14 de agosto de 2021 12:26 por Braulio Leite Junior
Conta Otávio Brandão na sua monumental obra Canais e Lagoas que por muito tempo faltava em Maceió um farol. Na entrada da barra os navegantes muitas vezes se perdiam e suas náuseas eram levadas pelas ondas.
Foi em uma peripécia assim que um governante perdido descobriu Maceió. E quando amanheceu ele avistou um morro que batizou de “Remédio”, em homenagem à Virgem dos Remédios. Um morro, de onde se via os canais e as lagoas da formosa terra, uma espécie de dádiva de Deus, abarrotados de peixes, siris, camarões e um molusco chamado de sururu, que habitava na lama, “que era pão e luz”, uma feliz expressão de Jayme de Altavila.
Passaram-se os tempos. Maceió florescia. O comércio se desenvolvia. As embarcações iam e vinham singrando os mares. Em 02 de dezembro de 1851, no alto do Jacutinga, antigo Morro da Pólvora, foi lançada a primeira pedra do referido edifício. Era governador o Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo. Foi um trabalho árduo. Dia e noite, pois o conselheiro tinha pressa em que a cidade progredisse.
O velho farol ficava ao fundo da velha Catedral Metropolitana. Ao seu lado, uma praça. Era o mirante em direção a Jaraguá, Pajuçara e Pontal da Barra. Era nesse logradouro que as famílias vinham aos domingos. E a praça ficava com um ar de festa.
Ao lado do velho farol havia um mastro e no seu topo uma bandeira brasileira, sempre desfraldada. Horizontalmente, logo abaixo da bandeira, em forma de cruz, havia vários carretéis para as bandeiras dos países que possuíam agência de vapores nesta capital.
Não havia rádio. O povo ficava atento ao mirante do Farol de Maceió. Se uma bandeira do Loyde Brasileiro estava próxima ao topo significava que o navio já havia atravessado a barra e o prático estava rumando para trazê-lo até a enseada de Jaraguá. Então, a bandeira subia até o fim. Repentinamente, o navio dava aqueles três apitos nostálgico, como estivesse dizendo: Cheguei!… Esta operação de entrada e saída dos navios era feita por um servidor que varria o Atlântico com seu binóculo mesmo em dia de tempestade.
Era assim a Maceió provinciana de outrora. A influência do farol foi tão grande que, até hoje, ninguém chama bairro do Jacutinga. Só os velhos escritores falavam do Alto do Jacutinga.
O velho farol, que era lindo como peça arquitetônica, resistiu de 1851-Governo José Bento da Cunha Figueiredo-até os fins da década de 1940-Governo Silvestre Péricles.
Num sábado do mês de março abriram-se as portas do céu. Uma tromba d’água se abateu sobre Maceió, Casas foram soterradas. Famílias inteiras morreram. O riacho Salgadinho virou mar. Tragou o bairro do Poço. Órfãos. Viúvas. Pontes demolidas, arrastadas para o mar como aconteceu na Avenida Duque de Caxias.
O morro onde estava o velho Farol de Maceió desabou em parte pela entrada do Poço. E ficou rachado