15 de agosto de 2022 12:34 por Da Redação
Religiosos das mais diversas fés e representantes da sociedade civil se manifestaram, por meio de nota da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, contra a intolerância religiosa praticada pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Na campanha do marido, o presidente Jair Bolsonaro, à reeleição, ela faz ataques às religões de matiz africanas nas redes sociais e em cultos religiosos, além de associar os adversários políticos ao demônio. O ápice foi durante o culto na Igreja Batista Lagoinha, em Belo Horizonte-MG, que tem entre seus pastores o assassino da atriz Daniela Perez, com quem Michelle e Bolsonaro jantaram em sigilo.
“Tais declarações ferem o Estado Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacifica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças”, destaca a nota.
De acordo com as entidades, quando atribui administrações anteriores uma “consagração ao demónio” , a primeira-dama repete uma antiga prática “excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de violência de forma legitimada”.
A Frente Inter-religiosa classifica a atitude da primeira dama como um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas. “O resultado dessas declarações não pode ser outro senão fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecuménica. Com este discurso de ódio em nossa pátria, os casos de violência e intolerância religiosa aumentaram de forma vertiginosa nos últimos 4 anos”, revela o documento.
Leia na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO
A Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, reunindo religiosos das mais diversas fés, agentes inter-religiosos e membros da sociedade civil, vem a público expressar sua profunda preocupação e seu repúdio às recentes declarações da atual primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, com anuência do presidente que a acompanhava, na Igreja Batista em Belo Horizonte. Tais declarações ferem 0 Estado Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacifica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças.
Ao atribuir administrações anteriores uma “consagração ao demónio” , a primeira-dama repete uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de violência de forma legitimada. Portanto, um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas. Essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes. O resultado dessas declarações não pode ser outro senão fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecuménica. Com este discurso de ódio em nossa pátria, os casos de violência e intolerância religiosa aumentaram de forma vertiginosa nos últimos 4 anos.
Ao sugerir também que quem está no comando da cadeira presidencial no atual mandato seria Jesus, ela também comete crime contra a Constituição Nacional de 1988, que proíbe qualquer relação de dependência ou aliança de autoridades politicas com religiões especificas, e abre um terrível precedente quanto à teocracia em nosso país. Lembramos que a Presidência da República é uma instituição republicana fundamentada em mandato secular, em um pais laico, que nao está imbuído de predileçào divina em relação a outros políticos e que é seu dever constitucional governar para toda a população nacional, independentemente de credo ou opção partidária.
Nossas tradições religiosas em diálogo concordam que 0 papel social da religião é apoiar a sociedade a transcender as suas diferenças e nos reunirmos pela defesa do bem comum, contribuir decisivamente para que cada pessoa possa superar suas tendências egoístas, violentas e intolerantes – essas sim demoníacas — e acessar as capacidades de amar, respeitar e apreciar a diferença.
Dentro desses principios, devemos inspirar a humanidade a deixar para trás todo discurso que divida a sociedade entre “nós” e “eles” e fomentar a criação de um espaço em que toda pessoa possa, em pé de igualdade, contribuir para o avanço de todos. Acreditamos que muitas pessoas que seguem as tradições Protestantes, Pentecostais e Neopentecostais, mesmo Batistas da denominação supramencionada, sio inspiradas por esse mesmo ideal.
F em nome do respeito à fé, pedimos que a Primeira Dama se retrate imediatamente, dentro dos princípios cristàos de amor ao próximo que afirma professar e aja em conformidade com as leis que regem nosso pais, a fim de que seja verdadeiramente uma Pátria para todos os Brasileiros e Brasileiras, indistintamente de opção religiosa ou política.
FRENTE INTER-RELIGIOSA DOM PAULO EVARISTO ARNS POR JUSTIÇA E PAZ