3 de dezembro de 2020 4:33 por Da Redação
Os dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) mostram que o número de casos confirmados de Covid-19 está aumentando em Alagoas. Especialistas já afirmam que o estado apresenta sinais de descontrole da transmissão do novo coronavírus.
No Boletim de ontem, quarta-feira, 2, foram confirmados mais 236 novos casos e três mortes.
Segundo Gabriel Baudé, coordenador do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em entrevista ao portal G1/AL, o número de novos casos em Maceió subiu 54% no período de 22 a 28 de novembro.
Diante dos sinais de que o estado pode viver uma nova onda de Covid-19, o governador Renan Filho (MDB) decidiu restringir os eventos de Réveillon, na capital, a 300 pessoas. O objetivo, explicou ele, é inibir o avanço do número de casos.
A limitação vem após as aglomerações que marcaram a campanha eleitoral no estado, quando comícios e caminhadas levaram milhares de pessoas às ruas, muitas descumprindo a regra de uso obrigatório de máscara.
Essa situação pode se repetir no Réveillon, celebração de final de ano com eventos públicos e privados que reúnem grandes públicos, com um agravante. Além dos festejos pela passagem de ano, 2020 é marcado pela eleição dos novos prefeitos e vereadores.
Os que ganharam querem festejar com as comunidades que representam, retomando as tão arriscadas aglomerações.
O vereador reeleito Siderlane Mendonça (PSB), por exemplo, publicou em sua rede social um vídeo em que convida a população do Benedito Bentes a participar de uma grande festa, já neste domingo, 6. “Vamos fazer uma lista festa! Você é nosso convidado” – diz Siderlane, que marcou a “festa da vitória” para as 15h, na Praça Padre Cícero.
Considerado o bairro mais populoso de Maceió, com mais de 88 mil habitantes, o Benedito Bentes , com seus 24,6 km² de área, é formado ainda pelos conjuntos habitacionais Benício Mendes, Frei Damião, Jardim Paraíso, João Sampaio II, Luís Pedro III, Moacir Andrade, Selma Bandeira.
Considerando a realidade daquela população, dificilmente uma festa em praça pública ali será limitada a 300 pessoas, como pretende o governador Renan Filho.
Já os deputados estaduais travaram extenso debate na sessão desta quinta-feira, 3, sobre a possibilidade de Renan Filho publicar decreto proibindo a realização de eventos de final de ano.
Alguns, como a deputada Cibele, Moura, definiu como “hipocrisia” uma decisão neste sentido.
“Pergunto-me por que esse tema não voltou aqui semana passada ou há 15 dias? Na minha região havia um decreto que proibia a aglomeração, mas em determinado momento a Justiça liberou a realização de eventos. Não existe outra palavra para definir esse momento que não seja hipocrisia, depois de uma eleição dessas, onde todos se aglomeraram, vamos agora falar em proibir os eventos e impedir as pessoas de ganharem dinheiro”, disse a deputada.
Ressaltando que participou das campanhas eleitorais, assim como o governador Renan Filho e os secretários municipais de Saúde, o deputado Davi Maia (DEM) preferiu se preocupar com o prejuízo que, se houver proibição de festas no Revéillon, a medida trará para o comércio, os ambulantes, produtores de eventos, agências de viagens, hotéis e prefeituras que investiram na realização de festejos de final de ano.
“Como dizer agora para o comerciante, para o produtor de evento e para o ambulante que eles não podem trabalhar? Qual a condição política tem de se proibir a realização desses eventos que estão programados, mesmo com toda condição sanitária, mesmo com projetos baseados em estudos de universidades?”, reclamou o parlamentar.
O líder do governo, deputado estadual Sílvio Camelo (PV), reagiu afirmando que a questão das eleições não foi uma medida adotada pelo Executivo alagoano, mas uma decisão da Justiça Eleitoral e do Congresso Nacional. A liberação da campanha, acrescentou, contribuiu para o aumento no número de casos de Covid-19;
A preocupação do governo agora, afirmou Sílvio Camelo, é conter o avanço do vírus e evitar uma segunda onda da doença. “A preocupação primeira continua sendo com as vidas; a economia vem depois. Não é e não será fácil. Teremos que ter, nesse momento, a união do Estado e das prefeituras para que possamos continuar combatendo a pandemia”, declarou.
Já o deputado Bruno Toledo (PROS) acha que o governo deve repensar qualquer decisão que proíba a realização de eventos festivos, pois esta não será atendida pela população. “Certamente gerará uma indignação da sociedade, que não respeitará essas medidas”, avalia o parlamentar.