sexta-feira 22 de novembro de 2024

1+1 = 11

28 de março de 2022 11:11 por Mácleim Carneiro

Imagem: Reprodução

Sou daqueles que acham essa somatória, do título acima, simplesmente possível. Ou seja, um mais um pode ser igual a onze! Sobretudo, quando se trata da união, da soma, entre um bom compositor e uma intérprete que caiu como uma luva para suas canções. Esse é o caso do álbum “Canções de Amores Paulistas”, lançado em dezembro do ano passado, que reúne a grande Alaíde Costa, interpretando canções do cantor, compositor e violonista paulistano Eduardo Santhana.

Aliás, essa soma se estende à formatação desse álbum, com uma formação tradicional, para uma cama instrumental privilegiada, onde músicos do naipe de Duda Neves (bateria), Sylvio Mazzucca Jr (contrabaixo), Michel Freidenson (piano e teclados) e o próprio Eduardo Santhana, ao violão, fazem o adequado núcleo instrumental do álbum, que também conta com Adriana Holtz (violoncelo), Lulinha Alencar (acordeon) e Teco Cardoso (flautas e sax soprano). A direção artística ficou a cargo de Eduardo Santhana, com Michel Freidenson assinando os arranjos e a produção musical.

Antes de comentários mais específicos sobre o álbum, sobretudo para os que não são da minha geração, vale contextualizar um pouco sobre a trajetória dos dois protagonistas desse trabalho. Eduardo Santhana foi revelado na década de 1990, como integrante do grupo Trovadores Urbanos e tem uma discografia considerável, com sete álbuns solo. Somando-se a outros álbuns que têm a sua participação, ‘Canções de Amores Paulistas’ é o 20º álbum da carreira fonográfica do artista. Como foi citado, Santhana integra o grupo Trovadores Urbanos desde os anos 1990, e com eles gravou vários CDs e DVDs. Certamente, tem como destaque em sua trajetória o DVD “Eduardo Santhana – Voz e Pianos”, com a participação dos pianistas Amilton Godoy, Benjamim Taubkin, Hermeto Pascoal, Ivan Lins, João Carlos Martins, João Donato, Jane Duboc, Leila Pinheiro e Zé Miguel Wisnik.

Atmosfera Linear

Reza a lenda que, quando morava no Méier, zona norte do Rio, ela recebeu um recado de um tal de João Gilberto, que queria a sua participação no movimento musical, do qual ele seria o seu maior ícone! Por isso que a carioca Alaíde Costa foi uma das primeiras expoentes da bossa nova, com seu canto intimista e sua voz quente, de sensibilidade musical equilibrada e harmônica. Aliás, engana-se quem acha que a bossa nova se limitava à Zona Sul, como alguns meios de comunicação elitistas insistem em afirmar até hoje. Portanto, Alaíde Costa já surgiu moderna e, de lá pra cá, quando do lançamento do álbum “Canções de Amores Paulistas”, ela comemorava invejáveis 86 anos de idade, de álbum novo e em grande forma vocal.

A bem da verdade, apesar do que enuncia o título ‘Canções de Amores Paulistas’, este não é um álbum de caráter regionalista, posto que traduz diversos universos criativos de um compositor e seus parceiros de viagem musical, como enfatiza o subtítulo ‘Alaíde Costa Canta Eduardo Santhana’.  Trata-se de um álbum que nos envolve em uma atmosfera linear, aclimatado pelo canto aconchegante de Alaíde Costa. No encarte do CD, tem um admirável texto, escrito pelo Hermínio Belo de Carvalho, que seria imperdoável não transcrever aqui alguns trechos, para que os contumazes 14 leitores, da coluna Depois do Play, tenham uma noção, primeiro, de como se escreve um belo texto, e, depois, de como a verdadeira e substanciosa música e seus interpretes são capazes de alcançar o que de sublime há na alma humana!

Estado de Contrição

O Hermínio escreveu: “A voz que ouço agora tem a mesma temperatura da terra quando sobre ela deságua uma chuva espessa – e a terra reage, respira, transpira, ganha aroma – e é assim que sinto Alaíde Costa quando a ouço cantar. A chuva e a terra a que me refiro metaforicamente, são as belíssimas canções que Eduardo Santhana e seus parceiros entregaram para que ela, Alaíde, as abrigue e agasalhe em sua voz. Esse disco a abastece suficientemente daquilo que mais precisa: uma generosa e iluminante paleta sonora com versos ora em branco-e-preto, ora um arco-íris, depois em sépia – uma gama de nuances num trabalho que é para ser ouvido em estado de contrição – que nem estivéssemos sob o adro de uma igreja barroca construída há muitos séculos. O bruxo Eduardo Santhana é o artesão desse trabalho que vem encharcado de emoção e beleza. Feliz o compositor que, igual a Eduardo Santhana, tem o privilégio de contar com a voz fervente e ao mesmo tempo chuvosa de Alaíde Costa e dos ótimos músicos que a acompanham.”

Depois desse resumo poético, sobre a essência do que é o álbum “Canções de Amores Paulistas”, só me resta pontuar que as 13 canções, desse magnífico trabalho, desaguam no final em ‘Alaíde, Alaúde’ (Eduardo Santhana), cujos versos escritos pelo compositor, para a sua intérprete, fazem jus e dão pleno sentido à qualidade do canto de Alaíde Costa: “Voz do sentimento / Dama da canção / Alaíde, alaúde / Toca o coração”. Os deuses apolíneos concederam-me a sorte de fruir esse trabalho e, certamente, serão da mesma forma benevolentes e gentis com você, meu querido leitor, que sabe o poder inebriante que tem uma obra de arte bem acabada!

SERVIÇO

Canções de Amores Paulistas, Eduardo Santhana

Disco físico: à venda pelo e-mail   eduardosanthana@uol.com.br

Preço: R$ 30,00

Plataformas digitais: Spotify, Apple, Deezer, YouTube …

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

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