sexta-feira 25 de outubro de 2024

Chapa propõe ‘descontaminar’ o Cremal de interesses político-partidários

O 082 Notícias ouviu o médico Henrique Marques sobre eleições para o Conselho de Medicina em Alagoas
O médico Henrique Marques

Nos próximos dias 14 e 15 de agosto, médicos de todo o país vão eleger os representantes dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) para o quinquênio 2023-2028. A eleição é histórica, por ser a primeira totalmente on-line. Serão eleitos 20 conselheiros titulares e 20 suplentes para cada Regional.

Em Alagoas, a eleição será duplamente histórica, uma vez que a disputa terá duas chapas concorrendo. A Chapa 1, “Evoluindo com ética e responsabilidade”, cujo cabeça é o médico patologista e reitor da Uncisal, Henrique Costa; e a Chapa 2, “Renova Cremal”, encabeçada pelo médico Marcos Gonçalves.

Idealizador da chapa 2, o médico Henrique Marques, formado em 1999 pela Universidade Cristiana de Bolívia e especializado em clínica médica, diz que é necessário separar as lutas da categoria dos interesses da política partidária, que levaram o Cremal a adotar uma postura negacionista durante a pandemia de Covid-19.

“O Conselho de Medicina passou a ser moeda de troca ou talvez moeda de manipulação político-partidária, onde os preceitos que envolvem a nossa árdua formação se transformaram em questões meramente políticas, idealizadas e divulgadas assim como apoiadas por esses grupos que há décadas desenvolveram uma espécie de simbiose com os políticos de suas escolhas tentando mudar inclusive os preceitos mais fundamentais da medicina”, disse.

Leia abaixo a entrevista ao 082 Notícias:

Em que área o senhor atua aqui, no estado?

Eu, como muitos colegas, me formei fora do Brasil (Universidade Cristiana de Bolívia). Vim ao estado de Alagoas por ter parentes aqui, fiz minha revalidação pela Ufal, e comecei a atuar tanto na área de urgência e emergência  assim como também o fiz na medicina de saúde da família. Nesses anos todos, eu tive a felicidade de ter atuado em, pelo menos, 30 a 40 municípios aqui do estado, assim como em algumas instituições médicas particulares e também estaduais. Tive, inclusive, o privilégio de ser secretário de Saúde do município de Marechal Deodoro, como também diretor médico de algumas Upas e hospitais municipais. Isso me trouxe uma satisfação muito grande, pelo fato de poder compreender um pouco melhor a relação entre médico, população e gestão, tanto do ponto de vista burocrático quanto do prático e isso, realmente, é um universo que precisa ser olhado pelas autoridades com uma visão mais humana, objetiva e tática. Cada uma delas exige um grande esforço e também, acima de tudo, um grande censo social e de compromisso com quem necessita desse serviço que, acredito eu, é um dos mais importantes e, talvez, o mais importante, pois, sem saúde, não somos ninguém.

Dr Henrique, estamos a poucos dias das eleições dos conselhos regionais de Medicina em todo Brasil. Como o senhor, diante da sua vasta e longa trajetória, vê essas eleições que parecem ser um pouco atípicas na comparação com as anteriores?

Realmente, essas eleições têm, sim, e de fato se transformado em algo bastante atípico. Aqui em Alagoas, não consigo imaginar o por quê de o CRM  local  estar, simplesmente, há mais de 30 anos no poder, com exatamente as mesmas pessoas. Isso beira o surreal, é como se a vida de nós, médicos, estivesse, obrigatoriamente, submissa às vontades de um grupo que se julga detentor das nossas vidas profissionais, indo de encontro a todas as mínimas relações democráticas de direito, quase que uma ditadura absolutista. O que me entristece muito é que em todo esse período, nada, absolutamente nada de bom ou produtivo para nós médicos, que temos o CRM como nosso norte, guia e espelho, absolutamente nada de bom ou produtivo tivemos. Bem pelo contrário, nossa instituição deixou de ser uma instituição médica e se tornou uma instituição absolutamente política, onde os interesses políticos e dos poderosos  passaram a ser a pauta em questão. O médico – e o médico sendo a essência da instituição  , pois sem ele não haveria a necessidade de Conselho de Medicina –, passou a ser moeda de troca ou talvez moeda de manipulação político-partidária, onde os preceitos que envolvem a nossa árdua formação se transformaram em questões meramente políticas, idealizadas e divulgadas assim como apoiadas por esses grupos que, ha décadas, desenvolveram uma espécie de simbiose com os políticos de suas escolhas tentando mudar, inclusive, os preceitos mais fundamentais da medicina.

Por que isso ocorre?

Simplesmente, por não gostarem de político A ou B e isso não é a função do médico. Nossa função é se basear e se sustentar acima de qualquer pensamento pessoal, pura, única e exclusivamente na ciência lembrando que muito, mas muito antes de nós, vieram mulheres e homens que dedicaram toda as suas vidas em prol de pesquisas, investigações e muito estudo para nos entregar essa nobre arte. E que, até hoje, temos esses seres incríveis e completamente determinados a nos passar esses aprimoramentos para que assim, livres das nossas ideologias, possamos executar a nossa nobre arte e sacerdócio sem nenhum tipo de contaminação pessoal ou ideológica, seja ela qual for.

O senhor falou que essa gestão do Cremal está no poder há mais de três décadas; Por que ela nunca foi derrotada?

Chega a ser incrível a ociosidade nossa. Por incrível que pareça, em todo esse período, nunca houve uma segunda chapa. Vale lembrar que Alagoas é o segundo menor estado da República. Hoje, em 2023, chegamos depois da entrada das universidades particulares ao número 10 mil em nossos registros, contando com mortos e feridos viu, e também aqueles que não atuam mais ou estão fora do Brasil. Antes, para ser médico em Alagoas, você primeiro teria ou ser muito inteligente mesmo e determinado, ou ser filho de rico, uma vez que tínhamos apenas duas instituições para formação médica, sendo elas uma estadual e a outra federal. Por sinal, temos excelentes profissionais oriundos dessas instituições, com esse boom de faculdades formadoras de médicos e médicas e, claro, com as últimas eleições a presidente da República, o que já era uma autarquia completamente politizada, se tornou ainda mais, inclusive criando sérias dificuldades com as exigências de requisitos para a formação de chapas adversárias  como nunca houve na história da própria autarquia. Por ser um dos idealizadores na formação dessa chapa, que por sinal não foi da noite para o dia e sim de um trabalho que vem desde a pandemia, quando de fato vimos que o nosso conselho atual, definitivamente, abandonou o que de fato é a medicina e passou a defender, divulgar e apoiar, atos completamente anti-ciência ou a qualquer coisa que se diga médica. Foi aí que nos insurgimos pelo bem da nossa profissão e, diferentemente deles, não nos insurgimos para causas próprias.

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