sábado 23 de novembro de 2024

Como a Braskem trabalha no processo de apagamento da existência de suas vítimas

corporações como a Vale e Samarco, trabalham, constantemente, no projeto de apagamento da existência das pessoas atingidas por seus danos ambientais e sociais.

20 de abril de 2024 11:21 por Da Redação

Milhares de pessoas perderam suas casas após a mineração da Braskem causar o afundamento de diversos bairros de Maceió, em Alagoas | Jonathan Lins/Folhapress

Por Neirevane Nunes*

O apagamento da existência dos afetados por crimes socioambientais é uma forma de perpetuar a injustiça e a impunidade. A Braskem, assim como outras grandes corporações como a Vale e Samarco, trabalham, constantemente, no projeto de apagamento da existência das pessoas atingidas por seus danos ambientais e sociais. Isso acontece de diversas formas:

Pela negação da existência do problema

A Braskem paga para sustentar a narrativa de que o que aconteceu em Maceió foi um “evento geológico” e não resultado de uma sucessão de crimes socioambientais causados por ela, a Braskem não é tratada como empresa infratora, mas como grande colaboradora do poder público. A Braskem contratou a Diagonal e a Tetra Tech para produzirem diagnósticos para, simplesmente, negar a realidade. Ambos os diagnósticos atestam que não há evidências suficientes para atribuir a Braskem os danos que são denunciados por suas vítimas.

Pelo subdimensionamento dos impactos causados por ela

A Braskem desde o início usa a estratégia de minimizar a gravidade dos danos causados, subdimensionando a área afetada e o número de pessoas atingidas.

Pela desqualificação de trabalhos técnicos que confrontam seus argumentos

A Braskem e as instituições que respaldam suas ações buscam desqualificar especialistas e trabalhos técnicos que constatam a realidade dos fatos e demonstram a magnitude dos danos causados por ela.

Pela deslegitimação das vozes das vítimas

As vozes das pessoas afetadas muitas vezes são desacreditadas ou deslegitimadas, e varias lideranças sofrem perseguições, seja através de ataques pessoais, retratando-as como oportunistas ou mentirosas, ou questionando sua credibilidade e ainda deslegitimando movimentos de resistência na luta por reparação justa.

Pelo silenciamento por meio de pressão legal ou econômico

A Braskem usa de influência econômica, política e institucional para coagir e intimidar as pessoas afetadas por ela, forçando a aceitar uma condição de violação extrema de direitos como é o caso das comunidades condenadas a viver numa situação desumana nas bordas do mapa de risco como Bom Parto, Flexais, Quebradas, Marques de Abrantes, Vila Saem e outras.

Pela falta de transparência e acesso à informação

A Braskem omite e restringe o acesso à informação sobre os reais danos ambientais e sociais. Além de investir na publicidade de maquiagem dos fatos. Ela possui grande influência sobre a imprensa, principalmente a imprensa local, mantendo o controle sobre o que é veiculado, a forma e o momento em que as informações devem ser repassadas para a população

Pela falta de responsabilização e justiça

A leniência e a letargia das instituições envolvidas de responsabilizar a Braskem legalmente pelos seus crimes, leva  aos apagamento das vozes dos afetados com a continua impunidade.

*É bióloga e doutoranda do SOTEPP/UNIMA

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