10 de julho de 2023 6:13 por Geraldo de Majella
A tragédia das chuvas em Maceió e, em Alagoas, tem calendário anual definido. Não é novidade para quem é alagoano que só existem duas estações aqui: o verão e o inverno.
As chuvas torrenciais que atingem Maceió, todos os anos, provocam enchentes, com quedas de barreiras e casas, bem como soterramento de pessoas, deixa centenas de desabrigados e, invariavelmente, o flagelo de famílias que perdem suas residências e bens.
Esse calendário parece ser eterno. Enquanto dura a chuva, as autoridades procuram dar assistência à população por meio de abrigos improvisados. A sociedade é quem mais se mobiliza em solidariedade aos atingidos.
Ao passo em que o tempo passa e a vida da população pobre parece voltar à normalidade – é fato que a pobreza extrema tem sido naturalizada –, nada mais é feito para que, no ano seguinte, haja qualquer ação preventiva que minore o sofrimento de dezenas de milhares pessoas, crianças, jovens, adultos e idosos.
O espetáculo termina quando o sol volta a brilhar e as águas fétidas baixam deixando de entrar nas casas, casebres e barracos, lares da gente anfíbia de Maceió e das Alagoas.
A Vila Brejal é um símbolo macabro das tragédias anuais está encravada entre o Centro de Maceió e a lagoa Mundaú. É uma localidade invisível para as autoridades. Nos bairros sazonalmente submersos, o Estado se faz presente junto aos moradores por meio dos programas sociais, como o Bolsa Família (o mais destacado), das polícias e do IML. A Prefeitura de Maceió está a 5 quilômetros da Vila Brejal.
Entre quem tem o dever de mudar essa situação, não se fala, nem por diletantismo político, em unir esforços para salvar milhares de famílias da infelicidade. O Palácio República dos Palmares fica a 500 metros da Brejal. E Brasília a 2 mil quilômetros de Maceió. Tudo é muito perto quando se tem disposição para tirar a população da lama.
A degradação urbana e ambiental contribui para a morte da lagoa Mundaú. A população tenta, como é possível, arrancar os meios para sobreviver num ambienta tão degradado e degradante como se só existisse Deus para aliviá-los das agruras cotidianas.
Os rios desaguam nas lagoas
Toda a extensão da orla lagunar de Maceió sofre com as enchentes – os bairros do Pontal da Barra, Trapiche, Vergel do Lago, Joaquim Leão, Levada e Cambona. Os antigos bairros hoje são escombros: Bom Parto, Mutange, Bebedouro, Flexal de Cima e Flexal de Baixo constituem o circulo de localidades destruídas pela mineradora Braskem, que afugentou milhares de famílias.
E mais: Fernão Velho e ABC são atingidos anualmente pelas águas.
As cidades que estão situadas no Vale do Rio Mundaú, como São José da Laje, União dos Palmares, Branquinha, Murici, Rio Largo, Santa Luzia do Norte, e mais, Coqueiro Seco, têm sido em parte destruídas.
O Vale do Rio Paraíba, com Quebrangulo, Paulo Jacinto, Chã Preta, Viçosa, Cajueiro, Atalaia, Pilar e Marechal Deodoro, formam o círculo das enchentes permanentes provocadas por esses dois rios que desaguam nas lagoas Mundaú e Manguaba.
A engenharia tem solução técnica para a resolução desse grave problema. O que tem faltado é iniciativa política e humanitária. De recursos, o governo federal dispõe. Unir vontades e interesses para resolver um dos mais graves problemas urbanos de Alagoas não é uma barreira intransponível, basta querer.