sábado 23 de novembro de 2024

Em família

Dizem que família é boa em retrato, em porta retrato, em particular discordo, ela é linda e prazerosa não só como recordação e lembrança.

26 de agosto de 2021 9:52 por Eleonora Duse Leite

Numa rua abençoada e tranquila e de pouquíssimos moradores, assim fui criada. Minha casa de fachada de arquitetura prezada foi o berço de meus avós, pais e nosso. Casa de muitas janelas e só de uma porta, por ali se entrava e saia para que todos soubessem do nosso itinerário. Salas amplas, vários cômodos, corredores distantes, quintal imenso. Ali fui criada e me fiz feliz.

Dizem que família é boa em retrato, em porta retrato, em particular discordo, ela é linda e prazerosa não só como recordação e lembrança, mas reunida no dia a dia é outra história.

Sempre fui uma pessoa abençoada, nasci, cresci numa família protetora e iluminada. Irmãos companheiros e amigos. Duas famílias que se encontraram, Pontes e Leite sempre dedicadas, tradicionais na cidade na área cultural e educacional.

Casa grande, quintal coletivo onde fazíamos o nosso maior encontro, a brincadeira. Meus primos em idades próximas eram companheiros inseparáveis. Jacy, Tatiana, Sheyla, Fabiana, Alexandre, André, Ricardo, além de Alfredinho e Claudinha, do lado dos Pontes, um time só. Comungávamos todos do mesmo quintal. Tínhamos um pé de sapoti, fruta pão e sapota, frondosas, um guarda chuva natural fosse dia de sol ou de chuva.

Recordar minha infância, das facilidades, das brincadeiras eternas, do tudo que se fazia sem preocupação do tempo, da hora, é simplesmente calmante. Não havia celular, não se pensava em whatsapp, Facebook ou Instagram, nossos jogos eram tudo que tínhamos ao redor. Amigos eram reais e não virtuais e os nossos momentos e sentimentos eram do agora. Era outro estágio, estado de completa entrega, animação e gratidão por tudo. Era correr atrás da bola, pega pega, cabra cega, queimado, tesouro, e bem antes a roda, “ atirar o pau no gato” … Mas o gato nunca morria. Era uma felicidade só. Brincávamos, brigávamos, brincávamos e assim passava o dia, mas no final de tudo estávamos sempre de pazes. Éramos crianças, e felizes.

O tempo foi . O tempo passou tão rápido nos tornamos adolescentes, adultos mas não nos deixamos. Estávamos sempre presentes um na vida do outro. Casamos, tomamos novos rumos, a família cresceu, e mesmo assim, o amor e a amizade permaneceu como outrora. Estudamos na mesma escola boa parte do tempo, fizemos teatro, participamos de coral, pastoril e grêmio artístico familiar. Era só nós, não precisava de mais ninguém. Um por todos e todos por um. Quisera eu que os nossos filhos tivessem passado pela experiência, pelas brincadeiras de infância…

Mas, em alguns momentos ficamos tristes. Perdemos Gustavo, irmão querido, um espírito sublime, companheiro inseparável, sensível ao extremo, uma luz em nosso caminho. Como esquecê-lo? Ser amado, criativo e profundamente merecedor do nosso bem querer. Diretor das nossas peças de teatro de todos os domingos em nossa casa, onde a platéia eram os sempre presentes evangélicos da igreja da vizinhança. Como nossas brincadeiras eram educativas e emocionantes. Ele nos deixou, mas conosco ficou um leque de aprendizado de coisas boas.

Com tudo isso posso garantir que tivemos uma infância saudável. Agradeço sempre por ter tido a oportunidade de ter seres tão especiais e melhores no meu crescimento, como gente e ser humano. Melhores não teria, porque melhores eles são. Aplausos para vocês hoje e sempre.

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1 Comentário

  • Lindo e emocionante texto Eleonora. Parabéns!

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