27 de dezembro de 2022 2:10 por Geraldo de Majella
A eleição do presidente Lula, em 2022, tem caráter político diferente das eleições de 2002 e 2006, quando foi eleito e reeleito para a Presidência da República. Nestas primeiras, as coligações ficaram restritas aos partidos de esquerda e mais o Partido Liberal (PL) do candidato a vice-presidente, José Alencar.
Graças à experiência adquirida por Lula e pelo Partido dos Trabalhares (PT) nas disputas políticas, com derrotas e vitórias, em 2022, foi necessário constituir uma Frente Ampla de caráter democrático, diante da conjuntura política.
O que esteve em jogo não foi a eleição de um candidato, mas, a democracia. A extrema-direita que venceu as eleições em 2018, com Jair Bolsonaro (PSL) e Hamilton Mourão (PRTB), conspirou durante quatro anos contra a democracia e procurou, de todas as formas e maneiras, enfraquecer as instituições do Estado.
A experiência de Frente Ampla não é, propriamente, uma novidade no Brasil. Em 1966, esta ideia uniu três líderes políticos de campos ideológicos diferentes: João Goulart, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda.
Os dois ex-presidentes da República JK e Jango tiveram os seus direitos políticos suspensos por dez anos e os mandatos cassados. Carlos Lacerda fez oposição visceral aos dois. A Frente Ampla defendia a necessidade de restauração da democracia no Brasil. Esse era o ponto que unia os três adversários. Essa tentativa não logrou êxito naquele momento histórico.
O PCB, sob cerco repressivo, elaborou estratégias que tiveram como centro da ação política todos os democratas e liberais que desejavam o fim da ditadura militar. A Frente Ampla surgiu no interior do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) com sucessivas vitórias que foram isolando o regime no campo político, onde o parlamento cumpriu um papel relevante.
O jovem líder sindical operário Luiz Inácio Lula da Silva e outras lideranças sindicais, a partir de 1977, passaram a exercer protagonismo político através dos movimentos grevistas no cinturão metalúrgico da Grande São Paulo.
Ameaça constante
Bolsonaro tem sido uma ameaça constante à ordem democrática nacional, liderança da extrema-direita com apelo popular provocou mudanças até então impensáveis para o PT e a esquerda brasileira, obrigando a formação de uma Frente Ampla que não foi constituída apenas com o caráter eleitoral. Ela terá de avançar na perspectiva de se consolidar como mecanismo de exercer o Poder no marco do Presidencialismo brasileiro.
A construção e posterior consolidação desta Frente é uma obra de artífices habilidosos que compreendem a importância do conjunto, mas, que trate de especificidade de cada um dos partidos e personalidades. O Programa escolhido pelos eleitores em outubro é o que deve ser aplicado. Para tanto, é necessária a existência de um núcleo dirigente que não exerça a hegemonia pura e simples.
A montagem do governo
A habilidade e o carisma do presidente eleito Lula é um capital único no atual momento político nacional. A formação de bancadas na Câmara e no Senado Federal é um desafio com que o presidente eleito pela 3ª vez tem experiências distintas em cada um dos momentos vividos nos governos anteriores.
O núcleo de apoio será no entorno dos partidos que o apoiou no primeiro turno e os que vieram no segundo. Outra parte significativa virá, não por gravidade, porém, mais pela necessidade de continuar existindo no cenário nacional e, prioritariamente, nos estados onde estão suas bases e razão de existirem.
As adversidades do momento são infinitamente maiores do que em 2002, quando assumiu a Presidência da República pela primeira vez, sem uma base sólida, e sem experiência administrativa tanto cobrada pelos adversários, pela elite econômica e pela mídia corporativa.
A crise que herdará foi construída com a determinação de quem anunciou que iria desconstruir o Estado brasileiro nos primeiros dias em que assumiu a Presidência da República. Bolsonaro entrou para a História como o pior e mais cruel presidente que a República teve em 133 anos.
A distância entre o Lula de 2002 e o Lula de 2023 é abissal, este último, é um líder com laços políticos suprapartidários e respeitado pela comunidade internacional e pelos chefes de Estado.
2 Comentários
Só esperamos que o PT não faça como o Junior Cesar e não se agarre ao para-choque da frente ampla.
Só esperamos que o PT não se agarre ao para-choque da frente ampla.