quarta-feira 11 de dezembro de 2024

Como a Braskem garantiu a reeleição de JHC

JHC se beneficia de uma espécie de "salvo-conduto", garantido pelos acordos firmados com os Ministérios Públicos e a Defensoria Pública da União (DPU)

7 de outubro de 2024 11:24 por Da Redação

Mykesio Max / Comunicação MST

 

A reeleição do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (JHC), do PL, no primeiro turno, com 83,25% dos votos válidos, não surpreende. Afinal, a campanha transcorreu sem que houvesse disputa política ou ideológica relevante. O prefeito manteve-se na liderança do início ao final do pleito.

Agora, comandará a direita e a extrema-direita em Alagoas. Esse é o fato novo que emerge das urnas.

Há dois fatores que a oposição, de modo geral, subestimou. O primeiro, para facilitar o raciocínio, é que JHC é um político da geração digital, enquanto seus opositores são da era analógica.

O segundo diz respeito a negociação direta que ele realizou com a Braskem. Sem que a sociedade, especialmente as 60 mil vítimas diretas dos crimes ambientais da mineradora, tivesse conhecimento, a prefeitura recebeu R$ 1,7 bilhão.

Esses dois fatores desequilibraram a disputa eleitoral em Maceió.

A combinação do domínio das redes sociais com os cofres da prefeitura cheios e a ausência de oposição consistente, permitiu a JHC dominar completamente o cenário político em Maceió. O uso estratégico do marketing digital, o populismo religioso e o controle sobre a Câmara de Vereadores o elevou a condição de “soberano” administrador “instagramável”.

A confortável posição nas pesquisas de opinião lhe deu liberdade para escolher um vice de sua conveniência: o senador Rodrigo Cunha. Com a renúncia de Cunha ao mandato, sua cadeira no Senado será ocupada por Eudócia Caldas, mãe de JHC, que terá dois anos como senadora.

O deputado federal Arthur Lira tentou emplacar sua prima, Jó Pereira, como vice, mas sem sucesso. Nos bastidores, discutia-se que o primeiro nome indicado por Lira seria o de Davi Davino Filho, mas isso não passou de especulação.

Os aliados foram rendidos e concordaram com a imposição do prefeito. Nenhum dos aliados tem hoje a sua estatura político-eleitoral para confrontá-lo.

Aliança eleitoral e empresarial

A aliança política que garantiu a vitória de JHC nas urnas, formalizada por diversos partidos, é fruto de acordos que viabilizaram as chapas de vereadores. Essa engenharia eleitoral consolidou a base que o sustenta politicamente.

No entanto, o que de fato estabilizou a gestão foi o acordo político-econômico firmado entre o prefeito e a Braskem.

Em 2020, durante a campanha eleitoral, JHC se apresentou como opositor da Braskem. Mas, bastou ser eleito, mudou de postura – algo previsível para quem o conhece na atividade política. O objetivo dessa estratégia eleitoral era tão somente conquistar a simpatia e os votos das 60 mil vítimas dos crimes ambientais perpetrados pela empresa.

Band News

Os acordos assinados entre o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual, a Defensoria Pública da União (DPU), a Braskem e a prefeitura de Maceió proporcionaram segurança jurídica tanto para a mineradora quanto para o prefeito.

Assim, ambos puderam executar em parceria seus planos.

O que ficou definido nos acordos, a título de compensação pelos danos causados à cidade pela Braskem, são dezenas de obras que estão sendo executadas pela mineradora sob o olhar da prefeitura.

É mais um acréscimo ao capital político de JHC.

Nos próximos quatro anos, o prefeito de Maceió contará com um volume significativo de recursos provenientes da Braskem, como parte das compensações pela destruição de cinco bairros na capital alagoana.

Demonstrando grande desenvoltura, JHC se beneficia de uma espécie de “salvo-conduto”, garantido pelos acordos firmados com os Ministérios Públicos e a Defensoria Pública da União (DPU).

Os vultosos valores recebidos da Braskem superam em várias vezes o orçamento municipal, excluindo-se as despesas com folha de pagamento, previdência, dívida e transferências obrigatórias. Funcionam como um “orçamento paralelo”, à margem do controle do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e dos órgãos de fiscalização, como os próprios Ministérios Públicos.
São acordos implementados sem um planejamento claro e, sobretudo, sem a devida consulta à população afetada.

Esse é o principal capital político tangível do prefeito JHC para arquitetar sua estratégia com vistas às eleições de 2026, um plano que certamente já está em curso. A largada dessa nova fase começará logo após as comemorações de sua reeleição neste domingo (6) quando derrotou o principal opositor, o deputado Rafael Brito (MDB).

 

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