quarta-feira 12 de março de 2025

Amor Confesso: em produção, filme trata de padre que se apaixona por jovem no Agreste alagoano

O padre vai pecar. Mas é pecado seguir o próprio coração?
Foto: Divulgação

Naquele tempo, havia no ar uma certa cumplicidade silenciosa. Década de 1980. Pecados ocultos. O Agreste alagoano, entre as grossas paredes da igreja e os olhares desconfiados dos fiéis, seguia seu ritmo rumo à pujança econômica que caracterizou seu destaque no cenário nacional. Arapiraca já era a Capital do Fumo. Uma história já conhecida.

Outra história que não se sabia era a que se escondia atrás da batina. Um amor. Uma paixão que avassalou toda a comunidade religiosa e a não religiosa. Afinal, o púlpito onde os sermões ocorriam e o confessionário eram territórios não mais neutros, onde a santidade e o pecado caminhavam de mãos entrelaçadas, lado a lado.

O padre vai pecar. Mas é pecado seguir o próprio coração?

É nesse cenário que mergulha “Amor Confesso”, longa-metragem de ficção roteirizado e dirigido por Vitor Sousa, baiano radicado em Arapiraca, com apoio do mentor criativo e codiretor carioca Igor Verde, que tem ampla experiência em melodramas e atualmente é um dos diretores da novela global Mania de Você.

A trama trata de uma história de fé, desejo, culpa e poder, ambientada em um povoado fictício da região agrestina, escavando os dilemas de um jovem padre que abandona o celibato e as vestes sacerdotais para viver um amor proibido com uma jovem grávida, enquanto enfrenta a perseguição de um bispo obcecado e os julgamentos de uma sociedade regida por valores religiosos inflexíveis — para dizer o mínimo. Mas esse fundamentalismo se choca em um segredo incontido do bispo, que acoberta em seu peito uma antiga paixão.

É nesse solo aparentemente infértil que um surpreendente triângulo amoroso surge, junto com segredos, mortes e traições, germinando um amor confesso que desafia os limites da fé.

O projeto ficcional foi financiado pelo edital da Lei Paulo Gustavo, da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude de Arapiraca, e, a partir dos recursos repassados, ele já está em fase de reescrita do roteiro, com previsão de captação de recursos e desenvolvimento em breve. A história foi selecionada para participar dos Grupos de Roteiro do Projeto Marieta (São Paulo) e do Laboratório Farol Lab (Maceió), onde, neste último, contou com a orientação de nomes de peso no cinema brasileiro, com a consultoria de Nina Kopko, Armando Praça e Aleksei Abib.

Como parte do impacto comunitário, em contrapartida, o projeto oferecerá gratuitamente a oficina “Por Dentro das Narrativas Negras”, voltada para estudantes da rede pública de ensino em Arapiraca, promovendo inclusão e devida formação audiovisual.

Desconforto

Mais do que um drama sobre amores impossíveis, “Amor Confesso” se propõe a provocar um debate sobre abuso de poder e fanatismo religioso. A narrativa, inspirada em eventos reais do Sertão e Agreste alagoanos com pitadas ficcionais, reflete um Brasil profundo onde a fé é frequentemente utilizada como instrumento de controle. Controle dos corpos, das emoções, dos sentimentos em movimento.

“Esta ficção nasceu da necessidade de dar voz a histórias abafadas pelo tempo e pelo medo. É uma oportunidade de levar às telas uma reflexão sensível e necessária sobre os efeitos do fundamentalismo e do abuso em nossas vidas”, diz o roteirista e diretor Vitor Sousa.

Referências literárias como “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz, e audiovisuais como ”Dúvida”, de John Patrick Shanley, ajudam a situar o tom do filme a ser dirigido aqui do Agreste alagoano, apostando no melodrama e na tensão psicológica para construir seu fio narrativo.

O resultado será uma obra que dialoga com o presente ao revisitar um passado marcado por segredos e hipocrisia.

“O ‘Amor Confesso’ é a proposta perfeita para aquele realizador que deseja provocar um belo e poderoso desconforto — tão criativo, quanto instigante — ao tocar temas contemporâneos poderosos, como fé, paternidade e relações amorosas. Essa história é o instrumento perfeito para criação de uma narrativa audiovisual potente e capaz de atravessar um grande número de pessoas (não só em Alagoas), tocando suas emoções, ao mesmo tempo que cria um diálogo inquieto com os seus inconscientes”, pontua o mentor criativo e codiretor Igor Verde.

A referida obra fílmica ainda não tem data de lançamento, mas já desperta interesse pelo seu potencial de trazer à tona discussões urgentes sobre abuso e silenciamento.

Em um Estado onde casos de abuso clerical foram historicamente abafados, a escolha do Agreste alagoano como cenário não é apenas um detalhe geográfico. É um gesto político e um convite ao incômodo. Porque algumas histórias precisam ser contadas — e vistas.

Por Assessoria

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