segunda-feira 14 de outubro de 2024

Agrotóxicos e desertificação: uma associação ecocida

1 de agosto de 2024 10:12 por Ricardo Ramalho

 

Ricardo Ramalho é engenheiro agrônomo 

 

Após vinte anos, o Brasil e Alagoas voltam a discutir o silencioso e dramático processo de desertificação de suas terras. Agravado pelas mudanças climáticas e persistentes práticas predatórias, lideradas pelo desmatamento, áreas caracterizadas como semiáridas até então, caminham para se transformarem em desertos, com todas as consequências sócio ambientais decorrentes.

 

Os últimos dados sobre a cobertura vegetal do Estado apontam o percentual de 18%. Se nos fixarmos no bioma Caatinga, onde se concentra a semiaridez alagoana, esse número não ultrapassa 10%. Dessa forma, ao aplicar uma simulação básica, não está sendo respeitada, sequer a legislação florestal que obriga toda propriedade rural a preservar, no mínimo, 20% de sua área total florestada.

 

Costuma-se associar desertificação com desmatamento e outros fatores da ação humana, vinculados à agricultura que aceleram esse fenômeno climático natural, mas, indesejável, como a má conservação do solo e da água e as queimadas. Entretanto, um elemento fundamental deve ser, também, considerado: o uso inadequado dos agrotóxicos.

 

A vertiginosa migração da mão de obra rural para as cidades desencadeou uma escassez desse fator de produção que ameaça as atividades agropecuárias. A árdua tarefa de conter e manejar plantas concorrentes nas lavouras, outrora com ferramentas rudimentares e mesmo com o avanço da mecanização agrícola não diminuiu o predomínio dos herbicidas nestas práticas. Essa tecnologia além das vantagens econômicas inegáveis, carregou sérios problemas para a saúde ambiental dos agroecossistemas, bem como, para os fragmentos remanescentes dos ecossistemas naturais, também, contaminados pelos resíduos das pulverizações com agrotóxicos. De forma indiscriminada dizima a biodiversidade, provocando desequilíbrios ecológicos conhecidos. Relacionando-se, diretamente, com a desertificação, diminui a cobertura vegetal e a produção de biomassa que alimenta todo o processo de constante vitalização do solo agrícola, além de prejuízos para a sua microbiota.

 

Se a pulverização dos herbicidas pelos métodos manuais e mecânicos acarretavam riscos graves ao meio ambiente, intensificou-se, na atualidade, o uso da pulverização aérea de agrotóxicos, notadamente, da categoria dos herbicidas, com a disseminação dos drones para essa operação. Se antes o acompanhamento e fiscalização do aparato estatal para a aviação agrícola, com poucas aeronaves, falhava grotescamente, é absolutamente ausente no cenário de milhares de drones a despejar venenos nos ares.

 

No passado, o machado foi o símbolo do desmatamento, sucedido pela moderna motosserra. Atualmente, parecem instrumentos medievais frente ao poder ecocida dos ultramodernos aviões e drones. Até quando, a que preço ambiental, suportaremos esse descalabro humano?

Entidades cobram compromissos assumidos pela Seagri

7 de julho de 2024 11:29 por Da Redação

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Em reunião com representantes da sociedade civil, realizada no dia 18 de junho, a Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) assumiu compromissos relacionados a três pautas:

  • Regulamentação da lei estadual, sancionada ao longínquo ano de 2018, que estabelece a Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PEAPO), de autoria do Deputado Inácio Loyola que, inclusive, se fez presente à reunião;
  • reativação do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Cedafra), paritário com a sociedade civil que não funciona há cinco anos; e
  • fiscalização do uso abusivo de agrotóxicos no Estado.

São medidas que independem do aporte de recursos financeiros e de caráter político administrativo.

No entanto, transcorridos mais de 15 dias, encerraram-se as tratativas da pauta e se desconhece qualquer providência por parte da Seagri no sentido de contemplar as questões apresentadas.

Diante disso, a Rede Mutum de Agroecologia, a Comissão de Produção Orgânica (CPOrg), a União dos Produtores de Própolis Vermelha (Uniprópolis) e o Conselho de Segurança Alimentar (Consea) cobram uma satisfação sobre as pautas apresentadas, diante do compromisso assumido pela secretaria.

As ameaças tóxicas dos drones

13 de maio de 2024 6:32 por Da Redação

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É inegável o avanço que os drones significam para a atividade agropecuária. Uma tecnologia que facilitará a execução de tarefas e diminuirá custos, inclusive, ambientais. Semeadura aérea, controle biológico, levantamentos diversos que auxiliarão nas decisões dos agricultores, aplicações de biofertilizantes e uma série de operações essenciais na agricultura.

Já se afirmou que a tecnologia é uma faca de dois gumes. Pode ser utilizada para o bem ou para o mal. Assim será com os drones? Infelizmente é o que se prenuncia, pelo menos, na aplicação indiscriminada de agrotóxicos, embora, existam normativos reguladores da prática.

Alagoas detém características socioambientais diferenciadas de outros estados. Sua densidade demográfica é a quarta do país. Acrescente-se outro dado, nessa mesma direção: é o estado de maior densidade urbana do Brasil, sendo 23 vezes mais denso que Tocantins, o último nessa classificação. Se atravessarmos o estado, saindo de Maceió, até a tríplice fronteira no Alto Sertão, não encontraremos vazios demográficos, com distância superior a 20 quilômetros.

Outro fator que nos torna diferente dos demais estados nordestinos: a exuberante oferta de corpos d’água em nosso território. Mesmo a região semiárida é cercada por portentosas reservas hídricas: o rio São Francisco e o Canal do Sertão. Essas condições aumentam a vulnerabilidade da população e do meio ambiente, com relação à contaminação, pelos agrotóxicos, notadamente, com a pulverização aérea. Se já dispúnhamos de poderosa frota de aviões agrícolas, para esse fim, surgem os drones para agravar o descontrole dessas aplicações de venenos. O comércio desses equipamentos e de seus serviços floresce no Estado.

Os drones chegaram com um potencial incalculável de riscos à saúde humana e ambiental. Teremos dezenas dessas aeronaves a despejar venenos sem que o poder público, em suas diversas instâncias, apresente condições estruturais de bem desempenhar suas funções, nessa questão, coibindo abusos e fiscalizando a comercialização e a correta aplicação por drone. Com tristeza, afirma-se que se avizinha um continuado banho de perigosos venenos, em nosso meio ambiente e, sobretudo, cursos d‘águas, veículos naturais da disseminação desses resíduos tóxicos. Assim sendo, além da exposição a esses tóxicos pela deriva das pulverizações, a contaminação das águas para irrigação e consumo humano e animal é uma possibilidade concreta, pela notória ausência do estado nesses aspectos.

Contestações a essas observações, certamente, surgirão com veemência, por parte dos que defendem a tecnologia. Cabe ao governo mediar esse conflito de opiniões, apresentando medidas que evitem mais essa ameaça à vida, sobremodo, na fiscalização e no aparato laboratorial que monitore esses resíduos.

Fugindo das radicalizações desnecessárias, não se encontram alternativa à essa ameaça, senão com a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos em Alagoas. Sigamos a União Europeia que desde 2009, proibiu essa prática, em seus países. Também, o estado do Ceará, que em 2.018, baniu essas chuvas de venenos de seus céus. Ainda, 17 municípios brasileiros que fizeram o mesmo, em suas superfícies.

Chega de chuvas de venenos! Não à pulverização aérea de agrotóxicos em Alagoas!

Pulverização aérea de agrotóxicos: uma prática ecocida!

30 de outubro de 2023 1:57 por Da Redação

 

https://www.redebrasilatual.com.br

Pesquisas demonstram que os efeitos nocivos da pulverização aérea resvalam na saúde dos trabalhadores que recebem doses acentuadas de agrotóxicos; impactam a saúde comunitária, com a contaminação das hortas domésticas e projetos da agricultura familiar, dos poços de água, das casas e instalações coletivas como escolas, sobre as quais sobrevoam os aviões e drones pulverizantes, provocando inúmeros casos de adoecimento; contaminam os ecossistemas locais e regionais, tendo em vista que os agrotóxicos assim aplicados, sob a ação dos ventos, atingem grandes extensões de terras para além da área ocupada com os plantios, impactando toda a biodiversidade e a população em dimensões regionais.

O emprego abusivo e descontrolado de agrotóxicos em Alagoas tem sido denunciado e estudado pela academia e instituições vinculadas à produção agropecuária estadual. As inadequadas formas de aplicação, a ausência de monitoramento e fiscalização e a deficiência na assistência técnica contribuem para agravar seus efeitos deletérios à saúde humana e ao meio ambiente.

Estudos da EMBRAPA indicam que, apenas, 32% dos agrotóxicos pulverizados, por via aérea, fica retido nas plantas, 49% cai no solo e 19% é arrastado pela deriva dos ventos, principal e incontrolável fator de disseminação dos venenos. Somem-se peculiaridades hidrográficas do Estado, como agravantes dessa poluição tóxica. Levantamentos e pesquisas atestam uma generalizada contaminação de resíduos de agrotóxicos, acima dos níveis permitidos, nos corpos hídricos do Estado.

Diversos casos e acidentes provocados pelas denominadas “chuvas de agrotóxicos”, das pulverizações aéreas, ocorreram em Alagoas. A falta de fiscalização do poder público dificulta o registro dessas situações, bem como, a forma fortuita que ocorrem e a diminuta capacidade das famílias atingidas, de reunir elementos factuais que comprovem, formalmente, os acontecimentos. Significativos impactos negativos, dessas “chuvas tóxicas” provocaram danos na florescente atividade apícola, típica da agricultura familiar. Constataram-se alarmantes dizimações de colmeias de abelhas nativas, espécies mais susceptíveis aos efeitos nocivos dos agrotóxicos.

Acrescente-se a essa farta argumentação que contraria o uso da pulverização aérea com agrotóxicos, mais uma característica preocupante. A EMBRAPA, em minucioso estudo realizado, em 2017, apontou Alagoas, como o estado do país, de maior densidade demográfica urbana, parâmetro que, certamente, se elevou, considerando o crescente fluxo migratório do campo para as cidades. Somente para ilustrar, o Estado detém o índice de 4.880 habitantes por quilômetro quadrado, situando-se na primeira colocação e Tocantins na última, com 1.538. Essa densidade se aguça nas cidades em que a cana de açúcar predomina, bem como, sucedâneas monoculturas de milho, soja e eucalipto, onde mais se emprega a prática da pulverização área de agrotóxicos. As áreas rurais e urbanas se entremeiam, de modo que essa separação geográfica, praticamente, não existe. Mesmo na capital, a agricultura se mistura com zonas urbanas. Assim sendo, esse fator demográfico expõe, ainda, mais a população, aos perigosos efeitos tóxicos, pela ação dos ventos e falhas operacionais na aplicação dos agrotóxicos.

Importa registrar que, ao longo dos últimos vinte anos, mais de 1.700 pessoas foram intoxicadas, de forma aguda, por agrotóxicos no estado de Alagoas, sendo que 472 delas foram vítimas de intoxicação ambiental (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020), ou seja, foram expostas à toxidade dos ingredientes ativos, presentes nos agrotóxicos, através da exposição ao ar ou à água contaminada.

A proibição dessa prática danosa foi vedada no Estado do Ceará, através da Lei Estadual 55/2018, bem como, em, pelo menos, 16 municípios brasileiros. Recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) referendou, por unanimidade, a lei cearense que estava sendo contestada por entidades representativas do agronegócio, consolidando o entendimento jurídico constitucional da medida.

Com base no relatado se iniciou, há cerca de quatro anos, uma campanha, alicerçada em um Projeto de Lei de Iniciativa Popular, para proibir a prática em Alagoas. A necessária coleta de assinaturas de eleitoras e eleitores em número elevado demanda tempo e esforço para tal. Assim sendo, o município de Maceió, através de proposta da vereadora Teca Nelma que tramita na Câmara Municipal, discute a adoção da proibição e promove audiência pública, nesta próxima terça feira, a partir das 14:00 horas. A campanha “Sem agrotóxicos, por favor! ” tem se somado à iniciativa para a mais rápida aprovação do projeto de lei, livrando o município dos graves riscos dessas chuvas tóxicas.

 

Sem agrotóxico, por favor!

21 de junho de 2023 9:37 por Ricardo Ramalho

Crédito: iStock

Há mais de três anos iniciamos a Campanha “Sem Agroecológicas, por favor!”. Foram muitas mensagens e atividades, com muito trabalho e avanços significativos. Frequentes e numerosas adesões robusteceram a luta contra a utilização abusiva dos venenos que prejudica a saúde humana e a vida de uma forma generalizada. A coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de iniciativa popular que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos em Alagoas, ocorreu em muitas frentes, embora sem alcançar o número mínimo de adesões exigidas por lei. As dificuldades advieram da burocracia e da falta de uma melhor estrutura de apoio logístico para tal, além da forte reação de setores interessados em continuar com a chuva de venenos para obterem, cada vez mais lucros. Mas, existe uma regulamentação na Assembleia Legislativa de Alagoas que permite a apresentação de propostas populares, para apreciação dos deputados e seguiremos essa trilha em busca de nossos objetivos. Tanto que estamos no mapa de dez estados no Brasil que contam com iniciativas para proibir essa prática.

 

Em nossas listas de transmissões de mensagens, constam cerca de 400 participantes, dos mais diversos segmentos e municípios de Alagoas. Recebemos muitos retornos, em nossas interações. Mas, em função do longo tempo de funcionamento precisamos atualizar ess@s destinatári@s. Acreditamos que algu@ns possam ter modificado seus contatos e outr@s não mais se interessem pela questão, o que compreendemos. Assim sendo, solicitamos que manifestem ou não a opção de continuar recebendo mensagens da campanha. A ausência desse retorno será entendida como a opção de não constar na lista de transmissão da campanha.

Sem agrotóxico, por favor!

 

Maceió, cidade impermeável

Foto: G1/AL

Dentre as muitas consequências da intensa urbanização de nossas cidades, tão bem-vinda pela população, surgem questões novas e preocupantes, em sua maioria, derivadas de aspectos ambientais. Uma das mais visíveis, tem sido a impermeabilização dos espaços, antes ávidos por água a ser infiltrada. Com a terra impermeabilizada, as águas das chuvas se avolumam e escorrem, velozmente, transbordando galerias, canais, riachos e rios adormecidos, provocando os graves transtornos das enchentes urbanas.

Com a marcha incessante da mudança climática e os denominados eventos extremos dessa transformação, essas questões impactam as populações, em todo o mundo. Especialmente, no início da estação chuvosa, as águas lavam calçadas e ruas e transportam cargas poluidoras difusas, provenientes de nossos veículos, cada vez mais numerosos, nossos pés, nossos lixos e uma série de outros fatores poluidores, de elementos nocivos à saúde, sobretudo se acumulados, advindos com o nossos viver “moderno”.

Essa carga poluidora chega em nossos mananciais hídricos e em cidades litorâneas como Maceió, às nossas praias, nossas belíssimas e valiosas praias, além da generosa Lagoa de Mundaú. Portanto, compromete a balneabilidade dos principais pontos de lazer de maceioenses e turistas, independente do lançamento ou não de águas servidas que, porventura esteja ocorrendo.

Não se limitam, ao relatado, os pontos negativos da impermeabilização das cidades, com espaços ocupados por edificações e pavimentadas ao extremo. Também dificulta a realimentação dos aquíferos e o abastecimento de água. Para Maceió, que tem 70% de seu suprimento de água oriunda de fontes subterrâneas, essa consequência é mais grave ainda. Acrescente-se o desconforto térmico, as “ilhas de calor”, influenciadas pelo aumento da temperatura e da sensação térmica que a impermeabilização provoca.

Nessa sequência de malefícios, some-se a sub-reptícia e perigosa poluição visual. Ainda, a poluição luminosa que nos “cega” para observações dos astros, dos fenômenos naturais e outras visões que alimentam nossos humores e reflexões. Ruas monótonas, semelhantes, sem árvores, sem jardins, sem vida.

É costumeira a expressão moderna de que nossa capital é uma cidade instagramável, ou seja, faz sucesso no Instagram. Aproveitando essa linguagem, percorre-se outro caminho que alerta para uma cidade, crescentemente, impermeável. Observando-se as obras de urbanização, dos últimos tempos e em curso, na cidade, percebe-se a absoluta despreocupação técnica com impermeabilização dos espaços, das terras, sejam públicos ou privados.

Não há distinção de bairros ou localidades: as intervenções desconsideram a permeabilidade, como fator essencial no bem-estar da comunidade citadina. Grandes e pequenos exemplos ilustram essa “tendência”. Foi assim na Fernandes Lima, com a implantação de uma deserta ciclovia para “inglês ver” ou nos estreitamentos dos canteiros centrais das avenidas do Benedito Bentes. Inúmeras outras pequenas obras, atestam essa insensatez ecológica da impermeabilização generalizada de Maceió.

Conhecer a lógica e enfrentar as enchentes urbanas, requer um entendimento gerencial comum nas diferentes instâncias operacionais da Prefeitura. Em função dessa constatação inquestionável é preciso um esforço conjunto do governo e da sociedade para deter o mal silencioso da impermeabilização, com a cidade recuperando a capacidade de reter e acumular as águas das chuvas, tão abundantes em nosso clima. Com precipitações pluviométricas alcançando até 2.200 milímetros por ano, significa cerca de 2.200 litros despejados em um metro quadrado de superfície, com sua maior parte impermeável.

Os problemas ambientais devem ser enfrentados com inteligência, inventividade e imaginação e para permeabilizar e embelezar nossa cidade não é necessário banir o asfalto, o calçamento, o cimentado, as edificações, mas conviver com esses inegáveis avanços da civilização, inserindo soluções e conceitos que diminuam esses efeitos. No licenciamento de edificações, dispõem-se de regras e parâmetros de urbanização que se aplicados aos novos empreendimentos como, fundamentalmente, os coeficientes de área livre e de impermeabilização, contribuem para minorar o problema. Além disso, surgiram alternativas que se contrapõem à impermeabilização.

Os pisos intertravados que permitem a infiltração da água na terra é uma tecnologia de larga utilização. As calçadas verdes é uma tendência da arquitetura e do paisagismo, em que o desenho dos passeios públicos, reserva espaços para árvores e jardins, facilitando a infiltração da água da chuva. Não caberiam políticas públicas que estimulassem os donos dos imóveis à implantação de faixas ajardinadas, em suas calçadas? Na mesma direção projetam-se tetos verdes, que igualmente, absorvem parte das águas das chuvas e, ainda, as denominadas paredes vivas com objetivos semelhantes.

Pisos intertravados

Contudo, o mais importante nesse contexto de soluções é a compreensão, do poder público e da coletividade, da necessidade de, primeiramente, reconhecer o problema e, a partir desse sentimento, encontrar inúmeros caminhos para minorar as consequências da impermeabilidade. Assim, passaremos a ter uma cidade permeável, com mais saúde ambiental.

*É engenheiro agrônomo e ambientalista

Precisa-se de um boteco

27 de março de 2023 3:09 por Ricardo Ramalho

Foto: Flickr/Ângelo Rigon

É impossível encontrar um não lugar num boteco. Parece indefinido e ao mesmo tempo repleto de simbolismos. São desses espaços que precisamos. Basta oferecer calidez, alma, aconchego, lembranças aos montes.

Precisa-se de um boteco para completar a graça da vida. Não precisa ser confortável, nem desenhado. Basta ter bancos, até um balcão, caldinhos, bolinhos fritos, guisados e amigos, muitos amigos e amigas. Que nos façam rir, mesmo quando se quer chorar; ouvir histórias, às vezes repetidas, piadas antigas e canções que nos transportem para profundas amizades e quereres.

Não precisa ter elegantes garçons. Bastam donos e donas, sobretudo, com apelidos que nos aproximem e nos tornem íntimos, nas primeiras convivências. Foi assim com Roberto Ladrão, um ícone do mundo dos botecos de Maceió. Carismático, sensível, de um humor criativo imensurável. Esbanjando esses sentimentos, tornou afetivo até o “ladrão” de seu título, adquirido nas peripécias do seu bar.

Ah! Precisa-se, urgente, de um boteco que nos encham os copos e as vontades de viver. Não precisa ser climatizado. Pode ter calor, humano. Inspirar diversões, das mais peculiares. Produzir felicidade, mesmo que transitória, mas, de efeitos duradouros. Alegria, ah! Alegria, esse componente que o boteco transpira e exporta.

Que se transforme em divã de psicólogo, em muitas situações de confidentes que procuram audiências de pessoas dispostas a ouvir e opinar de forma sincera, positiva, contribuindo para caminhos do bem querer.

Resta-nos clamar pela sobrevivência do boteco. Botequeiros, uni-vos! Vida longa ao boteco!

*Texto em homenagem ao Bar do Roberto Ladrão e ao botequeiro Antônio Farias, assíduo frequentador, que completou 84 anos.

Florestas de postes, Senhor Prefeito?

11 de abril de 2022 10:47 por Ricardo Ramalho

Ecovia Norte: floresta de postes | Divulgação

As cidades têm procurado aproximar suas paisagens aos contornos e cores da Natureza. Essa tendência mundial revoluciona conceitos paisagísticos e de convivência dos seus habitantes com as mais diversas formas de vida, na busca de um equilíbrio ecológico. De forma sutil, se combate a soberba dos humanos, o estúpido sentimento de que somos a espécie viva mais importante do Universo, que nos domina. Somos, em verdade, fios de um mesmo tecido vital. Pode-se definir esse crescente comportamento coletivo como exaltação à vida.

Maceió se valoriza por suas indiscutíveis belezas naturais de suas águas, areias, corais, diferentes altitudes. Detalhes como a formação de barreiras e falésias coloridas por argilas multicores, contribuem, também, para esses atributos. Nesse conjunto se encontram as árvores, ornando de maneira singular esses cenários e como poetizou Noaldo Dantas: “as praias deverão ser fascinantemente belas, sob a vigilância de altivos e fiéis coqueiros”. Desprezar esses elementos que, alegremente, nos cumprimentam com seus movimentos de ramos e folhas é demonstrar insensibilidade com a vida.

Asfalto, cimento, postes, Senhor Prefeito, muitas cidades dispõem, aos montes. São fáceis de “plantar” e requerem pouca manutenção. Evidente que são essenciais à vida moderna, mas, devem ser usados com parcimônia, através de estudos e planejamento adequados.

Dois tipos de poluição são pouquíssimos considerados, pelo Poder Público, em nossa capital: visual e luminosa. Por terem características de difícil percepção e insidiosas, passam despercebidas da população. Pelo que se observa, nas últimas intervenções urbanísticas da Prefeitura, repete-se a supremacia de uma visão de mundo atrasada, da dominação do cinza sobre o verde, da simplificação e monotonia da paisagem, do exagero da iluminação artificial, um verdadeiro mergulho no obscurantismo paisagístico.

Exemplos se sobressaem nessa absurda conduta pública. Uma é a supressão de árvores e, sobretudo, dos jardins que embelezavam o canteiro central da Avenida Fernandes Lima. Aquela artéria, que aos poucos se transformou em um cartão postal da principal entrada da cidade, sofreu uma devastação em suas áreas verdes, substituídas por concreto, de funcionalidade e objetivos duvidosos. Perde-se beleza, oxigênio, vida e ganha-se calor, mesmice, poluição sonora e visual.

Outro ecocídio se comete na Ecovia Norte, importante via, em construção. Um amplo canteiro central, com seus seis quilômetros de extensão, onde deveria ser executado um rico e bonito paisagismo, está sendo ocupado por centenas de postes, centenas mesmo! São mais de 400 postes, interligados por fiação subterrânea, que dificultará, sobremaneira, a convivência com plantas. Temos assim, uma inusitada “floresta de postes”, poluindo a majestosa vista de nosso mar. Uma dominação angustiante da cegueira urbanística que assola nossa capital e seus exuberantes dotes naturais.

Árvore não é poste, Senhor Prefeito!

12 de fevereiro de 2022 5:58 por Ricardo Ramalho

Foto: Divulgação

Os benefícios das árvores são decantados em todo mundo. A convivência com os seres humanos, sobretudo, nas cidades é ressaltada pelas suas inúmeras vantagens. Inicia-se pela purificação do ar, caminha pela diminuição do calor, se espalha pelo enfrentamento dos ventos, se transforma em filtro contra as insidiosas poluições, como sonora, luminosa e particulados diversos.

Ah! Mas, também, ameniza os transtornos da alma, acalenta tristezas, embeleza a vida cotidiana, modifica cenários gris, como diria Djavan. O que seria de Maceió sem suas árvores, seus coqueirais imponentes a conversar com o mar, com suas areias macias e acolhedoras?

Esses argumentos, entretanto, contradizem com o tratamento que a Prefeitura tem dispensado, ao longo de anos, às árvores de nossa cidade. Insensibilidade é o termo definidor dessa postura pública. Exemplos, infelizmente, não nos faltam para atestar essa afirmativa.

Caberia um verdadeiro tratado técnico para explicitar os procedimentos errôneos e deletérios, cometidos pelo poder público municipal.

A árvore é um ser vivo, como nós, da espécie humana. Tem a seiva como se fora nosso sangue, raízes como bocas para se alimentar, folhas para preparar o alimento delas e de sobra nosso alimento. Respiram, suam, se reproduzem, se movimentam, similarmente, ao que ocorre com os humanos! Expressam sentimentos de contentamento, quando crescem, florescem, frutificam. Também de tristeza e mal-estar quando murcham, amarelecem, desfolham, definham, morrem. Árvore não é poste, Senhor Prefeito!

Foto: Divulgação

Os mais revoltantes exemplos desse descaso, podem ser realçados com as verdadeiras mutilações, ocorridas em centenas de árvores urbanas de Maceió. A poda é uma técnica agronômica que requer tratamentos baseados na botânica, na dendrologia, na agronomia de um modo geral. Até a supressão implica em pareceres técnicos que recomendem ou não a drástica decisão.

As podas realizadas pela Prefeitura, em sua grande maioria, são executadas sem qualquer sentimento de que a árvore, quando podada, está sujeita a ação de fatores naturais que contribuem ou não para uma conformação harmoniosa de seus ramos e copas.

Dirigindo-se para o plantio, observam-se descalabros técnicos que estarrecem. Quanto desprezo no nobre ato de plantar uma árvore, considerado um objetivo de vida para muitos. Sórdida é o termo que define a forma como estão sendo plantadas as arvores na Ecovianorte.

Mudas de árvores são bebês, merecem cuidados especiais. Daí se chegar a denominar “berço”, o local onde serão replantadas, quando alcançam o desenvolvimento adequado. Os berços devem ser preparados com adubos e corretivos recomendados, com base, em análises laboratoriais.

Após o plantio, as árvores em formação, serão regadas e tutoradas para superação do estresse inicial e posterior crescimento. Cavar um buraco em terrenos compactados e enterrar as mudas, sem nenhum desses cuidados, é condenar à morte, cruelmente, esses seres vivos que poderiam trazer muitos favorecimentos para o local e seus habitantes. Enterram-se, igualmente, vultosos recursos públicos utilizados nos serviços.

A abundante e justificada área do seu canteiro central que perfaz cerca de 40 mil metros quadrados, se bem conduzida, se transformaria em mais um cartão postal da capital alagoana, uma vitrine de nossa rica flora, com uma coleção botânica que exaltasse nossa biodiversidade.

Assim sendo, a arborização da Ecovianorte envergonha a Agronomia do Estado, pela absoluta falta de um planejamento das espécies a serem cultivadas e erros técnicos grosseiros, observados e pelo descuidado acompanhamento do Poder Público Municipal.

Mais do nunca é preciso bradar: Árvore não é poste, Senhor Prefeito!

O surreal Dia da Árvore de Alagoas

20 de setembro de 2021 9:23 por Ricardo Ramalho

Uma movimentação da mídia e dos órgãos governamentais estaduais e municipais voltou-se, nos últimos dias, para o Dia da Árvore. Observou-se um festival de ações em torno da data, para a importância das árvores na convivência humana, com a natureza. Nada mais justo e acertado para essa atenção, não fora a verdadeira deseducação ambiental que promoveu. Inicia-se pela data que não é formalmente válida para o Estado. Um decreto federal de décadas passadas (55.795/65) instituiu, acertadamente, que o 21 de setembro se limita aos estados do Sul do país. Para o Norte e Nordeste, criou-se a Festa Anual das Árvores, a transcorrer na última semana de março. Entretanto, a confusão de datas seria de pouca valia, para tão importante personagem, se não representasse uma conduta errônea, que desconsidera o clima da região.

O nosso despreparo educacional é de tal magnitude que nos faz esquecer que estamos iniciando uma das duas estações de clima que se admitem em nossa região: o verão que acontece após o inverno. Ao que parece, não se tem conhecimento de tão simples e, provavelmente, milenar alternância climática e que as árvores para crescerem, quando plantadas, necessitam de umidade das chuvas, que escasseiam em todo Estado. Foi, exatamente, o espírito do decreto federal ressaltado, o de conciliar o clima favorável ao seu adequado plantio. Assim, no afã de seguir o noticiário do Sul e da absurda descontextualização do ensino, governo, escolas, instituições das mais diversas características se lançaram nessa surreal comemoração. Vimos enormes outdoors saudando a árvore, notas públicas comemorativas de órgão governamentais e a mais equivocada das ações para plantios de árvores, em pleno verão: a distribuição de mudas.

As mudas são comparadas a bebês vegetais. Requerem cuidados especiais quando são retiradas dos viveiros de produção, daí se denominar “berço” e não “cova” a perfuração do solo que a receberá. O berço deve ser suprido de adubo e, sobretudo, água, em abundância. A distribuição de mudas, sem critérios e orientação, em uma época inapropriada para plantio sem a disponibilidade de irrigação constante, representa uma sentença de morte para as frágeis árvores em miniatura além do desperdício de recursos.

O surrealismo na educação ambiental, contudo, não para na data referida. Começa outro mecanismo bizarro de imitação do que faz o Sul: a chegada da Primavera! Ora, ora, os mais primários ensinamentos de geografia e climatologia afirmam que as conhecidas quatro estações não são bem definidas no Nordeste, tampouco é a estação das flores. Nos dois principais biomas de Alagoas, a Caatinga e a Mata Atlântica, as flores não estarão abundantes, nessa pretensa primavera que se inicia. A chegada do verão no primeiro, prenuncia a queda das flores e no segundo, ainda, chegará a alguns dias a plenitude florística que embelezará mais nossas matas e jardins.

Conheçamos mais a natureza e seus efeitos, sobre todas as formas de vida que coabitam em nosso Planeta. Sem essa sabedoria, não compreenderemos como viver em equilíbrio e harmonia.

Reconectando com a Natureza

7 de agosto de 2021 3:59 por Ricardo Ramalho

A reconexão com os processos naturais, na atualidade, tem sido uma busca generalizada dos humanos. Percorrer essa trilha deslumbrante, nos arremessa ao intenso uso de nossos sentidos básicos. Mas, não basta uma aproximação fria, mecanicista. Requer emoção, afeto, paixão pela Natureza e seus inúmeros componentes. Exige o uso sensorial que nos iguale, nos coloque na real posição, enquanto mera espécie viva, dentre um inimaginável caudal de outras formas de vida.

Nossos sentidos necessitam de aproximação com as características da Natureza, da beleza de seus aspectos e complexidades. Um olhar acurado para as cores e formas dos elementos naturais, nos descobrem matizes e modelos desconhecidos. Nosso olfato se inebria com odores inusitados de folhas, flores, frutos, da terra. Sentir, com o tato, superfícies dessas composições naturais é um prazer para quem deseja esse retorno ao natural, ao simples. Ouvir os pássaros, os insetos, o ranger dos ramos, o coaxar das rãse até o silêncio que acorda o espírito. Degustar sabores, encontrando requintes da culinária saudável, do doce ao salgado, do amargo ao ácido, mesclados ao apimentado.

Essa vereda de sentimentos que afloram, nos reaproxima da Natureza. Caminhar nessa direção nos afastará da desolação que nos afeta nesses difíceis tempos. Vivenciar um modelo que produza o bem viver, é a proposta.

Respirando o Bem Viver Comum

29 de junho de 2021 10:21 por Ricardo Ramalho

A reflexão nos ajuda a superar crises e obstáculos de nosso viver. Impulsiona na busca das utopias e enlevos da existência humana. Com esses sentimentos, enfrentamos o atual estado de espírito que nos comove.

Um debate intenso e muitas vezes rudimentar, coloca em faces opostas, visões de prioridades econômicas e de salvar vidas, diante da pandemia. Como barco sem rumo, navegamos por essas águas revoltas do comportamento humano. Dominados por um projeto de sociedade consumista, antropocêntrico, antiecológico e, eminentemente, especista, estamos atordoados por um inimigo ardiloso e de capacidade destrutiva inimaginável.

Envoltos pela proposta da sociedade contemporânea, coberta por preceitos do que se denomina de “felicidade de vitrine”, corremos, de forma célere e avassaladora, para alcançar objetivos voláteis, fluidos, que se desmancham aos solavancos da reinante insustentabilidade dos princípios elementares de fatores ambientais. De súbito e, rapidamente, surge um vírus que derruba pilares dessa “sociedade líquida” para usar mais um conceito em discussão, na atualidade. Descobrimos que a humanidade, ciosa dos avanços tecnológicos e arrogante em sua composição de seres vivos inteligentes, percorre um sistema frágil de inter-relação com a natureza e alimenta uma cruel desigualdade, entre seus participantes.

Mesmo antes da hecatombe sanitária universal, se alardeavam sinais de falência do modelo econômico e ameaças ambientais graves, como as mudanças climáticas, para muitos, o próximo desafio vital que o mundo enfrentará. Há, felizmente, uma tímida, mas, consistente reação se formando. Acessamos textos iluminados que abordam essa mudança de comportamento social e de valores. A natureza dessa abordagem não comporta citações. Apenas nos inspiramos nesses novos pensamentos que apontam alternativas para um projeto futuro de sociedade. Será fundado em paradigmas que valorizem o “luxo supremo”. Aquele que não se atrela, exclusivamente, ao poderio econômico, mas, que considera a saúde, água limpa, animais livres, matas e florestas preservadas. Que oferece tempo, esse bem postergado, por um modo de vida acelerado e robótico. Tempo para pensar, ouvir boas músicas, ler, descobrir beleza nas coisas, dançar, até sozinho. Observar, com serenidade o pôr do sol, o nascer da lua, o brilho das estrelas. Saber perdoar pessoas, compreender quem pensa diferente, tolerar oponentes. Admitir seus defeitos e rir deles. Uma série de condutas que nos retire dessa roda viva de celeridades e urgências indefinidas.

A construção de novas dinâmicas sociais se revela como um caminhar que nos leve a utopias para um Bem Viver que se espraie, coletivamente. Um Bem Viver Comum que se afaste da linearidade dos princípios regidos pelos ditames do deus moderno: o mercado. Ressignificando a vida, dentro de um contexto de comunhão com a Terra, nossa casa comum. Desponta, assim, a Agroecologia, como uma ciência em formação, demonstrando possibilidades para uma relação harmoniosa com o meio ambiente. Confluem, nessa direção, tendências que fortalecem essa diretriz, a exemplo da Permacultura, a Bioconstrução, os Sistemas Agroflorestais. Enraízam-se, nessa movimentação, decisões pelo retorno à vida natural, a alimentação saudável, à simplicidade, ao minimalismo e consumo responsável. Portanto, a vida em primeiro plano.
Muitas postagens circularam na internet, atribuídas a intelectuais e pensadores. Independente da autoria incerta, encerram, em linhas gerais, essa procura por um amanhã que não seja surpreendido, por situações de colapso, como a que vivenciamos. Anunciam encaminhamentos alternativos, à trilha dominante, adotada pela humanidade. Arremetamo-nos nessas veredas.

É fundamental se libertar do jugo do Produto Interno Bruto (PIB), essa abstração monetária que move a economia de forma fria e implacável, somando “riquezas” que empobrecem a maioria, pela cruel desigualdade, na qualidade de vida dos povos. Formular um novo índice, que exprima o Bem Viver, comum aos mais diversos segmentos sociais. Investir em áreas que produzam felicidade sustentável como energias limpas, saneamento em suas vertentes básicas, de acesso à agua potável, esgotamento, drenagem urbana e tratamento do lixo. Redistribuir renda, perseguindo níveis com menor discrepância nos valores. Praticar uma agricultura regenerativa que alimente a biodiversidade, diminua a geração de resíduos e a fome, livre das tarefas penosas e prejudiciais à saúde ambiental. Cultivar a terra, sobretudo, observando a teia da vida e dela se aproveitando, em benefício de todos. Reduzir o consumo, o luxo orgiástico, o esbanjamento dos recursos naturais, compreendendo que são finitos. Empreender sempre visando o labor colaborativo e edificante. Valorizar o capital humano, estimulando a participação de todos. As pessoas movem o mundo. O fluxo de caixa, a estrutura logística, são instrumentos subalternos a esse capital.

Ética, ética! Parece escondida, espreitando um mundo, em velocidade incontida, que não podia parar. Que ressurja e inspire uma nova civilização, escudada, sobremodo na exemplaridade, essa força que remove montanhas de iniquidades e faça “a boa nova” andar nos campos e cidades, “semeando canções no vento”. Que edifique vivências e ações sob um mandato sublime e definitivo: todo poder à vida!

*Obrigado a Alberto Cabus, Bauman, Beto Guedes, Boaventura de Souza, Chomsky, Osman Giraldo, Edgar Morin por me doarem, sem permissão prévia, pensamentos e ideias que me fizeram respirar e inspirar, nesta pandemia.

(*) Ricardo Ramalho é engenheiro agrônomo