19 de setembro de 2020 12:52 por Thania Valença
“Não sabemos quando será a cirurgia. Aliás, não temos qualquer previsão quanto a datas!” – a declaração, indignada, é de S.J (que prefere não se identificar), 21 anos, cujo pai, de 56, enfrenta um câncer de reto, e precisa ser operado. Sem plano de saúde e sem condições financeiras para custear as despesas, ele aguarda por uma vaga para ser operado na rede pública estadual, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).Esse é um dos tantos exemplos de pacientes que esperam na fila do SUS por uma cirurgia ou tratamento. Dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), mostram que 1.695 alagoanos estão, desde 2011, na fila de espera por uma cirurgia na rede pública. São pacientes que aguardam por cirurgias do aparelho digestivo, aparelho geniturinário, da visão, vias aéreas superiores, da face, da cabeça e do pescoço, aparelho circulatório, pequenas cirurgias e cirurgias de pele, de glândulas endócrinas, de mama, e outras.
Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde (MS) anunciou a liberação de R$ 3.975.000,00 para Alagoas zerar a fila de espera de procedimentos eletivos de média complexidade, além de diminuir o tempo de espera daqueles que aguardam por uma operação agendada. Os recursos seriam para 53 tipos de procedimentos cirúrgicos que estão na lista, como catarata, varizes, hérnia, vasectomia e laqueadura, além da cirurgia de astroplastia – quadril e joelho – entre outras com grande demanda reprimida identificada.
Entretanto, o número da espera, segundo o Conselho Federal de Medicina, continua alto.
Veja aqui a fila de espera em Alagoas, por município.
Este ano, no Brasil, segundo o Conselho Federal de Medicina, a fila de espera para cirurgias eletivas chegou a aproximadamente 904 mil procedimentos. A espera é a soma dos números apresentados pelos estados de Alagoas, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Pernambuco, São Paulo e Tocantins. Além destes, foram incorporados os dados da Bahia, que enviou informações de pacientes que ingressaram na fila em 2017 e, do Rio Grande do Norte, onde foi apresentada apenas a fila ortopédica.
No país, cirurgias de catarata, hérnia, vesícula e varizes estão entre as mais demandadas pela população que depende da rede pública.
“Pela primeira vez o Conselho Federal de Medicina se aproxima do tamanho real da fila por cirurgias no SUS. Ainda que parciais, os números impressionam, já que os estados que prestaram informações representam metade de todo o volume cirurgias efetivamente realizadas na rede pública em 2016”, explica o presidente da autarquia, Carlos Vital.
Só no ano passado, 1.652.260 cirurgias eletivas foram realizadas no SUS. Segundo ele, vários são os argumentos para tentar justificar o volume de pacientes à espera de uma cirurgia e todos eles têm a mesma origem: recursos finitos para administrar uma demanda que é infinita.
Segundo as informações analisadas pelo CFM, quase metade de todos os procedimentos pendentes no País estão concentrados em apenas cinco tipos diferentes: catarata (113.185), correção de hérnia (95.752), retirada da vesícula (90.275), varizes (77.854) e de amígdalas ou adenoide (37.776).
Cidadania
Os pedidos de informações sobre as filas foram apresentados em junho deste ano a todos os 26 estados e Distrito Federal, além das capitais, por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão (e-SIC) dos governos estaduais e municipais – habitual caminho para que qualquer cidadão possa solicitar informações de caráter público via Lei de Acesso a Informações (Lei nº 12.527/2011).
“Mais do que uma busca por informações de caráter eminentemente público, buscamos fazer um exercício de cidadania. Por isso, queremos dar divulgação aos dados, compartilhando-os com outros órgãos de fiscalização, como os Ministérios Públicos Estaduais, inclusive relatando os casos em que os pedidos de acesso não foram atendidos ou foram negado”, destacou o 1º secretário do CFM, Hermann von Tiesenhausen.
Com Assessoria CFM