terça-feira 26 de novembro de 2024

As minas de Alagoas: a face local e feminina do Festival Carambola 2022

Carambola almeja colocar Maceió no mapa da mina dos festivais de música independente brasileiros
Naty Barros | Divulgação

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Piscinas naturais. Nise da Silveira. Ponta Verde e Pajuçara. Maceió, capital do estado de Alagoas, já é conhecida por uma série de ótimos motivos e em Abril deposita na música um chamariz turístico e cultural sobre seu território, agora com o Festival Carambola. Atualmente em sua sexta edição, o evento vem ganhando cada vez mais espaço na agenda musical de Maceió e acontece daqui alguns dias, no final de semana de 2 e 3 de Abril, presencialmente, no estacionamento do Parque Shopping Maceió. Veja a line-up completa e compre os ingressos aqui.

Idealizado por duas sócias, Lili Buarque e Didi Magalhães, a proposta do Carambola é clara: fomentar a cena independente alagoana e, ao mesmo tempo, trazer para Maceió artistes nacionais de grande reconhecimento e que estejam localizades fora de Alagoas. A partir deste intercâmbio todo, o Carambola almeja colocar Maceió no mapa da mina dos festivais de música independente brasileiros, acompanhando movimentações como as dos vizinhos recifenses do Rec-Beat e do Coquetel Molotov e do potiguar Do Sol, entre alguns.

E isso já vem rolando. Nos dois anos em que a pandemia de Covid-19 manteve o setor cultural paralisado, Lili, Didi e sua equipe de produção fizeram da internet o principal território de manifestação do Carambola, botando no ar 3 edições virtuais em dois anos (2020 e 2021). A última, em especial, causou impacto pelo projeto Sala de Ensaio, que uniu artistes alagoanes com artistes carioques, resultando numa série de quatro sessions bonitas de se ver e ouvir. A cantora Flora Uchoa, de Maceió, foi uma das escaladas e na época ela contou um pouco mais dessa experiência aqui pra gente na Mulher na Música – leia aqui.

2022 e a volta dos eventos presenciais

Acompanhando as determinações públicas relativas ao fim do isolamento social no Brasil e abraçando todos os protocolos indicados para esta nova fase, o Carambola seguiu no embalo do sucesso da edição anterior e decidiu voltar à rua.

Escalando nomes como Jup do Bairro, Céu e Tuyo, entre outras, hoje o nosso papo volta-se totalmente às minas de Alagoas que foram contempladas pela curadoria do Carambola. Luana do Reggae, Cris Braun, Naty Barros e LoreB bateram um papo exclusivo conosco sobre seus shows, carreiras e outras ideias mais, revelando via Mulher na Música a face feminina e local do Carambola. Porque se é importante a gente saber para onde quer ir, o festival já entendeu que mais especial ainda é fortalecer seu ponto de partida.

“Temos excelentes novos nomes na cena alternativa do país e acreditamos que estamos conseguindo construir uma line up jovem, representativa e de altíssimo nível.” –Didi Magalhães, uma das idealizadoras do Festival Carambola

Luana do Reggae

Foto: Janderson Felipe

“Ainda Te Amo Demais” foi um dos grandes hits da história recente do reggae alagoano, lançado no início dos anos 2000. Grande responsável pelo sucesso da cantora e compositora Luana do Reggae, que atualmente vive em Porto Alegre, sua interpretação no palco do Carambola, pela própria Luana, no sábado 2 de Abril, promete ser um momento especial do evento. Nostalgia pura para o público alagoano, esse show será imperdível.

1) Luana, como foi pra você receber o convite do Festival Carambola este ano? Além de não viver mais em Maceió, nos dois últimos anos o setor musical ficou paralisado por causa da pandemia, então este festival acontecerá como um grande reencontro seu, não apenas com os palcos, mas também com a própria cidade de Maceió, certo? Muito frio na barriga por aí? 

Receber o convite do Carambola foi uma surpresa, deu um friozinho na barriga e deu medo também. Faz bastante tempo que eu não subo no palco. Mas me deixou muito feliz e ao mesmo tempo me deixou pensativa também, né? Porque voltar a Maceió depois de perder minha mãe é estranho. Tô morrendo de saudades de Maceió, de tudo de lá e quero matar essa saudade. A saudade do palco, do público… Tô com frio na barriga sim, mas vamo que vamo.

2) A cena reggae alagoana tem uma tradição própria que atravessa o tempo e hoje também se fortalece com a disseminação via internet. Qual sua relação com o reggae hoje em dia? 

Eu ainda continuo compondo, escuto muita música antiga, os reggaes antigos… Gregory [Isaacs], Barbara Jones, Jimmy Cliff… Os meus amigos também, meus colegas da música alagoana: Alex Melo, Osvaldo Silva… Edson Gomes, tudo isso me traz muitas lembranças boas. Lembro que meu pai escutava muito.

3) O que o público pode aguardar da sua participação no Festival Carambola?

O público pode sempre esperar o melhor de mim. Porque quando eu subo no palco, é sempre de coração aberto, para fazer o melhor.

Cris Braun

Foto: Divulgação

Gaúcha radicada em Maceió, Cris Braun é um nome relevante na cena roqueira nacional. Conhecida pelo seu trabalho com a banda de art rock Sex Beatles, que fez barulho na década de 90, de lá para cá foram diversos lançamentos solos, sendo o recente o disco Quase Erótica (2021), de onde vai sair o repertório do show que ela realiza no Carambola, no sábado, 2 de Abril.

Cris, uma honra falar contigo! Você é uma artista referência aqui pra redação e por isso queremos começar esse papo com uma pergunta bem aberta, pra você se divertir respondendo: de tantas fases e discos que você já lançou, qual repertório e qual Cris o público verá em ação no Carambola?

A honra é toda minha e vocês verão a Cris juvenil! O repertório é do meu recém lançado Quase Erótica (Lab344). Muitas das canções são releituras dos cults hits dos Sex Beatles, banda do início dos anos 90 que fiz parte, produzida por Dado Villa Lobos e tendo como band leader Alvin L. Letras irônicas, mulheres empoderadas e por aí vai. Algumas outras surpresas que nem eu mesmo sei, hahaha! Irreverência é a tônica, ato de resistência através desta irreverência, acredito. E humor!

Ainda partindo da sua trajetória até aqui, que foi marcada por parcerias muito especiais, a gente percebe que dentro da porção “alagoana” do festival, você é a artista com maior tempo de carreira. Qual a sensação de dividir uma line up com novos nomes do estado, e que, de algum modo ou de outro, desenvolvem suas carreiras por um caminho que você ajudou a pavimentar?

Olha, pra falar a verdade eu devo ser,  pelo que vi, a que tem mais tempo de carreira e idade do line up todo! Sex Beatles lançou o primeiro disco em 94 e o meu primeiro solo, Cuidado Com Pessoas Como Eu, foi pelo selo da Marina Lima, em 1998. Ou seja: tem gente que tava nascendo! Tô feliz como criança e no que diz respeito à cena local, muito me encanta e honra. A cena aqui ferve e é muito talento e crescente profissionalização, “gente grande” – fueds !

Dois anos de pandemia e agora um evento presencial, na cidade onde você mora. Muitas borboletas no estômago por aí à espera desse show? O que mais te encantou nesse convite feito pelo festival?

Zilhões de borboletas e neste momento inclusive reais, tomando esomeprazol. O que me encanta primeiro de tudo é essa equipe de mulheres maravilhosas e interessantes que promovem o festival. Eu vivia enchendo o saco delas, “eu queroooooo”! E acho que este último trabalho tem bem a ver com [o festival], finalmente recebi o convite. E obviamente estar entre as novas gerações, porque até mesmo Céu para mim é outra geração, a gente aprende, a gente admira, a gente se encanta! Eu e Rita Lee, de quem um dia também recebi convite para partilhar o palco, as “tias”, hahaha! Oh, aviso: tô em forma! Segura aí que vamos com tudo, preparem suas dancinhas!

Naty Barros

Foto: Divulgação

De Arapiraca, interior de Alagoas, Naty Barros traz a potência de seu disco solo de estreia, Bata Cabeça, para o palco do Carambola no domingo, 3 de Abril. Cantora, compositora e multi-instrumentista ela traz em seu som influências do xote, baião e embolada para o Hip Hop, Rap e Dub.

Naty, ouvimos Bata Cabeça aqui durante a apuração dessa pauta e viciamos! Parabéns pelo disco, trabalho potente e muito bem produzido. Então, vamos começar justamente por ele: o que o lançamento de Bata Cabeça significou para você, não apenas em termos de mais um – e importante! – passo na sua carreira, mas também pelo contexto em que ele nasce – uma pandemia. Dá pra dizer que a resistência que pulsa de Bata Cabeça está traduzida também da forma como esse disco surgiu?

Muito obrigada, ficamos felizes em ler isso! Com certeza. A pandemia foi um momento difícil para todo mundo, estávamos lidando com muitas inseguranças e ansiedades, então tivemos muitos desafios nesse processo, coletivos e pessoais. Foi mais de 15 pessoas trabalhando no álbum, cada uma tendo sua experiência particular, com suas perdas, seus medos, seu próprio tempo, imagine… Além disso, estávamos fazendo um álbum sobre vida, que eu queria que acendesse sóis, que fosse farol. Eu estava fazendo uma reverência ao passado e construindo um futuro possível e positivo para o povo preto ao mesmo tempo em que estávamos lidando com tanta morte e tantas incertezas com relação a esse futuro. Foi um grande desafio não só intelectual, mas também espiritual. O Bata Cabeça é resistência do início ao fim e, se parar pra pensar, não tinha mesmo como ser diferente.

No seu press release a gente encontra diversas referências sonoras que permeiam as tuas criações. E é muito interessante notar como o rap surge pra você e acaba se tornando esse principal caminho por onde todas as referências se desenrolam. Como você explica suas escolhas rítmicas? São decisões coletivas que você gera com sua equipe de produção ou você já tinha um “mapa sonoro” pronto na cabeça quando começou a produzir Bata Cabeça

Eu já tinha esse mapa pronto ou, pelo menos, bastante encaminhado no início das produções. Sempre gostei muito de experimentar, de brincar com as possibilidades e isso me ajuda muito a lidar com as indecisões e inseguranças na hora da gravação. Acredito que meu processo de escolhas para o álbum se construiu a partir de três pontos. O primeiro foi sobre aquilo que eu queria falar: “De quem e sobre o que essas músicas tratam?… De que lugar elas falam?”. O segundo ponto teve relação a quem eu queria falar: “Qual o objetivo dessas músicas, desse álbum?… Quem eu quero que essa música toque?”. O terceiro foi sobre o jeito que eu iria expressar os outros dois pontos: “Como aquela mensagem carregaria minha personalidade, minha verdade, meu espírito?” Tudo isso me fez traçar dentro das minhas referências e preferências musicais aquilo que eu gostaria de usar. Por exemplo, o álbum foi pensado a partir do afrofuturismo e da espiritualidade africana vivenciada nos terreiros, então havia alguns elementos estéticos que eu sabia que gostaria de usar, como instrumentos percussivos e coros, além de pads e sintetizadores que trouxesse essa ambiência digital/tecnológica para as faixas. Elas também falavam sobre minha história, minha infância – assim como a infância de muitas outras pessoas -, dos arraiais de rua, das brincadeiras de roda, do coco, então a zabumba, o triângulo, o pandeiro e a rabeca precisavam estar presentes. Ao mesmo tempo eu estava ali falando com a minha cidade, com meu estado, com tudo que vivi pelas ruas do Centro e pelas praças do interior e o rap foi esse ponto de encontro. O hip-hop é onde as experiências periféricas se encontram e a minha experiência envolvia tudo isso, então era a isso que eu precisava dar vazão, como se pode ver na faixa “Criptografia”: Um rap afrofuturista macumbado vindo diretamente do agreste alagoano, com batidas quebradas, elementos ultra digitais e uma rabeca certeira arrebatando tudo. No fim, esse processo tem relação com isso também, onde a sua arte pode ser com liberdade, verdade e originalidade? O quanto você está disposta a permitir que ela seja?

Naty, quais as expectativas pro show do Carambola? O que o público do evento pode esperar da sua apresentação?

Ah, as melhores! O Carambola marcará mais um passo especial na minha carreira, pois será meu primeiro festival. Então estamos trabalhando com muito carinho para garantir uma entrada com o pé direito. Particularmente, me sinto muito feliz e orgulhosa de ser um festival alagoano a me dar essa primeira oportunidade. Tem coisas que levamos conosco por muito tempo e esta, com certeza, será uma delas. Sendo assim, o público que vai ao Festival Carambola no dia 03 presenciará uma apresentação 100% autoral, com músicos super talentosos, trazendo muito Rap, muita espiritualidade, originalidade e muita potência vinda do agreste. É música feita pra sentir com o corpo todo e estarei lá, de corpo todo, esperando cada uma/um de vocês.

LoreB

Foto: Divulgação

A artista maceioense LoreB é uma das revelações da nova e efervescente geração alagoana dos últimos anos e atualmente divulga seu último lançamento, o álbum musical e visual Cheio de Vazio (2021). Neste projeto ela mistura o lado orgânico da música brasileira com elementos eletrônicos climáticos, tudo amarrado por letras que dialogam com as inseguranças, amores e dissabores da vida em um Brasil caótico e adoecido.

Lore, muito prazer, a redação da MNM tá muito feliz em te conhecer e papear contigo! Vamos abrir as ideias aqui com uma pergunta mais assim, inicial, pra que você possa nos contar um pouquinho mais de você: quando você começou na música, dos primeiros lançamentos até os frutos que Cheio de Vazio (2021) te gerou até aqui e, claro, em que sentido o show no Carambola marca sua fase atual?

Na música, eu comecei a cantar ainda criança num coro infantil. Mas me descobri como uma artista há pouco tempo, em 2019, quando eu decidi lançar meu primeiro EP, Etéreo. Depois de ter lançado esse trabalho, eu percebi que não queria mais fazer outra coisa da vida, tanto que abandonei minha profissão de formação. Então, depois do Etéreo, eu lancei mais alguns singles em parceria com outros artistas conterrâneos, como Maju Shanii e Wado, por exemplo. E ao decorrer dos últimos anos, trabalhei as composições para meu primeiro álbum Cheio de Vazio, que é um álbum que me mostra de uma maneira mais madura, eu acredito. Neste trabalho eu me envolvi, inclusive, na produção musical, além de produzir e protagonizar no álbum visual também. Os frutos gerados foram esses como essa apresentação no Carambola. Acredito ser o meu show mais importante até aqui, onde dividirei o palco com meus ídolos e minhas influências musicais. Penso que será um show inesquecível e marcará minha carreira de uma forma muito especial.

Durante nossa apuração sobre sua trajetória ficou bem nítida a movimentação constante que você faz com outres artistes alagoanes. Inclusive a Cris Braun, que também aparece na line-up do Carambola, e com quem você lançou o single “Se fosse normal ser louco?” no ano passado, certo? Pois bem, você passeia bastante nesse quesito de parcerias, como sente que esses encontros reverberam na sua identidade sonora e processos criativos?

Sim, tive o prazer de contar com a Cris nessa faixa, uma mulher admirável e que eu sou fã por toda trajetória dela. Acho muito bacana a gente poder trocar figurinha com outros artistas, todo mundo sai ganhando. Eu sinto que evoluímos todes juntes. É sempre um prazer, pra mim. Eu adoro conhecer os processos dos outros porque cada um tem sua personalidade também na hora de produzir e eu acho o máximo descobrir esses caminhos diferentes de cada um.

Nas suas redes sociais já vimos uma foto do ensaio pro Carambola. O que você e sua banda vem preparando para esse show? O repertório ficará todo em Cheio de Vazio ou o público pode esperar outras canções suas para além das do álbum?

Sim, estamos ensaiando e estamos todos ansiosos para esse show. Sobre o repertório, eu farei um resumão da minha carreira em 40  minutos de show hahaha. Então tocarei músicas do meu primeiro EP até músicas do meu último álbum, Cheio de Vazio. Vai ter de tudo!

Festival Carambola 2022
Data: Sábado e Domingo, 2 e 3 de Abril de 2022
Horário de abertura dos portões: 17:00 no sábado (2) e 16:00 no domingo (3)
Local:  Parque Shopping Maceió (Estacionamento) – Av. Comendador Gustavo Paiva, 5945 – Cruz das Almas, Maceió – AL
Ingressos: a partir de R$ 60 – 
acesse aqui
Classificação etária: 18 anos
Protocolos sanitários (Covid-19): necessário comprovante de vacinação para acesso ao evento
Formas de pagamento: cartão de débito, crédito e boleto

 

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