25 de julho de 2021 10:48 por Da Redação
As imagens de um supermercado em Cuiabá (MT) vendendo fragmentos de arroz e de bandinhas de feijão para consumo humano, mostraram como o novo coronavírus, fonte da pandemia Covid-19, aprofundaram a exclusão na sociedade brasileira, expondo a fome que afeta milhões de pessoas. Além das mais de 500 mil mortes, a pandemia levou a população pobre a disputar produtos antes destinado a ração animal, ou que seriam descartados.
Vários estudos e publicações que alertaram sobre a possibilidade do aumento da fome durante a pandemia estavam certos, diz o professor-doutor Lucas Gama Lima, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
“O desenrolar dos acontecimentos confirmou o temível prognóstico. As determinações essenciais do fenômeno da fome no Brasil permanecem incólumes. As políticas públicas de segurança alimentar e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) foram desmontadas ou fragilizadas, especialmente, entre 2019 e 2020, na primeira metade do mandato presidencial de Bolsonaro” – afirma o pesquisador.
Docente do curso de Geografia do Campus do Sertão da Ufal, ele avalia os episódios em Mato Grosso como comprovação do crescimento avultado do número de vítimas da fome durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Segundo Luiz Gama, essa é, certamente, uma das mais graves crises de insegurança alimentar das últimas duas décadas. “São vinte milhões de pessoas, aproximadamente, sem ter o que comer e mais da metade da população brasileira sofrendo diferentes níveis insegurança alimentar” – afirma ele, em artigo.
Para ele, o agronegócio, que também não teve olhos para o desespero de quem aguarda numa fila por algo para comer, mostrou-se incapaz de sensibilizar seus operadores. Em seu texto, Lucas Gama mostra sinais de que não parece coincidência que os casos de comercialização de fragmentos de arroz e bandinha de feijão, bem como a doação de ossos bovinos tenham ocorrido.
O professor também discorreu sobre as práticas do agronegócio e como isso pode afetar a humanidade.
“Se o agronegócio prosseguir ditando a dinâmica do uso da terra, o destino da produção agrícola e se apropriando de parcelas importantes do fundo público, não serão poucos os episódios de filas por ‘ossinhos’, venda de ração animal como alimento humano, etc” – completou Gama. Na Ufal, o professor ministra as disciplinas Geografia Política e Organização do Espaço Mundial, Geografia do Brasil, Organização Espacial do Semiárido de Alagoas e Geografia Agrária.
Ele também dedica-se à investigação dos conflitos no campo por terra/território, estrutura fundiária, sementes crioulas e uso de transgênicos e agrotóxicos no estado. Também se dedica à análise da relação capital-trabalho e seus rebatimentos espaciais e territoriais.