5 de outubro de 2022 10:29 por Da Redação
Por Rita Almeida*
A parte mais perversa das chamadas fake news não está no fato delas criarem realidades falsas para deturpar a capacidade de avaliação das pessoas. A eficiência e o poder desse método de propaganda fascista é ainda maior por ser capaz de, cuidadosamente, criar as realidades e teorias que as pessoas querem acreditar para realizar seus desejos mais inconfessáveis.
Por outro lado, é muito difícil desconstruir uma fake news quando a pessoa deseja e precisa dela para manter as convicções que formam sua subjetividade. E quanto mais empobrecida e frágil é sua condição subjetiva, mais ela precisará se agarrar a essas mentiras, ilusões e negações que as notícias falsas carregam consigo.
Mussolini dizia que não inventou o fascismo, mas que apenas foi capaz de extrair o que já estava lá, dentro dos Italianos. E foi isso que o Bolsonazismo conseguiu também: extrair o pior que o Brasil guardava em seus porões obscuros, e para isso, as fake news se tornaram um método muito eficaz. Por meio delas, tal extração pode ser feita de maneira indolor e sem angústia, afinal, é muito mais fácil, por exemplo, justificar que se está a combater banheiros onde homens podem entrar junto com garotinhas e assim defender a honra da família tradicional, do que admitir que se gostaria mesmo é de elimin4r homoss3xuais. É mais fácil acreditar que se está combatendo satanás e defendendo Jesus Cristo, do que admitir que a verdadeira intenção é eleger um elemento vil e podre da pior categoria de ser humano, exatamente por quem ele é.
Quanto mais rápido enxergarmos que a grande maioria dos eleitores de Bozonazi votaram nele desejosos pelo que ele é e pelo que diz, mais rápido reagiremos a isso.
Wilhelm Reich disse certa vez sobre a Alemanha Nazista: “Não, as massas não foram enganadas, elas desejaram o fascismo num certo momento, em determinadas circunstâncias, e é isso que é necessário explicar, essa perversão do desejo gregário”.
*É professora doutora e psicanalista