22 de agosto de 2020 6:56 por Thania Valença
Conhecida no meio cultural de Maceió, a bailarina Eliana Cavalcanti fez postagem em rede social, reclamando da falta de informações da Braskem sobre o pagamento das indenizações aos moradores dos bairros atingidos pelos danos ambientais provocados pela multinacional. Manifestando indignação com a situação que lhe foi imposta – ela é uma das milhares de pessoas atingidas – a bailarina se disse estarrecida com as imagens que viu no Plano de Ações Estratégicas divulgado esta semana.
O Plano traz imagens de como ficará essa região da cidade, após obras a serem realizadas pela mineradora Braskem, responsável pelo maior dano ambiental da história de Alagoas, e a Prefeitura de Maceió. Segundo a proposta, elaborada conjuntamente pela mineradora e a prefeitura, o trabalho começa com a demolição das áreas mais críticas nos bairros de Bebedouro, Mutange, Pinheiro e Bom Parto.
“Nesse Plano tem ciclovia, parque e até o VLT funcionando. Isso é uma piada?” – indaga Eliana, lembrando que as famílias residentes nessa área de Maceió foram praticamente expulsas de suas casas, de seus negócios.
A bailarina, que é empresária, mantinha uma escola de balé no bairro, se diz perplexa com o que foi apresentado nesse Plano de Ações Estratégicas. “Ora, se nós tivemos de abandonar ( alguns ainda estão resistindo) os nossos bairros, a nossa história, os nossos patrimônios porque existe perigo iminente de um desastre de grandes proporções ou mesmo de um sinkhole (desabamento repentino em forma de pia, ou seja, afunilado) alertado pela CPRM, como criaram esse Plano de Ações? De quem foi essa ideia estapafúrdia?” – indaga ela.
Ela questiona ainda como a Prefeitura de Maceió se insere nessa proposta. “Não sei se esse plano é algo oficial, mas, até agora, ninguém desmentiu. Sei que vi comentários de muita gente desavisada, de uma certa forma festejando o tal Plano de Estratégias. Que maravilha, não? Já estou ouvindo os diálogos: ‘Vamos fazer um passeio de bicicleta, passando por aquele maravilhoso pulmão verde, orgulho da nossa cidade?’ Ou, então: “Vamos de VLT? É mais rápido e não precisa pegar a Avenida Fernandes Lima! São absurdos em cima de absurdos” – afirma a bailarina e empresária.
Além do Plano, Eliana Cavalcante questiona o acordo extrajudicial feito entre o Ministério Público e a Braskem, argumentando que o mesmo foi unilateral, já que nem moradores nem empreendedores dos quatro bairros afetados (as vítimas da tragédia) tomaram parte. E o acordo, diz a bailarina, só beneficiou à Braskem.
“Meu coração sangra e a minha alma está combalida. A cada dia que passa, o sofrimento aumenta porque a indignação se agiganta. Primeiro, fizeram-nos assinar um Termo de Posse e um Termo de Entrega de Chaves. Relutei muito, mas eu estava naquela situação de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, e fomos orientados pelos nossos advogados a assinar os tais termos” – afirma.
Ela reclama que o imóvel onde mantinha sua escola de balé não pertence mais à sua família, e o que é pior, não sabe quando, nem quanto, receberá de indenização. “Fomos expulsos da nossa propriedade sem nenhuma garantia. Sinto, hoje, que nós não somos só as vítimas dessa catástrofe, mas os palhaços de um circo de horror, criado pela ganância e a soberba de uns poucos que ajudam a denegrir a nossa história. Não merecemos tamanho descaso. Cuidem primeiro das indenizações! Depois, inventem suas fantasias” – declarou Eliana Cavalcante, em sua postagem.
Histórico
O Ballet Eliana Cavalcante iniciou suas atividades em 1972,. Um ano depois naugura sua primeira sede, onde são ministradas aulas regulares de ballet e apresentações públicas. Em 1983 passa a funcionar em sede própria no bairro do Farol, até março deste ano, quando suas atividades foram interrompidas pelo dano ambiental provocado pela mineradora Braskem.