segunda-feira 23 de setembro de 2024

Dia 17 de Julho: recorte histórico mostra poder e queda de um oficial da PMAL

Fatos que marcaram a história de Alagoas

17 de julho de 2022 12:49 por Da Redação

Tensão na Praça Pedro II: servidores exigiam o impeachment do governador Suruagy | Reprodução

Quando os militares alagoanos se juntaram aos servidores públicos civis, reclamando 9 meses de salários atrasados, o movimento de protesto contra o governador Divaldo Suruagy se transformou numa insurreição. Na revolta final, no dia 17 de julho de 1997, mais de 10 mil pessoas reunidas na Praça Dom Pedro II, em Maceió, pediam o afastamento do governador, numa confusão generalizada que exigiu a convocação do Exército.

Neste domingo, 17, o episódio histórico completa 25 anos com fatos ainda desconhecidos da população.

Quebrado, com atraso de salários do funcionalismo, sucateamento dos serviços públicos e atraso nos pagamentos dos seus fornecedores, o estado sofria as conseqüências do chamado “acordo dos usineiros”, assinado em 1988, na época do Governo Collor, e do arrocho neoliberal da década de 1990.

Em 1994, Divaldo Suruagy foi eleito para o terceiro mandato, com 82% dos votos no primeiro turno, num bloco de aliança partidária que reuniu PSDB, PFL, PTB e PMDB. Mas, por conta das convulsões geradas pela situação do estado, cuja economia tinha profunda dependência da máquina estatal, Suruagy não soube enfrentar a insurreição que uniu servidores públicos, especialmente os policiais civis e militares.

Símbolo da criminalidade em Alagoas, na década de 1990, Manoel Francisco Cavalcante acabou na prisão

Um oficial no crime

Os fatos sobre o 17 de Julho vêm sendo contados e recontados ao longo dos últimos 25 anos.

Mas, ao falar do episódio que entrou para a história de Alagoas como o Dia 17 de Julho, pouco se destaca a participação de um personagem decisivo: o tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante. Dele, de seus irmãos e da gangue fardada.

A gangue fardada era um grupo criminoso formada por policiais e ex-policiais alagoanos, acusados de homicídios, assaltos e seqüestros por encomenda, extorsão de empresários, que atuava promovendo o completo desmonte da estrutura de segurança pública.

Conforme os processos judiciais pelos quais foi condenado, Manoel Cavalcante chefiava o bando.

Uma ameaça ao Estado, ao Poder Judiciário, ao Ministério Público e a diversos políticos, o ex-tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante simbolizava a criminalidade na década de 1990.

Com Alagoas em situação de terra arrasada, o crime campeava sobre o manto da impunidade imposta por Cavalcante que, na época, comandava cerca de 800 militares, em dois importantes batalhões da Polícia Militar (PMAL).

“O poder do tenente-coronel Cavalcante àquela altura, diante do processo de “intervenção branca” em Alagoas, é extraordinário: dispõe de dois comandos, o 6º Batalhão (Maragogi), que abrange 17 municípios, com mais de 400 militares, e o 7º Batalhão (Santana do Ipanema), com cerca de 400 militares. O contingente sob seu comando é de 800 militares, aproximadamente. A rede de influência articulada por Cavalcante interferia diretamente no poder local, nas prefeituras, no comércio, na indústria” – relata o historiador Geraldo de Majella, no livro “Maceió em Guerra”.

Ex-tenente-coronel sendo preso por militares da Força Nacional

 

O coronel e seus poderes

Encurralado no então Palácio Floriano Peixoto, ou Palácio dos Martírios, sede do governo, Divaldo Suruagy foi obrigado a se afastar do cargo, inicialmente por um pedido de licença. Em seu lugar assumiu o vice, Manoel Gomes de Barros.

Porém a situação de descontrole econômico e social do estado, já havia resultado em intervenção federal. A onda de crimes e a mobilização dos servidores públicos levaram a União a decidir pela intervenção do Exército e orientar as autoridades estaduais a destituírem o poder de Cavalcante e levá-lo à prisão.

Entretanto, a prisão do oficial esbarrou em entraves postos pelo comandante da Polícia Militar, coronel Juarez Weiss, que fora indicado para o cargo pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, como parte da intervenção do governo federal em Alagoas. Junto com Weiss, designado para o comando da PMAL, a intervenção incluiu ainda o general da reserva José Siqueira Silva, para dirigir a Secretaria de Segurança Pública (SSP), e o coronel do Exército Roberto Longo, para assumir a Secretaria da Fazenda.

Enquanto isso, Manoel Cavalcante seguia comandando a gang fardada, dominando o transporte alternativo por Vans, que era, na verdade, uma atividade clandestina. Seu poder político-eleitoral crescia, assustando os políticos e os empresários de transportes de passageiros.

A sanha criminosa da gang fardada levou partidos políticos de esquerda, PSB e PT, parlamentares, deputados e vereadores, dezenas de sindicatos e entidades dos movimentos sociais a pedir a intervenção do Exército na segurança pública de Alagoas.

Uma das primeiras estratégias para conter a criminalidade e reduzir o poder de Manoel Cavalcante na tropa, foi determinar a implantação do sistema de rodízio no comando dos batalhões militares. A medida foi descumprida pelo coronel Juariz Weiss, que nutria simpatia pelo tenente-coronel PM.

Prisão como desfecho

Ao contrário da determinação do governo, Juariz ampliou ainda mais a área de influência de Cavalcante, nomeando-o para o comando do 7º Batalhão, no Sertão, com sede em Santana do Ipanema. Ele também transferiu o major Adelmo Cavalcante, irmão do tenente-coronel, de União dos Palmares para sucedê-lo no 6º Batalhão, em Maragogi.

O poder do tenente-coronel estava acima de todos os limites. Tanto que, quando surgiram boatos de os servidores públicos em greve poderiam invadir o Palácio dos Martírios, ele foi designado para garantir a segurança pessoal do governador Divaldo Suruagy. Foi a ele a quem os coronéis Jorge Coutinho, Júnior e Angelo, os dois últimos do Gabinete Militar, pediram reforço para garantir a segurança do governador.

Mas a gangue fardada acabou desbaratada naquele mesmo julho de 1997. Uma grande operação das polícias Federal, Civil e Militar levou 32 pessoas à prisão, a maioria militares e ex-militares da PM de Alagoas.

Na operação foram recuperadas armas, munição, veículos roubados, documentos falsificados.

O fim mesmo do bando criminoso só veio em janeiro de 1999, quando mais de 100 homens saíram dos quartéis da PMAL para cumprir mandados de prisão contra o então tenente-coronel Manoel Francisco Cavalcante, e seus três irmãos, Adelmo, Ademar e Marcos Cavalcante, denunciados como chefes da gangue fardada.

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