Por André Cintra, do portal Vermelho.org
No papel, estava tudo certo. As semanas que antecedem o início oficial da campanha eleitoral, em 16 de agosto, seriam de “correção de rota” para a pré-candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição. Tudo para reduzir a vantagem favorável a seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na disputa ao Planalto.
O principal objetivo dessa fase da pré-campanha era reconquistar os “bolsonaristas arrependidos”. Em seus discursos, o presidente daria mais ênfase a suas ações na área econômica e evitaria insistir no tom beligerante. Acenos seriam feitos. Este era o plano dos publicitários Fábio Wajngarten, Duda Lima e Sérgio Lima – que ainda receberam propostas do empresário Roberto Justus.
Mas é impossível dissociar o presidente e o candidato. Responsável maior por um governo de destruição nacional, Bolsonaro tem sabotado as próprias ações da pré-campanha para melhorar suas intenções de votos. Aliados reconhecem que o risco de derrota já no primeiro turno para Lula será ainda maior, caso o ex-capitão não recue.
Na terça-feira (12), houve reunião do chamado “núcleo duro da campanha à reeleição”. Foi consenso que Bolsonaro precisa, urgentemente, reconquistar ao menos parte dos eleitores que ele teve em 2018, mas perdeu ao longo de seu governo, sobretudo na região Sudeste. Do contrário, não haverá segundo turno.
“No diagnóstico desse grupo, o titular do Palácio do Planalto precisa modular o discurso, escolher melhor seus antagonistas e até mudar hábitos”, informou O Globo, ao noticiar a reunião. “O primeiro passo acordado entre os integrantes da campanha”, conforme o jornal, “é blindar Bolsonaro das ‘más influências do zap’, ou seja, reduzir a influência de aliados mais radicais sobre ele”.
De acordo com pesquisas internas, os ataques de Bolsonaro à democracia ou às urnas eletrônicas, por exemplo, estancam suas chances de avançar nas pesquisas. Da mesma maneira, eventos como as motociatas e encontros com evangélicos pregam para “convertidos”, pois só atraem “eleitores que já estão com Bolsonaro”. Por isso, os conselheiros mais radicais do presidente viraram um empecilho eleitoral.
“Essa ala de bolsonaristas tem por hábito se comunicar por meio do aplicativo WhatsApp, torpedeando o presidente com mensagens desde a madrugada. Por vezes, segundo membros da campanha, esse material pauta declarações de Bolsonaro”, agregou a matéria. Como se viu no caso do assassinato do petista Marcelo Aloizio de Arruda, no domingo (10), em Foz do Iguaçu (PR), o presidente ignorou a nova cartilha e inflamou ainda mais os ânimos. A “turma do zap” prevaleceu.
Agora, a pré-campanha quer turbinar o evento de lançamento da chapa Bolsonaro-Braga Netto, que ocorre em 24 de julho, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro (RJ). A diretiva é de garantir um discurso de Bolsonaro com “mais emoção”, dialogando preferencialmente com as mulheres. Buscar votos do eleitorado feminino é outra prioridade.
Segundo o Poder360, o PL, partido do presidente, “orientará aos integrantes do alto escalão dos partidos a irem acompanhados de suas mulheres. A avaliação da equipe de marketing da campanha é a de que Bolsonaro aparece sempre rodeado de homens, o que afasta o eleitorado feminino. O QG do partido quer tomar o palco de mulheres, inclusive com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro”.
Na ocasião, será lançado o primeiro clipe da pré-campanha, com o jingle Capitão do Povo, da dupla sertaneja Mateus e Cristiano. De tom saudosista e apelativo, o vídeo lembra a facada da qual Bolsonaro foi vítima em 2018 e aposta no verde-amerelo. Há imagens de Bolsonaro inaugurando um trecho da transposição do Rio São Francisco.
O apelo à mulher e à família também são ressaltados. “Utilizando imagens do presidente no Santuário Nacional de Aparecida e na Catedral de Brasília, a canção afirma que Bolsonaro ‘é de Deus’ e ‘defende a família’. A primeira-dama Michelle Bolsonaro aparece rapidamente, beijando o marido”, diz O Globo.
Se todas essas estratégias derem certo – e o presidente ainda for beneficiado com o pacote eleitoreiro contido na PEC do Desespero –, não se espera exatamente uma virada. A jornalista Bela Megale relata que a meta bolsonarista é “chegar ‘embolado’ com Lula”, com “no máximo 2 pontos percentuais de diferença do petista, o que conferiria, na prática, um empate até o dia 2 de outubro”. Mas quem garante que Bolsonaro realmente será enquadrado nessa camisa-de-força eleitoreira?