Por Luiz Nassif, do Jornal GGN
Nos anos 90, em vários momentos, com o país praticamente sem reservas cambiais, o Banco Central segurou as ondas especulativas com o dólar. Na mesa de pôquer do mercado, o BC é o único jogador que sabe as cartas de cada um. Com pouquíssimos recursos – e com um operador admirável, Emílio Garofalo – conseguia segurar a horda de especuladores que assaltava o país.
Ontem e hoje, dispondo de todas as informações, e com 350 bilhões de dólares em reservas cambiais, o BC assistiu impassível o jogo previsível de especulação, que deixou o país no corner.
Ex-operador do mercado, professor de Economia, Manfred Back viu assim o movimento do dólar antes da fala de Fernando Haddad, e hoje, após a fala.
Constata ele que o pacote nada tem de extraordinário. O dado extraordinário é a ingenuidade da área econômica em tratar com o mercado.
“Bravata com juros e o mercado financeiro, só xingamento de arquibancada, de prático, o que fez para regular e combater a especulação? Nada! Pergunto: o Brasil tem autoridade monetária? Se tem onde está? Deixou os caras daqui soltos, armaram um corner via mercado futuro, jogaram os ingênuos contra a parede.
A turma aqui vive na macro da banca de tcc, continua ele, menospreza a capacidade e poder do mercado financeiro. Ontem subiu juros e câmbio,e agora de manhã idem… onde vão explicar? Com os manuais?”
O mercado veio montando posição no futuro há quase dois meses, sem ser incomodado, parte do dinheiro de brasileiros no exterior, entrando via fundos pelos Anexos 4 e 5. Pior: tudo controlado pelo Banco Central
Ontem, às 13 horas, quando estava tudo calmo, o JP Morgan deu o apito de cachorro: vendam o Brasil! Mas o BC de Roberto Campos Neto e a área econômica ainda estão presos aos anos 90, período de ataques especulativos de efeito dominó – com o câmbio sendo influenciado pela saída de dólares.
Agora, todo o movimento do câmbio se dá sem saída de dólares. O mercado financeiro destrói qualquer modelo e teoria, continua ele, planeja um ataque especulativo silencioso… E o BC de Campos Neto só fala em pix.
O BC deveria ter entrado, feito leilão de swap, exigindo depósito à vista para operar dólar futuro. Essa estratégia já foi adotada antes, quando havia autoridade monetária, obrigando os especuladores a zerar contratos e a ter prejuízos, reduzindo a volatilidade.
Mas nada foi feito. E a ignorância geral reduz tudo a um problema de comunicação, jogando o erro para cima do governo – não das jogadas de mercado. O erro do governo foi não existir autoridade monetária.