A Ditadura Militar havia sido enterrada com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, no dia 15 de janeiro de 1985. Durante 21 anos, os militares se alternaram na Presidência da República eleitos por “colégios eleitorais”, ou seja, de forma indireta, depois de serem escolhidos dentro das Forças Armadas.
A eleição de Tancredo Neves e José Sarney significou o fim da era dos militares no poder. Tancredo deveria tomar posse no dia 15 de março, mas, por motivos de saúde, o vice-presidente José Sarney tomou posse como presidente da República.
O Serviço Nacional de Informação (SNI), órgão criado para bisbilhotar a vida das pessoas e as instituições, se manteve ativo, como se nada houvesse acontecido.
No dia 17 de maio de 1985, ou seja, dois meses após a posse do governo civil, a organização não governamental Movimento pela Vida convocou uma passeata pelas ruas centrais de Maceió, em protesto contra a duplicação da então Salgema Indústrias Químicas.
O relatório do SNI tinha entre os nomes na lista suja os deputados estaduais Ronaldo Lessa, Moacir Andrade e Selma Bandeira, e mais os vereadores Edberto Ticianeli, Kátia Born Ribeiro, o professor e ecologista José Geraldo Wanderley Marques, o jornalista Anivaldo de Miranda Pinto e o radialista Jorge Morares.
Esse documento foi localizado pelo historiador Geraldo de Majella no Arquivo Nacional, no Fundo do SNI. Passados 38 anos, foi possível saber que manifestações públicas e legais organizadas por entidades da sociedade civil como o Movimento pela Vida, os DCE do Cesmac e Ufal, IAB, Sociedade Alagoana de Defesa dos Direitos Humanos (SADDH),Uesa, UJS, Sindicato dos Bancários de Alagoas, União das Mulheres de Maceió (UMMA) e Federação dos Moradores de Bairros de Alagoas estavam sendo observadas pelo famigerado SNI.
Centenas de crianças e de adolescentes, estudantes dos colégios Sagrada Família e São José, acompanhados de professores e pais, foram tratados pelos agentes do Serviço Nacional de Informação como subversivos pela participação deles na manifestação pela vida.
Histórico de luta
A luta contra a Salgema e seus inúmeros crimes tem uma longa caminhada em Maceió. As mortes de trabalhadores causadas por acidentes evitáveis na fábrica, os acidentes que deixaram vários trabalhadores mutilados não eram silenciados pelas entidades da sociedade civil e nem por parlamentares comprometidos com a segurança no trabalho, a defesa do meio ambiente e dos que trabalhavam e residiam nos bairros circunvizinhos à Salgema S/A.
Denúncias feitas à época apontavam problemas futuros para a cidade, como de fato aconteceram, causando a destruição de cinco bairros e o desalojamento de mais de 60 mil pessoas.
Salgema Indústrias Químicas S/A no início, depois Trikem e atualmente Braskem, o horror se implantou na Zona Sul de Maceió, na restinga do Pontal da Barra.
O relatório registra que algumas horas antes da passeata, o “professor Evilasio Soriano de Cerqueira, coordenador do Polo Cloroquímico, participou de debate na televisão, mostrando os argumentos positivos de sua ampliação. Tal fato contribuiu para que o evento tivesse uma participação popular aquém da esperada por seus organizadores”.