Por João Guilherme Vargas Netto
Sob um disfarce temerário o editorial do Globo do último domingo, dia 17, destila o veneno bolsonarista ao afirmar que a deforma trabalhista “deu certo” porque criou 4,8 milhões de empregos formais desde 2018 até maio do ano corrente e garante que os empregos foram criados porque a deforma “quebrou a rigidez histórica da CLT”.
É ou não é o endosso da tese de Bolsonaro mil vezes repetida nos três anos e meio do seu mandato dentro daquele período, de que o trabalhador tem que escolher entre direito e emprego?
Mesmo que se admita, por uma unilateralidade estatística, que a deforma “criou” emprego, desprezando o próprio ciclo de retomada da economia após os desastres anteriores ao impeachment da presidente Dilma, o processo todo desencadeado pela deforma temerária demonstrou menos a escolha do trabalhador que a imposição daqueles que romperam o mais que decenal pacto existente na sociedade de respeito aos direitos e aos sindicatos.
Imposição do acordo individual sobre o coletivo, terceirização abusiva, dificuldades no acesso à Justiça do Trabalho, tentativas de destruição dos sindicatos e rebaixamento permanente do valor dos salários (a começar pelo salário mínimo, sem ganho real e consumido por uma cesta básica cada vez mais cara): eis os resultados da deforma trabalhista, mesmo que acompanhados da criação de empregos formais que ocorreriam pela retomada do ciclo de expansão como já acontecera antes sem os atributos da deforma.
O editorial do Globo ideologiza a discussão, aferrando-se a números e causa discutíveis e é bolsonarista em seus argumentos e conclusões.
Eu poderia argumentar que a vigorosa greve vitoriosa dos metalúrgicos da Renault, contra as 747 demissões, ao estancar em 2020 a epidemia de demissões que se anunciava é o elemento central que garante hoje os números positivos de empregos mantidos, influindo nos resultados.
*É consultor de entidades sindicais de trabalhadores