segunda-feira 25 de novembro de 2024

O outro lado das moedas

22 de outubro de 2021 9:41 por Mácleim Carneiro

Imagem: Divulgação

Certa vez, o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet escreveu: “Não pretendo enunciar a verdade única e definitiva, nem procuro fazê-lo. Quero somente é provocar a gente, quero levantar problemas, fazer com que meus leitores tomem consciência de certos problemas e passem a refletir a respeito.” Acho seu escrito bastante apropriado, como prólogo, para o que pretendo rabiscar aqui. Uma vez que o que trago para reflexão são algumas perguntas e questionamentos básicos, que foram deixados ao léu, sabe-se lá porque e por quem, os quais, suponho, nunca foram postos à mesa em que se assentavam e comungavam, fraternalmente, o Sindicato dos Jornalistas do Estado de Alagoas (Sindjornal) e a Braskem.

A título de contextualização: a Braskem S.A. patrocina alguns prêmios no Brasil e até em outros países. Porém, todos no âmbito cultural. Então, cabe aqui a primeira pergunta: por que Alagoas era o único Estado em que a Braskem patrocinava um prêmio jornalístico, e nunca deu a mínima para quem propunha patrocínio para projetos culturais? Seria mérito exclusivo do Sindjornal? Ou será que o silêncio velado interessava em especial a uma indústria que, em Alagoas, tem muito mais a esconder do que revelar? Sim, porque basta uma simples pesquisa na Web, para sabermos que, das 31 unidades espalhadas pelo Brasil, é aqui, no nosso aquário, que a Braskem tem ou tinha a unidade mais problemática em termos de localização e reincidência de acidentes. Portanto, o tal prêmio – a expensas de um ladino e velado cala-boca – era mesmo uma verdadeira pechincha, para uma empresa do porte da Braskem, cujos tentáculos chegam a países como os Estados Unidos, México, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Holanda e Cingapura.

Nada Escrito Ou Cochichado

Ainda bem que existem as exceções, pois detesto generalizar. Contudo, quantos jornalistas, de olho no prêmio ou não, fariam reportagens investigativas, reveladoras e consistentes, sobre os acidentes acontecidos na Braskem ou o que estava acontecendo em suas minas e que só agora todos sabemos a extensão do estrago e do drama social? Eis uma pergunta de resposta precária, pois basta o leitor acessar a maioria dos sites noticiosos da Web, e dos periódicos Alagoanos, para perceber que a cobertura sempre foi pífia, sobre os acidentes que aconteciam na unidade do Pontal da Barra. Quando muito, se limitavam à versão emitida pelos comunicados da própria empresa.

Posso estar enganado, mas a exceção para tamanha leniência foi uma única matéria, feita pelo jornalista José Roberto Miranda, para o semanário A Semana, mostrando como estavam desassistidas as vítimas da explosão em um dos acidentes, e quais eram de fato as políticas de segurança da empresa. Nada mais foi dito, escrito ou cochichado. Afinal, quantos arriscariam serem barrados no “Oscar” do jornalismo alagoano? E se uma ovelha desgarrada resolvesse encarar, será que tal matéria concorreria em pé de igualdade com as demais? Ou ainda, será que, sequer, poderia ser inscrita no Prêmio? É evidente que os promotores e patrocinadores do tal Prêmio poderiam argumentar que não existia qualquer clausula no edital que proibisse matérias adversas à Braskem. Claro, precisaria? Dariam um tiro no pé dessa magnitude? Quem aceita a alienação em relação ao patrocinador já aceitou as regras do jogo! E isso é um direito inquestionável, posto que de foro íntimo. Não cabe aqui fazer qualquer juízo de valor nem gostaria de fazê-lo, cada um sabe onde o calo aperta.

Epílogo

Ao iniciar este escrito com um prólogo, que considerei apropriado, a lógica pede um epílogo também no mesmo tom. Para tanto, fui encontrá-lo no Portal Terra de Notícias, postado no dia 23 de maio de 2011, às 20:55h, por alguém que assinou como Paulo – Triunfo- RS, e fez o seguinte comentário sobre o acidente na unidade da Braskem de Maceió, naquele ano. Transcrevo, abaixo, ipsis litteris.

“Isto se chama somente uma coisa, ganância, esta empresa quer ser a primeira no mundo. Primeira em mutilar trabalhadores, primeira em contaminar o meio ambiente.

Foi comprando tudo que vem pela frente, onde está o tal de CADE?

É a Odebrecht acima de tudo.”

Imagino o que ele não diria sobre o que está acontecendo agora, essa tragédia provocada pela irresponsabilidade dessa empresa e de tantos cumplices sob seus auspícios.

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

 

 

 

 

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