma comunicação direta, que vá além da imagem superficial, é possível atrair um voto genuíno e construir uma política mais sólida, alinhada às necessidades do povo.
Quem quiser ser presidente, deputado ou governador na próxima eleição precisa entender esse cenário que vem criando políticos artificiais e de ocasião.
*É arquiteto, urbanista e professor da Ufal