A contenda entre o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, tem sido tratada como uma disputa local que, pela relevância de ambos no cenário político, tem se tornado uma questão nacional.
A briga tem como motivo o controle de cinco órgãos federais em Alagoas. O presidente Lula deve arbitrar a questão.
Os interessados nessa narrativa são os operadores do mercado financeiro, a quem o deputado Arthur Lira ligou-se anos atrás. Em seu mandato ele deve atuar como um porta-voz obediente dos especuladores. Esse é um ponto. Outro é a obsessão em tentar maniatar o presidente Lula como fez com Bolsonaro operando o Orçamento Secreto e pondo em votação as pautas do mercado financeiro.
Lira vai continuar tentando dominar o governo com instrumentos e meios que estão ao seu alcance. Não há, em sua trajetória política, pendor republicano e democrático.
O senador Renan Calheiros tem experiência política, conhece o meio onde vive há quatro décadas.
Há dois níveis de disputa no momento: o local, que gera manchetes na mídia, e o nacional, que é o que realmente tem relevância e o senador Renan tem trabalhado para conter a voracidade de poder de Arthur Lira. Tem deixado cada vez mais o deputado exposto a opinião pública.
É provável que o presidente Lula entre em campo para mediar um armistício, mas, não será apenas entre Renan e Arthur Lira, é necessário incluir o senador Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado.
Chantagem
Arthur Lira encontrou a maneira de esticar a corda para abocanhar mais poder, encurralando o presidente Lula. No momento, as MPs estão travadas por um impasse sobre como deve ser feita sua tramitação no Congresso Nacional.
Essas propostas, antes da pandemia, eram analisadas, inicialmente, por uma comissão mista composta por senadores e deputados, formada por 12 integrantes de cada Casa. Havia alternância entre senadores e deputados para relatar as Medidas Provisórias (MPs). Saindo dessa comissão, a proposta era apreciada no plenário da Câmara e, em seguida, no do Senado.
Dessa forma, havia uma alternância entre senadores e deputados para relatar as MPs – o relator é o parlamentar que concentra as negociações e redige a versão final que vai à votação, já que as medidas provisórias podem sofrer modificações no Congresso.
O que mudou foi esse rito, que está previsto na Constituição. Ele foi alterado e o funcionamento das comissões foi suspenso no período da pandemia. Diante dos problemas causados pela Covid-19, as medidas provisórias passaram a ser analisadas diretamente pela Câmara, o que deu poder extra ao deputado Arthur Lira, de indicar, quando fosse necessário, um deputado para ser o relator da matéria.
O senador Rodrigo Pacheco, numa tentativa de resolver a crise, propôs uma emenda constitucional acabando com as comissões mistas, porém, estabelecendo que o início da tramitação das MPs seria alternado entre Câmara e Senado. Assim, cada Casa revezaria a indicação do relator.
O estado de beligerância é a estratégia de Arthur Lira para obter mais poder, a cada dia um novo “inimigo” será criado ou forjado.
Lira não terá descanso nem a indiferença de Renan Calheiros.