2 de março de 2024 8:12 por Da Redação
A bióloga Neirevane Nunes, ex-moradora do bairro de Bebedouro e integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) afirma que a Diagonal Empreendimentos e Gestão de Negócios faz jogo da mineradora, de apagar as evidências do crime socioambiental, subdimensionando os impactos da mineração de sal-gema na vida de suas vítimas e na cidade de Maceió.
A Diagonal foi contratada pela Braskem para elaborar o Diagnóstico Técnico-Participativo do Plano de Ações Sociourbanísticas (PAS) para Maceió. Esse estudo é contestado pelas vítimas do afundamento do solo em cinco bairros de Maceió. “Os dados da Diagonal precisam passar por auditorias independentes porque estão enviesados pela versão da Braskem, que considera o crime da Braskem como um desastre natural, como reforça o contra diagnóstico que fizemos”, denuncia.
Sobre a convocação da professora Natallya Levino para depor na terça-feira (5), na CPI da Braskem, ela se disse surpresa e preocupada. A pesquisadora da Ufal, antes crítica ao diagnóstico da Diagonal, foi contratada para fazer um estudo que é utilizado pela consultoria da Braskem, gerando uma crise de confiança.
Confira a entrevista abaixo:
1) Vocês não sabiam que a Natallya tinha sido contratada pela Diagonal?
Não, a todo tempo pensávamos que sua pesquisa era isenta, até porque como ela mesmo havia falado, tinha solicitado diversas vezes os dados os deslocamentos compulsórios e a Braskem nunca fornecia, estava encontrando dificuldades em realizar a pesquisa dela. Além disso, a professor Natallya (Levino) compôs o estudo crítico sobre o diagnóstico da Diagonal, documento elaborado por diferentes especialistas, com o objetivo de apontar todas as inconsistências presentes no diagnóstico provando que o mesmo é inválido.
Pelo histórico anterior da professora Natallya Levino, de ser da resistência, de mostrar os dados enviesados da Diagonal, estabelecemos uma relação de confiança. Inclusive, ela me procurou para colaborar com informações sobre os feirantes que trabalharam no Mercado Público de Bebedouro e, assim como sempre, colaboramos com as pesquisas sobre o caso Braskem, passei informações, inclusive contatos de feirantes para ela. Contatos que estão na resistência. Não sabia que ela estava reunindo dados para uma consultoria paga pela Diagonal. As vítimas ainda querem as respostas das perguntas que fizemos no contradiagnóstico que até agora não foram respondidas. Não temos mais confiança na pesquisadora em questão. Ela não foi ética ao buscar informações. Essa relação de confiança, instalada anteriormente, infelizmente, foi quebrada.
2) O que você acha do papel da empresa Diagonal nas escutas públicas?
As “escutas públicas” da Diagonal representaram mero rito validação de um estudo com o objetivo de fazer o jogo da Braskem de apagar as evidências do seu crime, subdimensionando os impactos da mineração de sal-gema na vida de suas vítimas e na cidade de Maceió. As escutas foram marcadas por denúncias de não escuta, cuja dinâmica gerou mais dúvidas do que esclarecimentos. Além disso, a sucessão das fragilidades apontadas no Diagnóstico também gerou desconfianças sobre o processo de escolha da referida empresa consultora para o caso Braskem, dando a entender que a designação da Diagonal não teve o caráter de independência e isenção necessárias.
Somado a isso, reforça-se que já constava na cláusula 64 do Acordo Socioambiental (Proc. Nº 0806577-74.2019.4.05.8000) que seria a Diagonal a empresa contratada pela Braskem para fazer os estudos sociais, bem como a predefinição da empresa Tetra Tech para fazer os estudos de impacto ambiental e elaborar o plano ambiental. Logo, pedimos no Dossiê os esclarecimentos sobre a vinculação e o direcionamento da Braskem nos estudos e diagnósticos das empresas que contratou para fazer os estudos sobre os danos causados pela própria mineradora. Os dados da Diagonal precisam passar por auditorias independentes porque estão enviesados pela versão da Braskem, que considera o crime da Braskem como um desastre natural, como reforça o contra diagnóstico que fizemos.
3) O que significou a Diagonal para as vítimas da Braskem?
Significou uma Braskem travestida de Ciência, ou seja lobo em pele de cordeiro que usou e abusou da paciência de muitos de nós atingidos pra maquiar os dados sobre as expulsões compulsórias que a sua contratante promoveu. O Diagnóstico realizado pela Diagonal é um trabalho sem rigor científico, com falhas metodológicas graves, sem dados suficientes e sem representatividade, com a utilização de referências inadequadas e algumas delas inexistentes, como no caso do Plano de Mobilidade de Maceió. O aspecto mais evidente do afastamento científico do Diagnóstico é a manipulação da linguagem para encobrir o fato crime: o crime socioambiental da Braskem em Maceió, isso é constatado em todo o Diagnóstico. Um trabalho feito por profissionais que nem sequer estiveram nos locais afetados, utilizando-se de imagens disponíveis na internet. Além disso, o que a Diagonal chama de dados fornecidos é trabalho intelectual não pago, corrompido, plagiado e redirecionado.