1 de dezembro de 2021 11:27 por Da Redação
Por Marcelo Buzetto*
Um fenômeno político inesperado e muito bem vindo foi a criação do mais novo partido da esquerda brasileira: a Unidade Popular pelo Socialismo UP.
A UP é algo para se comemorar, pois sua existência é uma vitória de todas as forças progressistas, democráticas, populares e de esquerda do país.
Muitos não acreditavam na possibilidade de legalização de um partido de esquerda – ainda mais com Socialismo no nome – em pleno período de ofensiva da direita e da extrema-direita, onde as forças conservadoras se uniram para dar um golpe contra o governo Dilma e avançar na destruição dos direitos trabalhistas.
Mas a militância da UP foi às ruas, às praças, aos bairros da periferia, foi para dentro dos trens para apresentar a proposta do novo partido. Foram buscar apoio na classe trabalhadora, nas massas populares, que assinaram as milhares de fichas de apoio à criação do partido. Confiaram nas massas, sem dinheiro nem financiamento empresarial. Com uma militância aguerrida, ousada, persistente.
Além da legalização, a UP agora está novamente surpreendendo e trazendo uma novidade para a discussão sobre as eleições de 2022: a candidatura de um trabalhador negro para a presidência da República.
Num país marcado pelo racismo estrutural, as condições para o proletariado negro ter uma participação ativa e organizada nas lutas políticas do país sempre foram mais difíceis.
Léo da UP é proletário, preto e da periferia. Amadureceu politicamente nas lutas por moradia, reforma urbana e pelo Socialismo.
Tenho o prazer de conhecer esse grande lutador popular. Tornou-se presidente de um partido político de esquerda. Fundou esse partido em 2016 (oficialmente), em pleno governo golpista de Temer.
A UP se construiu num período de graves e contundentes derrotas das forças populares no Brasil, de ofensiva neofascista, mas sua existência é a prova concreta de que é possível sim acumular vitórias em um período onde a correlação de forças está favorável aos inimigos da classe trabalhadora e do povo brasileiro.
Lançar um candidato proletário, preto e da periferia é recuperar a história de figuras como Minervino de Oliveira, candidato do Partido Comunista do Brasil (PCB) à presidência da República, em 1929, pelo Bloco Operário-Camponês BOC. Minervino também era proletário, preto e da periferia.
Que a candidatura do companheiro Léo possa produzir alguma reflexão crítica no interior das forças de esquerda sobre a necessidade de estimular cada vez mais a participação ativa e organizada de pretos e pretas da classe trabalhadora nas mais diferentes lutas, assumindo a direção de sindicatos, de movimentos populares, de centrais sindicais e de partidos políticos.
Em tempos onde alguns defendem que é preciso ganhar a eleição de 2022 à qualquer preço/custo, ter uma candidatura preta, proletária, popular e periférica dá ânimo e esperança para as lutas do próximo período, especialmente para a juventude, já cansada dos acordos pelo alto para preservar os privilégios dos banqueiros, do agronegócio, da mídia empresarial-golpista e tantos outros setores da burguesia brasileira, sempre antipopular, anti democrática e antinacional, submissa aos interesses das grandes corporações transacionais e das potências imperialistas.
Minervino de Oliveira e Leonardo Péricles: pretos, proletários e periféricos, incomodando a Casa Grande, enfrentando, com ousadia e coragem, o racismo e o capitalismo.
*Professor universitário, é do setor de relações internacionais do MST e integrante do Comitê de Solidariedade aos Povos Árabes