27 de julho de 2021 9:40 por Braulio Leite Junior
Os sociólogos e historiadores sempre se preocuparam com o processo urbanístico, entendendo que as cidades, as vilas e as ruas contribuíam bastante para a história das regiões e de seu povo. A concentração de populações em cidades e ruas provoca mudanças socioculturais que, segundo Emilio Williams, consiste na secularização ou individualização. As ruas, por exemplo, forçam até modificações de costumes.
O mestre Raymond Ledrut, na sua monumental obra Sociologia Urbano, estuda o urbanismo e a cultura sem esquecer o homem rural. Ele fala da personalidade coletiva das ruas.
Melo e Povoas primeiro governador das Alagoas, foi um mestre do urbanismo da cidade de Maceió e traçou sua planta, como observa Craveiro Costa, com as ruas em direção ao mar. Neste trabalho, lembramos a velha Rua do Comércio que foi Rocha Cavalcanti e voltou a ser a Rua do Comércio.
No início deste século, o comércio se fazia quase exclusivamente nesta rua hoje tão diferente, cheia de agências bancárias e grandes lojas. O pesquisador vai encontrar nessa artéria municipal casas comerciais como Almeida Guimarães, Ferreira Santos & Cia., Antônio Bento da Silva Coelho, Manoel Mendes & Cia., Rodrigues Cardoso & Cia., Teixeira Basto & Cia., a Farmácia Braga, do Dr. Aquino Braga, Boa Aventura de Amorim, Antônio Pinto & Cia., Manoel Rodrigues de Oliveira, a Casa Feliz, de José Magalhães da Silveira, Bazar de Novidades, Bazar Italiano de José Casseli & Cia., João Lauria com a Casa Lauria, Clemente Magalhães da Silveira (sapataria), a Farmácia Calmon, Antônio Maurício da Rocha, Francisco G. Fontan com sua loja e alfaiataria Nova Aurora, Manoel Fulco, Viúva Prado & Cia, Firmino Vasconcelos (farmácia), Augusto Vaz da Silva (Livraria Santos) e outras.
Na década de trinta a paisagem da Rua do Comércio começa a ser modificada, mas as lojas, com suas prateleiras barrocas, de amarelo vinhático ou jacarandá, ainda existiam; os portugueses, homens dedicados, vindos de além-mar para a nova pátria, atendiam as senhoras e senhoritas com toda distinção; era influência da belle époque que dominara Paris.
A Loja Paulista, de Alberto Lundgren & Cia. Ltda. Já existia; o Bar e Confeitaria Colombo era o ponto dos intelectuais e homens de negócios. A Loja América, do deputado José Lages, era o ponto dos políticos; a Casa Mercúria era especializada em molduras, estampas e espelhos. O Sr. Luiz de Carvalho era o dono da Tipografia Alagoana; surgia a Drogaria Campos, do farmacêutico Fernando Malta Campos. Um novo armazém – Faenda de Dietiker & Cia. fazia sua inauguração. A firma João Nogueira importava vinhos, licores, charque, queijos; Rosa da Costa & Cia. importava miudezas e perfumarias; Tércio Wanderley & Cia. exportava e importava estivas; Durval Guimarães possuía sua casa de ferragens e louças; a Casa Lages, anunciava suas camas de ferro fabricadas em máquinas a vapor; a Sapataria Brasil era do italiano Francisco Guerra; João Davino era importador de estivas em geral; a Casa Londres, de Elpídio Andrade, era especialista em artigos para homens. Muitas eram as chapelarias, como a de Cândido Ribeiro.
O pesquisador, lendo os velhos anúncios dos jornais e revistas da época, pode até fazer um livro sobre a Rua do Comércio. Lembrar-se do Bar Alemão, que anunciava possuir uma grande vitrola para deleitar os fregueses; o Grande Ponto que já foi o Produban, a Porta do Sol com suas tradicionais empadas, o Bar Elegante, o Café do Cupertino, lugar em que ficavam Graciliano Ramos e seu grupo. O interessante é que naqueles idos de trinta, o comércio era uma verdadeira Cinelândia. Existiam os cinemas Floriano, Odeon, Moderno e Capitólio. Foi neste último que, no dia 02 de abril de 1933, foi levado o filme Casamento é Negócio, produção da “Guadio-filme”, grande iniciativa do saudoso Guilherme Rogato, um herói que não pode ficar esquecido pelo que fez por Alagoas.
Os artistas de Casamento é Negócio foram Moacir Miranda, Luiz Girrard, Agnelo Fragoso, Armando Montenegro, Morena Mendonça e o inesquecível Major Bonifácio Magalhães da Silveira. O argumento do filme foi do poeta e contista Carlos Paurílio. O assunto era o drama do petróleo, tese perigosa que deu muita cadeia, como ocorreu com Monteiro Lobato.
Mas o destino das Alagoas é ser precursora de tantas coisas boas e úteis. E relembrar a velha Rua do Comércio é válido. É história para as novas gerações. É saudade também.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.