terça-feira 7 de janeiro de 2025

UFAL: é hora de retornar plenamente ao ensino presencial

Reprodução

Por Tiago Zurck 

A Pandemia do coronavirus interferiu no nosso cotidiano. Passados mais de 2 anos a cobertura vacinal possibilitou a sociedade o retorno a sua “normalidade” com os devidos cuidados.

Com a 4ª dose disponível é hora de ocuparmos, com os devidos cuidados, plenamente as ruas, os corredores, as cantinas, os auditórios, os laboratórios e, principalmente as salas de aulas da UFAL.

A Resolução nº 52/2022-CONSUNI/UFAL Art. 2° preconiza que “as atividades acadêmicas e administrativas serão regularmente realizadas nos semestres 2022.1 e 2022.2, mantendo-se seu formato presencial, ficando suspensas as situações de excepcionalidades estabelecidas, em decorrência da pandemia da COVID-19, pela Resolução Nº 05/2022-CONSUNI/UFAL, de 15 de fevereiro de 2022.” Finalmente vamos poder nos encontrar presencialmente e voltar a dar vida as salas de aulas, prédios, praças, laboratórios da maior instituição pública do Estado de Alagoas.

Os corredores e as salas de aulas clamam pela nossa presença; os corredores desejam ouvir nossas vozes e risadas; almejamos pelos debates presenciais no CONSUNI, o entre e sai da biblioteca, a paquera na fila do RU, a galera na pracinha do amor; a UFAL quer ver novamente os transeuntes utilizando suas ruas para se deslocarem até suas residências porque passando pelo A.C. Simões se sentem mais seguros; os espaços de convivência nos convidam para os encontros na hora do almoço nas cantinas do CIC, CEDU, FAMED, CETEC, ICBS, ICHCA, no CECA, aquele lanche entre uma aula e outra nos campi do Sertão e Arapiraca para colocar aquele papo em dia.

INDICADORES SOBRE O ENSINO REMOTO APONTAM MEDIANA e BAIXA QUALIDADE!

Partindo do parâmetro que os indicadores de qualidade* de uma instituição consolidada como a UFAL devem ser BONS e/ou ÓTIMOS, analisando os indicadores de avaliação do semestre 2020.1 divulgados pela CPA-UFAL (veja aqui), chegamos à conclusão que o ensino remoto não é o nosso parâmetro, tampouco nossa meta. Destaco alguns indicadores:

ü 67% dos estudantes classificam o nível de aprendizado entre regular e ruim, ou seja, mais de 50%, enquanto 32% classificam como Bom e Ótimo.

ü Já para os professores 73,7% consideram o nível de aprendizado entre regular e ruim enquanto, apenas 26,3% consideram BOM ou ÓTIMO.

ü Para 40% dos professores o semestre 2020.1 foi BOM ou ÓTIMO, enquanto 60% consideram REGULAR/RUIM ou PÉSSIMO.

ü Outro indicador que chama a atenção: a maioria dos estudantes assiste aula pelo celular. Esse dado revela que as condições para estabelecer um ensino com qualidade pelo ensino remoto/EAD não estão dadas. Imaginemos os professores ministrando suas aulas pelo celular, digitando os seus artigos pelo celular e elaborando seus projetos pelo celular. Não dá né?!

A precarização do trabalho docente, também, é apontada no modelo remoto. A UFAL não garantiu as condições de trabalho para o desenvolvimento do ensino remoto. As 4 maiores dificuldades que limitaram o trabalho dos professores foram (em ordem): Instabilidade da conexão da internet, ausência de espaço/mobiliário adequado, dificuldades para conciliar atividades domésticas e trabalho e computador ou notebook com baixo desempenho.

Por último, outro indicador que deve ser considerado e que reforça a necessidade de retomarmos por completo as aulas presenciais é o dado sobre o ESTADO EMOCIONAL DOS ESTUDANTES. Embora observemos uma leve melhora nos indicadores BOM e ÓTIMO na evolução da percepção dos estudantes entre os 3 semestres de 2020.1 a 2021.2, os indicadores apontam que mais de 65% dos estudantes consideraram o seu estado emocional entre regular e ruim o que, por certo, afetou a qualidade do aprendizado.

A experiência do ensino remoto foi a medida paliativa que adotamos para, nos limites da pandemia, continuarmos com o nosso compromisso com a educação pública. Diversos aprendizados e outras possibilidades foram encontradas durante essa experiência. Mas, está dado que o ensino remoto não é, nem de longe no Brasil, o parâmetro para a qualidade de uma educação compromissada com, no mínimo, uma BOA formação integral dos estudantes.

O contexto social onde mais de 70% dos estudantes das universidades federais são de famílias em vulnerabilidade social (Andifes, 2019); os cortes orçamentários nas universidades que ao longo dos últimos 5 anos representam cerca de 96% comparado ao que era destinado em recursos públicos antes de 2017; as consequências desse brutal corte como a precarização do nosso trabalho e dos estudos dos alunos; o uso do ensino remoto ou da EAD para o ensino presencial, pelos intelectuais do modelo da gestão “empresarial”, como parâmetros de “eficiência” – fazer MAIS com MENOS – para normalizar e justificar o desfinanciamento do ensino superior e a transferência dos recursos da universidade pública para o setor privado ratificam que é HORA DE RETORNARMOS PLENAMENTE PARA AS NOSSAS ATIVIDADES PRESENCIAIS, com os devidos cuidados.

Retomar, portanto, plenamente as atividades presenciais da UFAL nesse momento não é apenas uma questão de bom senso, mas de compromisso com a BOA qualidade da Universidade Pública e de resistências às tentativas do esvaziamento dos espaços físicos e do seu desmonte!

*Possui Graduação-Licenciatura em História pela Universidade Federal de Alagoas (2004). Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas e Doutor em Educação pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), com ênfase em Política Educacional, planejamento e gestão da educação.

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