4 de dezembro de 2021 7:25 por Geraldo de Majella
O crepúsculo todos os dias é inexorável. Ao passo que o sol vai se escondendo, magistralmente vem despontando a lua − senhora da noite e dama indispensável do amor. Mas naquela tarde de maio o samba era o senhor dos corações e aspergia alegria, contagiando a todos que estavam no salão, tanto os que dançavam quanto os que, sentados às mesas, bebiam, conversavam e namoravam.
Ao sair de casa, Romualdo pensou alto: “Vou em busca de uma namorada”. Talvez ficando plantado num local onde tivesse uma visão panorâmica do salão, por certo, lhe deixaria uma visão do alvo a ser escolhido. A batida do surdo era para ele o som que vinha do coração. A dupla de cantores interpretava músicas consagradas, e todos no salão, em uníssono, cantavam ou cantarolavam, o que só fazia crescer o clima de animação e alegria.
O Oráculo, faz tempo, se tornou um palco referencial para os sambistas e para os que curtem samba em Maceió. O clima de alegria é propicio para se dançar e também, quem sabe, para iniciar um namoro. Foi numa tarde de sábado, não sabe precisar, que Romualdo avistou uma bela mulher, na faixa dos cinquenta anos, que lhe chamou a atenção: dançava animadíssima, sorridente; ficou olhando, acompanhando os seus movimentos, mas feito um raio em dia de céu aberto, sumiu e não mais se avistou a bela mulher no salão. Procurou por todos os cantos, se pois a andar, mesa por mesa, olhando atentamente. Perdeu-a de vista.
Qual não foi a surpresa, no fundo do salão, a encontrou sentada, tomando água de coco, conversando animadamente com as amigas. Postando-se a meia distancia, novamente acompanhando os seus passos. O que restava fazer era esperar a oportunidade para abordá-la.
A mulher ansiada tinha traços fisionômicos semelhantes aos de uma outra pessoa que não conseguia identificar com clareza. Será que realmente a conhecia? Será que ela é uma médica que trabalha numa casa de saúde onde faço exames regulares? Tudo ia ficando confuso, e a memória não ajudava. Chegou a pensar que a memória trabalha contra, pois quando mais necessita, como nesse momento, ela não é precisa, clara. Deixa-lhe com mais dúvidas.
Romualdo resmunga, e diz: “Nada nessa hora pode me atrapalhar”. O que estava se desenhando em sua cabeça era encontrar um meio rápido para sentar àquela mesa com tantas mulheres bonitas e alegres. E entre elas a que lhe chamou a atenção, a que passou a ser desejada.
Os requebros, as pernas torneadas, olhar sensual, silhueta definida pelo vestido jeans azul, tudo enfim é motivo para fantasiar; e ela, leve, calma, risonha, não imaginava que houvesse olhos tão atentos e virados em sua direção.
Sumiu no meio da multidão. Foi embora para casa, saindo à francesa. Mas nada como a sorte: havia uma amiga comum que o socorreu, ao ser indagada sobre quem era e qual o nome da amiga. Os contatos foram feitos, números de telefones foram passados, e em poucos dias aconteceu o melhor: o encontro ansiado num restaurante.
A mulher até então desconhecida e que sambava passou a ser a senhora do coração de Romualdo.
Daí em diante a vida tem sido puro amor.
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