terça-feira 24 de dezembro de 2024

Conheça o Mães do Arco-íris, coletivo que luta em defesa da população LGBT em Salvador

Criado em 2018, o grupo defende políticas públicas para LGBTs e promove atividades de formação e assistência social
O coletivo defende o envolvimento das famílias e da sociedade para combater o preconceito e a desinformação sobre a comunidade LGBT | Arquivo pessoal

Por Claudia Correia, do Brasil de Fato

Segundo dossiê divulgado pelo Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, de janeiro a setembro de 2021, o Brasil registrou 316 casos de mortes envolvendo pessoas LGBTQIAPN+. Foram 285 assassinatos, 26 suicídios e 5 mortes por outras causas. A pesquisa foi feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), a Acontece, Arte e Política LGBTI+ e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis , Transexuais e Intersexos (ABGLT), cujos dados foram sistematizados pelo observatório.

Dentre os estados com maior número de mortes estão São Paulo (42), Bahia (30), Minas Gerais (27) e Rio de Janeiro (26). Salvador figura como o segundo município brasileiro com maior número de mortes violentas em 2021, com 11 casos. Feira de Santana, segundo maior município baiano, aparece no estudo em 5º lugar, com 7 casos.

Um dos casos emblemáticos apresentados no dossiê é o de Vida Bruno, homem trans negro, coordenador de Políticas e Promoção da Cidadania LGBT da prefeitura de Salvador. Ele foi agredido na cabeça num restaurante da capital baiana em novembro de 2020 e, após dois meses internado, faleceu em decorrência dos ferimentos.

Organização coletiva

Para enfrentar esse cenário, mães de pessoas LGBTQIAPN+ criaram em 2018 o Coletivo Mães do Arco-íris. Fundado em Salvador, o grupo tem como objetivo acolher mães e familiares para que entendam e respeitem a diversidade e apoiem as identidades sexuais e de gênero das pessoas ao seu redor.

As atividades do Coletivo Mães do Arco-íris  priorizam o combate à LGBTfobia, ao racismo, capacitismo, machismo, sexismo, xenofobia e demais tipos de preconceito e exclusão social. O grupo atende familiares e pessoas LGBTQUIAPN+ distribuindo cestas básicas, promovendo campanhas solidárias, encontros e encaminhamentos para serviços de saúde, assistência social, psicológica e jurídica.

Cristiane Sarmento, coordenadora do coletivo e mãe de uma mulher trans, defende o envolvimento das famílias e da sociedade para combater o preconceito e a falta de conhecimento sobre as identidades sexuais e de gênero.

“A gente precisa romper com essa cisheteronormatividade porque ela é adoecedora para todo mundo. É preciso entender que nós, seres humanos, somos plurais, que cada ser humano é único com suas especificidades e toda sua diversidade”, afirmou.

Kin Bissents Bispo Santos, mulher trans, artista plástica e estudante da UFBA, participou do projeto “Respeite meu nome”, organizado pelo coletivo, e reconhece os avanços conquistados.

“Ser reconhecida, ver meu nome na faculdade retificado, na conta, sem passar por constrangimentos que eu passava foi o maior impacto para mim, porque o nome é nossa primeira porta de entrada”, destaca.

Em defesa de políticas públicas

Apesar das demandas crescentes, as políticas públicas não atendem às necessidades específicas do segmento LGBT. As principais solicitações que chegam ao coletivo Mães do Arco-íris incluem retificação de nome para pessoas trans, aquisição de alimentos, roupas e móveis, acesso a emprego, renda e capacitação profissional, assistência médica, jurídica, psicológica e farmacêutica.

A entidade solicitou à Secretaria Municipal de Saúde de Salvador o fornecimento de hormônios e bloqueadores para toda população trans e travesti da cidade. No Hospital das Clínicas, onde foi criado um ambulatório específico para o segmento LGBT, a reivindicação é que ele seja a porta de entrada para cirurgias de redesignação sexual.

Cotas nas universidades e Casa de Acolhimento Municipal são algumas das pautas do coletivo para a população LGBT | Arquivo pessoal

Outra política pública que consta na pauta da entidade é a criação de uma Casa de Acolhimento Municipal para a população LGBT, particularmente jovens expulsos de suas casas ou que vivem em ambientes com violência psicológica e física, e que não têm para onde ir. O Coletivo defende a permanência e ampliação  das cotas para acesso às universidades e luta por cotas também em empresas que participam de licitações com o município para aumentar a qualificação e empregabilidade desses sujeitos.

Ariel Pereira dos Santos, homem trans e ativista de redes sociais, também critica a ausência de políticas públicas para o segmento. “As políticas públicas em geral deixam a desejar, não temos acesso. É um problema do Brasil, quando se trata de saúde, tudo que é público. A gente não é preferência em lugar nenhum.  Através desse projeto eu nasci de novo, tive meu direito de retificar meu nome”, declarou.

Para 2023, a expectativa do coletivo é de que, com o novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), haja um grande avanço nas pautas dos Direitos Humanos e da população LGBT.

“Estamos bastante esperançosas de que, a partir de 2023, a gente retome o crescimento e a conquista das políticas públicas e as garantias de direitos a partir do próprio Ministério dos Direitos Humanos, que deve ser implementado novamente, e os Conselhos de Direitos”, finalizou Cristiane Sarmento.

Please follow and like us:
Pin Share

Mais lidas

Paulão cita 082 Notícias e volta a denunciar crime da Braskem em Maceió

O deputado federal Paulão (PT) usou o artigo “A Justiça que segrega”, do historiador

Polícia científica identifica digitais de suspeitos em brigas entre torcedores de CSA e CRB

Uma perícia realizada pelo Instituto de Criminalística de Maceió em um veículo utilizado na

Cultura reúne artistas musicais para novo cronograma do 6º Festival Em Cantos de Alagoas

A Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult) reuniu, na terça-feira (10),

TRE proíbe motorista de aplicativo de colar adesivo de candidatos

Veículos cadastrados em aplicativos de transporte urbano, como Uber, 99, InDriver e outros, não

Eleições 2024: cresce em 78% o número de eleitores menores de 18 anos

Por Iram Alfaia, do portal Vermelho O Brasil possui 1.836.081 eleitores menores de 18

Eleitores vítimas da Braskem são orientados a buscar novos locais de votação

A mineração predatória que a multinacional Braskem S/A realizou em Maceió por quase 50

  Dados de Projetos Esportivos Clube de Regatas Brasil – CRB Autor Descrição da

Senador vê desprendimento na renúncia de Joe Biden

O senador alagoano Renan Filho (MDB), ministro dos Transportes no terceiro governo do presidente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *