4 de março de 2022 4:43 por Mácleim Carneiro
Provavelmente, em tempos normais, a pergunta que você mais ouviria seria essa: E aí, como foi seu carnaval? Contudo, com a pandemia ainda em voga, desconfio que não tenha sido bem assim. Porém, tudo isso passa, outras festanças vão acontecer (São João, por exemplo) e serão a bola da vez. Digo isso, porque quando alguém me fazia tal pergunta, em outros carnavais, demandava um certo esforço respondê-la com a mais absoluta verdade: Foi melancólico, reflexivo e abstêmio o meu carnaval. Enfim, basicamente, o que o mais introspectivo dos meus eus havia planejado, por mais anacrônico que isso possa parecer.
Lembro-me, que certa vez, tolamente, tentei isolamento no meio da balbúrdia. Fui para um condomínio onde pululavam à minha volta, noite e dia, fruídos do carnaval em sons e imagens. Ao fechar as portas do meu espírito carnavalesco, a melancolia foi mais rápida, entrou por uma fresta e instalou-se confortavelmente. Assim, meu carnaval foi melancólico o bastante para que eu não pudesse esquecer de mim!
Alegria Induzida
Foi reflexivo, porque, em plena segunda-feira de carnaval, percebi o quanto a modernidade prática foi fundamentalmente providencial. O que seria de mim se esta modernidade não estivesse ao meu alcance e eu, através de uma simples combinação entre uma lasanha pré-fabricada e um microondas programável, não pudesse saciar uma fome específica, resolver deliciosamente um problema e, após uma nova condição de saciedade, retornar à minha leitura, que era a única coisa capaz de amenizar a tal melancolia usurpando-me bem antes de qualquer quarta-feira ingrata.
Finalmente, aquele carnaval foi abstêmio, pois eu queria a possibilidade de, a partir do distanciamento prático e crítico, observar o efeito (as vezes alegórico, outras tantas ridículo) da alegria induzida. Tenho a impressão de que o carnaval acontece sempre de fora para dentro das pessoas. Elas, ou não sabem disso ou se sabem preferem assim e, assim sendo, parecem satisfeitas com tal premissa. Portanto, se assim o é, pois que assim se baste, e tudo bem! Logo, observar o arremedo do arremedo de qualquer coisa, que os foliões faziam sem o menor pudor, foi, sem dúvida, apenas o confirmatório da racionalidade humana e sua carência de válvulas de escape.
Jogo da Poesia
Antes que alguém tenha dó de mim e comece a pensar, por exemplo, como uma pessoa podia ser tão tola deliberadamente? Esclareço: eu também tive bons momentos naquele carnaval. Um deles, quando fora da modernidade e dentro do que eu não sei recebi a visita de alguns amigos, amigas e seus filhos maravilhosos. Além do prazer de tê-los comigo (o que gerou uma pausa necessária à minha solidão), eles me ensinaram o jogo da poesia e, em pleno carnaval, embora volta e meia encurralados pelo barulho ensurdecedor dos carros aloprados e suas músicas pegajosas, estávamos lá, brincando de fazer poesia. De tão simples, a brincadeira pareceu-me genial. Consistia na proposição de um tema e, daí, cada um dos participantes desenvolvia uma estrofe, a partir ou não do que havia escrito o primeiro. O resultado, na maioria das vezes, era bastante interessante. Pelo menos, na minha ótica leiga, quase sempre poderia ser rotulado de poesia. Guardei todos os escritos, pois, talvez, poesia seja o melhor dos carnavais!
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!!
1 Comentário
Tarefa inglória, pra não dizer indigesta, misturar carnaval com melancolia. Semelhante a conhecida emulsão de água e óleo. A alegria ė o fermento carnavalesco mais evidente. Mesmo as “paradas” tristes de raros enredos musicais, evocam sutis alegrias, nos recônditos da alma foliå. Tristeza, apenas, nos acordes de “Quarta feira ingrata”, quando o dia amanhece e obriga o frevo acabar!