O bilionário Jorge Paulo Lemann, dono de um império no Brasil e fora do país, criou a Fundação Lemann em 2002. De acordo com o site oficial, ela nasceu “como uma organização de filantropia familiar a partir do desejo de construir um Brasil mais justo e avançado”. O objetivo é atuar em duas áreas estratégicas, Educação e Lideranças, “duas frentes capazes de impulsionar nossa gente e gerar mudanças reais”.
A fundação, em 20 anos, “tem mais de 600 líderes engajados, 61 redes de ensino apoiadas e mais de 28 mil escolas envolvidas”. O impacto das suas ações teria atingindo 2 milhões de pessoas.
O programa de Integridade é um dos pilares definidos pela Fundação Lemann e todas as suas organizações associadas – Associação Nova Escola, Instituto Gesto e Instituto Reúna – que “estão juntas na visão de um Brasil mais justo e com mais oportunidades. Também compartilhamos a ética e a transparência como valores comuns porque sabemos que só assim encontraremos soluções para problemas tão complexos como os que o país enfrenta. É por isso que nosso Programa de Integridade acontece em parceria entre todas as organizações”.
Tudo o que está à mostra é mais uma operação de marketing, no primeiro instante. No segundo, o modelo de dominação de áreas importantes do Estado brasileiro a partir da montagem de estruturas onde as lideranças que emergem nesse ambiente são formadas, ideologicamente, para atuar contra as políticas públicas.
Na essência, lutar contra o ensino público que tem na Educação Integral uma forma de reconhecer as crianças e os jovens como sujeitos de direito, atores sociais com expressão e linguagens singulares. O que parece simples ou pouco é a essência do ensino público que procura formar os alunos respeitando as diferenças inerentes a cada pessoa.
A Fundação Lemann é a contramão da escola pública, que tem a função primordial de garantir a formação das crianças e jovens com espírito crítico, onde a cidadania não seja uma palavra, mas, um conjunto de direitos a serem estendidos a todos, indistintamente.
O escândalo que emergiu nos últimos dias é a negação dos propósitos pregados pela Fundação Lemann e seus familiares de que os pilares centrais da fundação eram educação e liderança e o caráter filantrópico. Essa tese ruiu, como definiu o notável jornalista Luis Nassif:
É o maior escândalo da história do moderno mercado de capitais brasileiro. Durante anos, uma das campeãs da B3, as Americanas, esconderam um passivo que, segundo as últimas atualizações, chegou a R$ 40 bilhões. E tudo sob a tutela dos três maiores bilionários do país, Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, da 3G, que se tornaram, nas últimas décadas, o símbolo máximo do capitalismo financeiro no país.
O gráfico de desempenho do papel já demonstra o tamanho do rombo causado aos mais de 150 mil acionistas. Mas há muito mais elementos para garantir que, por trás do jogo de balanços, há uma fraude monumental, envolvendo diretamente os três acionistas maiores.
Pelas informações disponíveis, o rombo das Americanas começou a ser constituído há pelo menos 10 anos. Havia uma relação de cumplicidade entre os controladores e os diretores estatutários.
Alagoas e outros estados são parceiros ou pretendem associar a expertise desses bilionários trambiqueiros como uma maneira de alavancar a educação pública estadual.
O governador Paulo Dantas e o secretário de Educação Marcius Beltrão devem procurar em Alagoas e, se for o caso, em outros estados, especialistas mais qualificados para enfrentar a realidade dura dos baixos indicadores de educação que ostentamos há décadas.
A Fundação Lemann não é o melhor caminho e muito menos parceiro para Alagoas.