10 de julho de 2020 8:19 por Redação
Nivaldo Mota*
Neste ano, precisamente no dia 12 de julho, marcará os 39 anos de uma partida épica, entre ASA X CRB, decidindo o primeiro turno do Campeonato Alagoano.
Os torcedores mais novos, evidentemente, muitos ou quase na totalidade, ficam surpresos com os números que mostramos vez por outra aqui no blog, quando comentamos, em um resgate histórico, acontecimentos de um futebol mais jogado, que levava mais torcedores aos estádios.
O campeonato de 1981, ganho pelo CSA, aliás, o ‘Azulão do Mutange’ se sagraria bicampeão naquele ano, começou em 24 de maio e terminou no dia 22 de novembro – foram quase seis meses de competição. Mas, vamos falar do jogo. Por que foi épico?
Em primeiro lugar, depois do ressurgimento do ASA, em 1977 (o time arapiraquense tinha parado com o futebol entre 1976 e 1977), porque o estádio Coaracy da Mata Fonseca, ou o Municipal, estava em reforma, e também por problemas financeiros, tanto que mudou o seu nome de Associação para Agremiação.
Bom, depois de várias tentativas frustradas para chegar uma final de campeonato, ou que fosse de um turno sequer, o ASA, enfim, chegava numa final de turno contra o CRB. Antes do jogo final, o ASA, na fase preliminar do turno, obteve os seguintes resultados: ASA 2 X 0 Penedense; São Domingos 1 X 1 ASA; ASA 2 X 1 CSA; Capelense 1 X 2 ASA; ASA 4 X 0 Ferroviário; ASA 0 X 0 CRB (renda de Cr$ 1.541.400,00; público de 13.751 pagantes); ASA 2 X 0 CSE. No quadrangular decisivo, ASA 0 X 0 CSA; ASA 2 X 1 Penedense.
Já o CRB, que tinha perdido o pentacampeonato no ano anterior, para o seu maior rival, começou a competição por baixo e, surpreendentemente, chegou à grande final do primeiro turno, com estes resultados: CRB 5 X 1 São Domingos; Ferroviário 0 x 0 CRB; CRB 2 X 0 Penedense; CRB 3 X 0 Capelense; CSE 1 X 3 CRB; ASA 0 X 0 CRB; CSA 1 X 1 CRB (Renda de Cr$ 1.816.600,00; público pagante de 17.916.). No quadrangular, CRB 1 X 0 Penedense; CRB 4 X 1 CSA (renda de Cr$ 2.157.050,00; público pagante de 18.481 torcedores).
Arapiraca registrou seu maior público até hoje no estádio Municipal
Estava pronta a festa, o jogão daquele domingo seria fantástico, a primeira vez que o ASA disputaria uma final em sua nova fase, embalados por uma campanha ufanista, só que se esqueceu de combinar com o CRB.
Aliás, a festa foi de um colorido jamais visto, o público pagante é recorde até hoje em Arapiraca, mais de 18 mil no estádio Municipal. Por baixo, tinha entre cinco ou seis mil regatianos, o então governador de Alagoas Guilherme Palmeira, e o senador Divaldo Suruagy, que era conselheiro do clube, conseguiu a liberação de vários ônibus da Progresso, da família Monteiro (falam em mais de cem, não se sabe ao certo, mas de foi de graça a viagem) levaram um monte de gente da capital para Arapiraca.
Fora os carros de passeio, a desfilar com enormes bandeiras alvirrubras, uma multidão começou a chegar para a grande final. Das regiões vizinhas a Arapiraca, sítios e cidades, caminhonetas D-10 ou D-20, meios-caminhões, chegavam a toda hora entupidos de gente.
Vou traçar um paralelo aqui, mas era como se fosse aquela final da Copa de 1950 entre Brasil e Uruguai, nos corações e mentes, era a mesma paixão ali colocada. Eu, com os meus 16 anos, torcedor do CRB, morando em Arapiraca, fui para o estádio às 12h30, e os portões já estavam abertos.
Final de jogo: festa alvirrubra
O Municipal, naquela época, tinha aquele lance de arquibancadas de cimento, aquele pedacinho acima, onde ficam as cabines de rádio e TV. Do lado oposto, ficavam as arquibancadas metálicas, instaladas desde 1979. Atrás dos gols, onde ficam hoje as torcidas visitantes, era a geral, todo mundo em pé, no barro vermelho mesmo!
Do outro lado, o da entrada, fizeram para este jogo uma arquibancada de madeira, com uns seis lances e mais ou menos uns 50 metros, o restante era em pé mesmo.
Neste setor, ficou a torcida do CRB. Naquela época, não havia essa coisa que há hoje, tantos ingressos para mandante e visitante, era chegar e comprar, não havia essa questão de segurança que há hoje, a capacidade do estádio era topar nos muros.
Mas, e o jogo? O CRB venceu, 2 X 1, com gols de Almir aos 13 do 1º tempo e Américo aos 24 do 2º. Valmir descontou para o ASA, aos 31 do 1º tempo. Quem apitou foi o juiz Leandro Serpa, do Rio Grande do Sul. ASA jogou com, Jurandir; Toninho, Eliberto, Raimundo e Paulo Silva (Cabral); Deco, Zé Carlos, Luís Carlos (Reinaldo); Marcos Itabaiana, Gilmar e Valmir. Técnico: Alencar.
CRB: Adeildo; Cícero Besouro (Galba), Paulinho Carimbó, Marcos Careta e Hamilton; Sabará, Mundinho e Edu; Américo, Enéias (Israel) e Almir.
Renda de Cr$ 2.159.000,00; público pagante de 18.481 torcedores.
Arapiraca teve noite de ‘tristeza sem fim’
Neste jogo, o CRB decretou o Municipalazo, a cidade de Arapiraca a noite se trancou em si mesma, não havia ninguém nas ruas. Fui à noite para a casa da namorada, uma acolhida naquela noite que parecia um funeral de um ente querido, tristeza sem fim!
Meu pai, azulino, ficou possesso comigo, tinha desrespeitado uma ordem sua não levar uma bandeira do CRB, que havia ganhado do irmão mais velho, em 1972. Não só levei como a desfraldei na rua, depois do título, voltando para a casa.
Interessante e que marcou este dia, as enormes buzinas da torcida do CRB, as suas charangas tocando frevos, a vibração no segundo gol do Galo do repórter da Rádio Gazeta, o João Malta, um pulo espetacular no gol do Américo.
Aquele mar vermelho, bandeiras tremulando, alvinegras e alvirrubras, quem esqueceria uma coisa assim, eu jamais esquecerei este jogo, valeu a pena ter vivido aqueles momentos mágicos do futebol!
Só para esclarecer, de 1973 a 1981 morei em Arapiraca, a família toda se mudou para lá, acompanhando o velho Nivaldo em seu novo trabalho.
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*É historiador e professor
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