sábado 23 de novembro de 2024

Flexal registra aceleração de deslocamento de solo em direção às minas em colapso

Documento mostra que Mutange, Bom Parto, Pinheiro e parte do Farol continuam afundando e se deslocando em direção às minas da Braskem
Reprodução

Por Thiago Correia, do portal Na Rede

O movimento ainda considerado de baixa magnitude, mas o deslocamento de solo concentrado no Flexal continua subindo. Após uma série de oscilações na velocidade entre janeiro e julho do ano passado, desde agosto do ano passado, o movimento do solo da região em direção a Base de Mineração da Braskem no Bairro vizinho – Mutange – mantém um aumento constante.  O jornalismo do Na Rede teve acesso ao último relatório de interferometria realizado por uma empresa contratada pela Braskem que vem monitorando a região desde 2019.

Os dados consolidados mostram que toda a área que hoje está nos extremos da zona de ações prioritárias vem mantendo movimentos de deslocamentos, sejam eles verticais – de afundamento – ou horizontais – sempre no sentido da Base de Mineração do Mutange onde estão as minas em colapso. Além do Flexal, a região do Mutange também registrou um aumento na velocidade de deslocamento de superfície. A área já está desocupada e os efeitos podem não impactar pessoas, mas o deslocamento continua.

Flexal

No Flexal, a área que vem registrando aumento no deslocamento do solo na superfície é classificada como “TS26N”. Fica localizada entre Bebedouro e Chã de Bebedouro, e segundo o relatório, em dezembro do ano passado, registrou uma velocidade de “3,19 mm/ano na direção Leste”. Nas medições anteriores, que constam em outro documento da mesma empresa datado de dezembro, mas que contém dados de novembro de 2023, essa velocidade era de “2,85 mm/ano na direção Leste”.

O movimento de superfície de solo é um dos fatores que causam rachaduras em edificações. Foi esse movimento que danificou milhares de casas em 5 bairros da capital entre 2018 e 2019 e levaram mais de 55 mil pessoas a deixarem a região do Mapa de Risco. O Flexal é uma das localidades onde ainda hoje existem residências e outras edificações com rachaduras e um processo que só aumenta, mas a mineradora não reconhece que o problema está sendo causado pelo afundamento da região das minas.

Outro fenômeno que está ocorrendo na região é o afundamento de solo, classificado no documento como “deslocamento vertical”. O relatório mostra que o afundamento continua, apesar de registrar uma leve desaceleração se comparado ao último relatório. Em novembro o índice de afundamento era de “-4,76 mm/ano na direção Vertical”, em dezembro é de “-3,13 mm/ano na direção Vertical”. Os relatórios de interferometria seguem desde janeiro mostrando que o Flexal continua sob forte influência do afundamento da superfície na região das Minas. Desde os primeiros documentos, o deslocamento na região aponta sempre a mesma direção “leste” que é a direção onde geograficamente fica localizada a região das minas de sal-gema.

Mutange

O deslocamento horizontal no bairro do Mutange também registrou aumento na velocidade. Segundo o documento:  “foi observado no Mutange, na área do polígono 15N, próximo à Alameda São Sebastião; o deslocamento oeste máximo detectado chegou a -383,00 mm a uma velocidade de -77,90 mm/ano.” No relatório anterior, esses índices estavam em “-330,70 mm a uma velocidade de -75,28 mm/ano”.

Bom Parto e Levada

O relatório de monitoramento também aponta uma área de deslocamento nos bairros Bom Parto e Levada. Segundo o documento: “O maior deslocamento vertical detectado foi de -279,10 mm, com velocidade -64,20 mm/ano, localizado no Bom Parto, à margem da Lagoa, próximo à Rua Nossa Sra. de Fátima.”

O documento ainda aponta monitoramento em outra área na mesma região. ” Próximo à Rua Um e à Av. Principal, foi detectado movimento horizontal relevante na direção oeste, especificamente, acumulado de -167,0 mm e velocidade de -40,67 mm/ano”

“Fake News”

Após a última reportagem em que mostramos os dados atualizados sobre a situação no Flexal, o jornalismo do Na Rede foi procurado por moradores da região. Fomos informados que numa reunião emergencial motivada pelos dados trazidos na matéria, os moradores ouviram de autoridades que as informações da reportagem se tratavam de Fake News. Na época, o Na Rede – seguindo a ética jornalística – não publicou o documento na íntegra por que o mesmo apresentava indicação de sigilo. Mas após nota emitida pela Braskem onde afirma que nenhum dos documentos relacionados ao caso está sob condição de confidencialidade, decidimos publicar na íntegra as páginas do estudo que trazem as informações contidas na reportagem para mostrar a seriedade do nosso trabalho. Segue abaixo:



 

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