domingo 24 de novembro de 2024

As condições no mercado de trabalho no Brasil e em Alagoas

4 de agosto de 2020 5:53 por Luciana Caetano

A economia brasileira vem enfrentando problemas desde 2015, quando a taxa de crescimento registrou retração de 3,6%, seguida por 3,3% em 2016, sem alcançar recuperação nos três anos seguintes. Em 2019, série ajustada a preços de 1995 (IBGE/Sistema de Contas Nacionais), o Produto Interno Bruto (PIB) fechou 3,2% abaixo do PIB de 2014, com taxa de desocupação de 11% frente a 6,5% em 2014. No 4º trimestre/2019, a taxa de desocupação da região Nordeste e no Estado de Alagoas fechou em 13,6%. Em junho, Brasil e Alagoas, registraram taxas de desocupação, de 13,1% e 15,3%, respectivamente.

No 4º trimestre/2019, o país registrou 11,6 milhões de desocupados e, de lá até 11/07/2020, contabilizou uma redução de mais 13,4 milhões postos de trabalho, dos quais, 3,5 milhões no Nordeste. No país, o número de pessoas ocupadas foi reduzido de 94,5 para 81,1 milhões, acompanhada da redução de massa salarial. No trimestre móvel nov-dez-jan/20, o IBGE registrou uma média mensal de massa salarial de R$ 247,3 bilhões. Em maio/20, esse volume havia caído para R$ 157 bilhões e em junho/20, R$ 159 bilhões. A diferença entre aquele trimestre móvel e o mês de junho corresponde a R$ 88 bilhões, portanto, muito abaixo dos R$ 27,3 bilhões pagos a título de auxílio emergencial.

Fonte: IBGE/PNAD Covid-19 e PNAD Contínua trimestral. Elaboração própria.

Vale ressaltar que a taxa de desocupação publicada pelo IBGE não inclui o desemprego por desalento. A taxa composta de subutilização da força de trabalho, em maio/20, foi de 27,5% e pode ter ultrapassado 30% em junho, no Brasil. Em Alagoas, essa mesma taxa correspondia a 38% no primeiro trimestre/20, podendo ter ultrapassado 40% durante a pandemia. Ademais, a renda média efetivamente recebida por trabalhadores do Estado de Alagoas (R$ 1.348,0) correspondeu a 56,2% da renda média auferida por trabalhadores do Estado de São de Paulo (R$ 2.396,0), no mês de junho/2020, diferença se mantém há décadas.

No Brasil, em maio/20, 9,7 milhões de pessoas foram afastas sem remuneração e outras tiveram redução do rendimento médio mensal, mediante acordo com o empregador, seguido de redução de jornada de trabalho, graças à MP 936/2020.

Pela PNAD Contínua trimestral, entre o 4º trimestre/2019 e o 1º de 2020, o número de desocupados no Estado de Alagoas passou de 159 mil para 199 mil, enquanto Maceió aumentou de 50 mil para 62 mil, sem contabilizar os efeitos da pandemia, acentuados em abril e maio. Pelo percentual de famílias com acesso ao auxílio emergencial nas unidades federativas, é possível inferir que os estados nordestinos enfrentam maiores dificuldades para lidar com os efeitos da Covid-19 e maior dependência ao referido benefício assistencial. Enquanto 43% dos domicílios brasileiros receberam auxílio emergencial, nas unidades federativas do Nordeste esse percentual ficou acima de 55%. Em Alagoas, ultrapassou 60% enquanto em Santa Catarina ficou abaixo de 24%, conforme tabela abaixo, reafirmando o abismo que separa o Nordeste do eixo Centro-Sul.

Domicílios com acesso ao auxílio emergencial em junho/2020, UFs selecionadas.

Fonte: PNAD Covid-19.

A condição da população residente na capital é mais confortável que a média do Estado de Alagoas, especialmente nos bairros da orla marítima, concentrador da parcela da classe trabalhadora com rendimento médio mais elevado. Todavia, até mesmo nesses bairros, é possível notar que a desigualdade social salta aos olhos, denunciada pela extrema pobreza que ocupa ruas e calçadas em busca de sobrevivência. A fotografia que se vê diariamente revela a insuficiência do Estado e de seus municípios na oferta de uma infraestrutura urbana que assegure aos mais vulneráveis o que está inscrito na Constituição Federal de 1988. Recompor a economia nacional não será fácil, posto que 2020 deve registrar PIB negativo acima de 5%, porém, para as unidades federativas Consórcio Nordeste, o desafio é muito maior. Ou o Nordeste constrói uma boa articulação política para resolver suas fragilidades de estrutura produtiva ou a redução da desigualdade regional e social jamais será superada.

Luciana Caetano é Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da UFAL e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Dimensões e Dinâmica do Mundo do Trabalho (GDIMT).

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