27 de julho de 2021 9:47 por Braulio Leite Junior
Podia ainda existir a velha Cadeia de Maceió, erguida ironicamente na chamada Praça da Independência. Podiam considerar-se felizardos aqueles presos que mereciam ficar segregados nas celas cuja grades abriam para o exterior, e ainda mais felizes eram aqueles confinados nos cubículos mal cheirosos do lado esquerdo da construção, porque os seus companheiros do lado direito contemplava noite e dia a tristura silenciosa das janelas da Enfermaria Militar e os raros transeuntes que pelo estreito beco passavam, geralmente utilizando a calçada da fronteira, sem olhar para aquelas caras parvas ou sinistras que os espionavam como versões multiplicadas de Jean Valjean, personagem de Victor Hugo no romance Os miseráveis, enviado à prisão por haver roubado um pão.
Os pobres desgraçados do outro lado tinham mais sorte olhavam para o frondoso oitizeiro do largo, as casinhas de porta e janela das prostitutas fronteiras, a entrada da Rua Senador Luis Torres, que dá para a Praça Deodoro e, vez por outra, suprema felicidade, chegavam os circos, dos Irmãos Stevanovich, Nerino e outros, com seus velhos leões, girafas, zebras, onças, tigres e quem sabe se de suas miseras janelas engradadas não chegavam a surpreender, pela abertura da empanada, os graciosos saltos dos acrobatas, sem esquecer as músicas que ouviam executadas pelas bandas circenses.
Por dentro a escura cadeia, construída no século passado, ainda era mais terrível de se ver. À medida que avançavam os visitantes, ia-se fechando os altos portões de ferro às costas com pesados cadeados, como se também a eles estivesse sendo imposta uma súbita prisão, sem acusações nem julgamentos. Através das grades interiores, mãos sujas estendiam-se pedindo dinheiro, cigarros.
Tudo aquilo acabou, do dia para a noite. Um bem? Sim, pensavam as mentes tacanhas, os espíritos estreitos, as mentalidades sem vôo.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.