quinta-feira 24 de outubro de 2024

Vítimas da Braskem questionam participação de professora contratada pela Diagonal na CPI da Braskem

Ouvida pelo 082 Notícias, pesquisadora nega conflito de interesses

1 de março de 2024 10:34 por Da Redação

Omar Aziz preside a CPI da Braskem, que tem Rogério Carvalho como relator | Geraldo Majela/Agência Senado
Fonte: Agência Senado

Na próxima terça-feira (5), professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vão depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do caso Braskem, no Congresso Nacional. Entre os nomes listados, um chamou atenção: o da professora Natallya de Almeida Levino, pesquisadora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Feac) da Ufal.

De acordo com representantes das vítimas da Braskem, o fato de a professora ter desenvolvido uma pesquisa para a empresa Diagonal Empreendimentos e Gestão de Negócios põe em xeque a isenção de seu depoimento.

A Diagonal foi contratada pela própria Braskem, mineradora responsável pelo afundamento do solo em cinco bairros de Maceió, para elaborar o Diagnóstico Técnico-Participativo do Plano de Ações Sociourbanísticas (PAS) para Maceió. Este processo vem sendo contestado pelas vítimas do maior crime socioambiental em área urbana do mundo, alvo da CPI.

“A Diagonal, além de embasar o acordo da mineradora com a Prefeitura de Maceió, também atua em diversos projetos e estudos técnicos para antiga Odebrecht, atualmente Novonor, acionista principal da Braskem”, disse uma das vítimas ao 082 Notícias.

O estudo desenvolvido pela professora Natallya de Almeida Levino foi realizado num acordo de parceria entre a Diagonal e a Ufal, por meio da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes). O contrato firmado é no valor de R$ 82.262,87, em duas parcelas por dois meses.

Contrato está no Portal da Transparência

O objeto do estudo foi a caracterização dos trabalhadores informais do antigo Mercado de Bebedouro e da população deslocada por gênero e raça, que subsidiou o processo de decisão no âmbito do acordo estabelecido no PAS, considerado abusivo pelas vítimas da mineradora.

Vítimas apontam contradição

A bióloga Neirevane Nunes, ex-moradora de Bebedouro, aponta uma contradição na postura da professora. Bem antes da realização do estudo pela Fundepes, Natallya era uma crítica ferrenha do acordo da Braskem. Ela é uma das autoras do contradiagnóstico que apontava fragilidade no estudo apresentado pela Diagonal.

“Ela participou do dossiê onde teceu duras críticas sobre o trabalho da Diagonal e mesmo assim aceita prestar serviço pra essa empresa mesmo essa empresa sendo considerada suspeita”, disse Neirevane, que integra o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).

Esse documento foi apresentado em uma audiência pública no Senado Federal, no dia 8 de maio de 2023. “Os termos utilizados para caracterizar o desastre ambiental são minimizados ao tratar o caso como evento/fenômeno geológico, dando margem ao entendimento que se trata de um fenômeno natural. A metodologia não ficou clara, sendo que a amostra utilizada pela coleta e os dados fornecidos pela Braskem podem mascarar os danos reais. E o terceiro ponto é que as escutas tiveram tempos restritos para as perguntas e as respostas não corresponderam”, pontuou Nathallya, à época.

Alexandre Sampaio | Reprodução

O presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió, jornalista Alexandre Sampaio, disse que depois da parceria com a Diagonal, a pesquisadora “não pode mais fazer nenhuma pesquisa isenta”.

“Eu fui uma das primeiras pessoas a procurar o Departamento de Economia, de Administração da Ufal em 2019, 2020, em 2021 e eu sempre falei com a professora Natália. Dei entrevista para ela, participei de eventos que ela organizou. Eu entendo que ela não estava ingênua nesse processo. Ela sabia das relações da Diagonal com a Braskem, sabia da nossa crítica e, principalmente, participou do contradiagnóstico e criticou a Diagonal” relata.

Sampaio lembra ainda que ela estava nas escutas públicas e “estava completamente consciente da responsabilidade que ela tinha no contexto desse crime da Braskem”.

Segundo as vítimas do crime socioambiental da Braskem, não se sabe ainda se a professora Natallya irá depor embasando seus estudos e a posição da Diagonal, sua contratante, ou se estará fundamentando com os dados de suas pesquisas o irrestrito apoio às vítimas.

Professora nega conflito de interesses

Procurada pelo 082 Notícias, a professora Natallya Levino explicou que foi convocada para participar da CPI na qualidade de pesquisadora, não como representante institucional da Ufal. “Minha participação versará sobre os resultados do projeto de pesquisa financiado pelo CNPq, cujo objetivo é analisar os impactos ambientais, sociais e econômicos do desastre do afundamento dos bairros pela extração inadequada de sal-gema pela Braskem”, destacou.

Outro detalhe, afirma a pesquisadora, é que a responsabilidade criminal não foi objeto da pesquisa. “Este projeto não tem relação com a Diagonal e não foi financiado pela Diagonal. A contratação citada no Portal da Transparência ocorreu via Fundepes, e trata-se de um estudo independente. O contato com a Diagonal e posterior contratação ocorreram em decorrência de críticas feitas ao relatório da Diagonal apresentado nas escutas públicas, assim sendo vários pesquisadores da Ufal foram convidados a atuar para suprir o que foi apontado nas críticas. Como são projetos independentes não há conflito de interesse”, frisou.

A professora Natallya Levino | Arquivo pessoal)
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