23 de fevereiro de 2023 9:09 por Geraldo de Majella
O governador Sebastião Marinho Muniz Falcão (1915-1966) criou a Comissão de Desenvolvimento Econômico de Alagoas (Codeal) que, mais adiante, foi transformada na Companhia de Desenvolvimento de Alagoas S.A. O Brasil, no governo de Juscelino Kubistchek, intensifica o processo de industrialização e cria o Plano de Metas cuja finalidade é melhorar e ampliar a infraestrutura do país.
Muniz Falcão, no dia 18 de setembro de 1960, lança o Plano Diretor de Desenvolvimento de Alagoas, elaborado pela Codeal, que vem a ser a última grande obra do seu governo.
A composição tripartite do conselho gestor da Codeal é mais uma inovação na administração pública, sendo representado o governo, o empresariado e os trabalhadores. O Plano de Eletrificação lançado pelo governador é a base para a industrialização e o crescimento do estado.
Os estudos realizados para aproximar as três administrações – estadual, federal e municipais – visava a aumentar a eficiência do Estado e estimular a participação da iniciativa privada. Foram estabelecidas diretrizes para melhor controlar as despesas públicas conforme fossem sendo implementados os planos ou programas.
O desenvolvimento de Alagoas pensado incluía a diversificação da produção agrícola, com o fumo, milho, arroz, coco, palma forrageira, algodão, batatinha, amendoim, mamona e algaroba, incluindo a avicultura, fruticultura e horticultura. A ideia era incentivar os produtores de alimentos, que fariam girar a economia alagoana, além de abastecer a mesa da população.
Com Muniz Falcão, Alagoas aponta na direção de mudanças nos rumos do desenvolvimento econômico e social. Foram realizados estudos para prospectar o potencial industrial de Alagoas, como também os incentivos à implantação de indústrias petroquímica, mecânica e metalúrgica, mineração, cimento, papel celulose, álcalis, butanol e acetona.
O Plano Diretor apontava para a preservação dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente, com a adoção de práticas de conservação do solo e da água.
As propostas contidas no Plano Diretor de Desenvolvimento foram implantadas no governo Luiz Cavalcante [1961-1966], que o sucede. As linhas-mestras foram incluídas no Plano Trienal de 1963-1965.
As propostas e políticas foram materializadas na criação da Companhia de Eletricidade de Alagoas (Ceal), Companhia de Saneamento e Abastecimento de Água de Alagoas (Casal), do Banco da Produção (Produban) e mais o Fundo do Desenvolvimento (Fundeal) e Fundo de Financiamento de Equipamentos Agrícolas e Industriais.
A construção da infraestrutura, nas décadas seguintes, inicia a modernização de Alagoas com a construção de estradas e pontes, ampliação do porto, eletrificação em todos os municípios, abastecimento de água potável, estruturação do distrito industrial, ampliações do aeroporto.
A base da construção da infraestrutura tem a ação direta do Estado ao criar políticas setoriais que alavancaram o desenvolvimento, do governo Muniz Falcão até José Tavares (maio de1986 a março de 1987). Em mais de três décadas, pode se contestar os avanços sociais, mas, não é possível negar a criação da infraestrutura básica que transformou a realidade.
Acordo dos Usineiros destruiu o Estado
Após a eleição de Fernando Collor (1949) para governador, no ano de 1986, em apenas dois anos foi dada a partida para a destruição do Estado.
A crise financeira tem origem no governo Collor, quando é celebrado entre o Estado e os empresários do setor sucroalcooleiro o que passou a ser conhecido como o Acordo dos Usineiros. Nos governos Moacir Andrade [1989-1991] e Geraldo Bulhões [1991-1995], é ampliada a ineficiência administrativo-financeira.
O Acordo dos Usineiros deriva de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que declarou ser a cobrança do ICMS da cana própria ilegal. Todos os estados produtores de cana de açúcar suspenderam a cobrança desse tributo. Os usineiros alagoanos recorreram pela via administrativa à Secretaria da Fazenda, reivindicando a devolução dos impostos pagos, no entendimento deles, indevidamente. O pleito foi negado pela Fazenda estadual.
Os usineiros recorreram ao Poder Judiciário, por meio de uma ação de Restituição do Indébito. Acontece que, antes da decisão em primeira instância, o governador Fernando Collor de Mello antecipou-se e selou um acordo com os usineiros através da lavratura dos Termos de Transição do Indébito da Cana Própria.
O Estado de Alagoas se comprometeu a devolver, num prazo de dez anos, o que havia arrecadado. Daí em diante, o principal setor da economia estadual foi reduzindo a participação na arrecadação do ICMS. A consequência foi a insolvência financeira estadual.
O pior viria a acontecer durante o terceiro mandato do governador Divaldo Suruagy [1995-1997], tendo o fatídico dia 17 de julho de 1997 como o dia em que eclodiu a revolta e o confronto entre os policiais, militares e civis, e os funcionários públicos de outras categorias que tentavam ocupar a Assembleia Legislativa, exigindo o afastamento do governador. Toda essa revolta e crise tem origem no famoso Acordo dos Usineiros.
O torniquete colocado pelo governo FHC, através do ministro da Fazenda Pedro Malan, impôs o mais cruel acordo entre um Estado e a União, com a imposição da demissão de 25 mil funcionários públicos. Em pouco tempo, a estrutura administrativa do estado de Alagoas não prestava serviços à população. O caos se instalou.
Secretaria da Agricultura
Há inúmeros exemplos de como ocorreu a destruição da estrutura estatal. A Secretaria da Agricultura é, talvez, a que melhor retrate a destruição do Estado. A organização do setor agrícola levou mais de quatro décadas para se constituir num setor em que eram prestados serviços de qualidade.
O Estado contava com a Empresa de Pesquisa Agropecuária (Epeal), a Comissão Estadual de Planejamento Agrícola (Cepa), a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (Cidal), a Cidade Hortigranjeira de Alagoas (Cidhorta), a Empresa de Desenvolvimento dos Recursos Naturais de Alagoas (Edrn) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Toda essa estrutura foi destruída e não há possibilidade de reestruturação dessa área vital para o desenvolvimento de Alagoas, pelo menos até o momento. Os principais atingidos são os milhares de agricultores familiares.
O dano causado não pode ser consertado porque os pesquisadores e técnicos, muitos por terem ficado nove meses sem receber os salários, foram obrigados a aderir no Programa de Desligamento Voluntário (PDV).
O principal capital que o Estado dispunha eram os seus pesquisadores e técnicos, porém, as inúmeras pesquisas foram abandonadas e destruídas. O custo financeiro dessa tragédia é incalculável.
A tragédia alagoana não tem fim e, para desalento, não há perspectiva de reconstruir esse setor que é o único na economia alagoana que pode criar postos de trabalho e gerar riqueza de forma sustentável nos 102 municípios.
Alagoas foi sentenciada com uma pena que parece ser perpétua, visto que ninguém pode ser condenado, pela legislação, a mais de 30 anos de prisão. O povo alagoano, os milhões trabalhadores, pobres e a classe média cumprem uma pena que chega a 35 anos. O Acordo dos Usineiros foi assinado em 1988, obra do então governador Fernando Collor.
Alagoas contraiu uma dívida bilionária que jamais conseguirá pagar no padrão que foi estabelecido pelo governo federal.
1 Comentário
Excelente recuperação histórica tratando daa medidas de progresso e da origem das mazelas do nosso povo alagoano. Parabéns 082 Notícias pela excelente aanálise, por essa por mais essa contribuição ao estado. Que sirva para alertar o povo para a urgência de varrer da política gente como Collor e tantos outros que infestam o Parlamento Nacional, a Assembleia Legislativa, os governos municipais e suas câmaras de vereadores.