Por Karina Dantas e Thiago Aquino, da Agência Tatu
A gratuidade do transporte público representa uma preocupação a menos para milhares de estudantes que precisam se deslocar diariamente na busca de um futuro melhor. Esse é o caso de Huan Rocha, 20 anos, que faz uso do Passe Livre Estudantil em Maceió, capital de Alagoas.
Por mês, o jovem economiza R$73,70, um valor que termina sendo direcionado para outras necessidades. Uma economia de menos de 100 reais por mês pode parecer pequena para algumas pessoas, mas significa um grande benefício para outras.
De acordo com o estudante do curso de Administração da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), com a quantia economizada das 44 passagens mensais fornecidas através do Passe Livre, ele consegue investir um pouco mais na sua educação, comprando livros para estudar, por exemplo.
“Acordo às 5h da manhã para ir a faculdade, em seguida vou ao Sebrae para o estágio, depois disso tudo, volto para casa. Então são 60 passagens ao total, e 3 ou 4 vezes por dia. [Antes do benefício] eu tinha que ser criativo para economizar dinheiro e orava para não ter um aumento nas passagens”, diz Huan.
O alívio nas contas mensais também é relatado pelo estudante de Arquitetura e Urbanismo na Ufal, Fabrício Matias, que tem 22 anos e mora em Satuba, região metropolitana de Maceió. Segundo ele, abater esse valor faz muita diferença nas contas do mês, já que ele depende 100% do transporte público para se locomover diariamente.
“Caso não tivesse esse benefício das passagens gratuitas, o valor que eu teria que tirar do meu próprio bolso para pagar passagem para faculdade e para ir ao estágio seria muito maior. Isso é gratificante porque, querendo ou não, dependemos do transporte público e precisamos desses meios de locomoção para ter acesso à educação, a lazer e até mesmo dá a oportunidade de ter um valor a mais no final do mês que seja pouco”, afirma Fabrício.
Ter que ir aos compromissos sem ter o transporte público como meio de locomoção é uma experiência difícil para quem precisa, como conta Huan Rocha no período em que perdeu seu cartão de transporte.
“Tive que passar no crédito as idas à Ufal e até ir ao trabalho de bicicleta ou andando por não ter dinheiro o suficiente. Com o transporte, passo menos tempo entre um compromisso e outro, já que perdia tempo quando ia andando, além de não ter risco de tomar mais chuva”, conta Huan.
Para os dois estudantes, que fazem estágio fora da Universidade, a quantidade de passagens fornecidas gratuitamente por mês ainda não é suficiente para suprir toda a locomoção do dia-a-dia, mas ainda assim termina sendo de grande ajuda.
“Como só recebo 44 passagens e uso em média 6 por dia, eu não acho que ainda seja totalmente suficiente. Geralmente ainda tenho que colocar créditos a mais para conseguir finalizar o mês, então, uma quantidade maior seria ainda mais benéfico”, explica Matias.
Passe livre estudantil em Maceió, Alagoas
Segundo dados da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) de Maceió, em 2022 foram contabilizadas 8.612.299 viagens utilizando o Passe Livre Estudantil. O mês de outubro foi o que registrou o maior número de embarques, entre todos os meses do ano.
O Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Maceió (Sinturb) também frisou a importância da gratuidade de passagens para os estudantes.
“O Passe Livre desonera a renda da família, que não vai precisar mais custear a meia passagem dos estudantes da casa, e o dinheiro pode ser utilizado em outras áreas. Em casos em que os estudantes já possuem estágio, a gratuidade também é benéfica para que esse estudante complemente a renda familiar, sem precisar se preocupar com o direito ao transporte. Isso ocorre também com idosos e pessoas com deficiências, que não precisam pagar pelo serviço”, informou em nota a Assessoria de Comunicação do Sinturb.
Gratuidade no transporte público das capitais do Nordeste
A Agência Tatu entrou em contato com todas as entidades responsáveis pelo transporte coletivo nas capitais do Nordeste para entender os diferentes programas de gratuidade, grupos atingidos e as dinâmicas do transporte coletivo em cada cidade.
Passagens gratuitas no transporte público são oferecidas a diferentes grupos entre as nove capitais do Nordeste, apesar de não possuírem os mesmos padrões, conseguem beneficiar parte da população. Idosos, pessoas com deficiência e estudantes estão entre os mais beneficiados, mas a gratuidade chega também para pessoas portadoras de algumas doenças e até para alguns funcionários municipais, estaduais ou federais.
Aracaju, capital de Sergipe, tem o maior número de grupos com o benefício. São 11 categorias que podem ter a gratuidade no transporte da cidade. Além de idosos e pessoas com deficiência, o governo de Aracaju garante a gratuidade para policiais civis e militares, oficiais de justiça, guardas municipais, bombeiros militares, colaboradores das empresas de transporte e também aos acompanhantes de pessoas com algumas deficiência.
Outras capitais do Nordeste, como Salvador (Bahia), Fortaleza (Ceará), João Pessoa (Paraíba), Recife (Pernambuco) e Maceió também dispõem do benefício à população. O valor da passagem nas cidades pode chegar de R$2,70 (tarifa mais baixa) a R$4,40 (tarifa mais alta), mas graças à gratuidade, pessoas como agentes penitenciários, agentes de trânsito, estudantes de escolas públicas e até pessoas desempregadas em busca de emprego podem usufruir do transporte público sem custos.
Somente Natal, capital do Rio Grande do Norte, e São Luís, do Maranhão, beneficiam com a gratuidade do transporte público apenas idosos e pessoas com deficiência. A passagem custa R$4,00 em Natal e R$3,70 em São Luís. A assessoria da prefeitura de São Luís informou que 100 mil pessoas são beneficiadas, já a prefeitura de Natal não respondeu às perguntas encaminhadas.
Apenas Maceió possui gratuidade para todos os estudantes da capital, entre as cidades nordestinas. As outras cidades têm um regulamento específico para explicar as particularidades de cada benefício e também há diferentes requisitos para poder tornar-se um beneficiário. No geral, é preciso enquadrar-se em um dos grupos com direito à gratuidade.
“Para quem precisa faz diferença sim, então eu acho ótimo. Quanto mais incentivar esse tipo de investimento melhor”, finaliza o futuro arquiteto, Fabrício.