8 de abril de 2023 8:39 por Da Redação
O 082 Notícias ouviu várias fontes que atuaram ao longo dos últimos cinco anos, desde o terremoto do dia 3 de março de 2018. Hoje, daremos continuidade a uma série com a cronologia do posicionamento dos políticos de Alagoas e do Brasil diante do maior crime socioambiental do mundo em curso numa área urbana, provocado pela mineração irresponsável de sal-gema pela petroquímica Braskem.
JHC e Alfredo Gaspar disputam protagonismo
O prefeito de Maceió, JHC, no exercício do mandato de deputado federal, não se manifestou publicamente cobrando da Braskem explicações no primeiro momento em que a cidade de Maceió e o Estado de Alagoas foram impactados com o terremoto, em março de 2018. Manteve-se em silêncio durante 20 meses. Enquanto isso, o caos e o medo se espalharam no Pinheiro e região afetada pela mineração de sal-gema.
O silêncio dos políticos dava a entender que era estratégia comum. Só em 7 de novembro de 2019, propôs uma audiência pública na Câmara Federal. Nesse momento, estabeleceu uma relação de proximidade com as vítimas dos cinco bairros afetados.
O calendário eleitoral foi o termômetro das ações do então deputado federal que, durante a campanha para prefeito em 2020, culminou na aproximação com as várias associações de moradores do Mutange, Bebedouro, Bom Parto, Alto do Céu, Vila Saem e do coordenador do movimento SOS Pinheiro, Geraldo Vasconcelos, que naquele momento era uma liderança em ascensão.
As contradições afloraram em meio ao processo eleitoral em curso. Se, de um lado, as pessoas e empresas rejeitavam Alfredo Gaspar, então procurador-geral do Ministério Público Estadual (PGE), candidato a prefeito e que havia assinado o famigerado acordo com a Braskem, ato que vulnerabilizou ainda mais as vítimas, de outro lado, JHC representava uma esperança, por ser o único político que – na visão das vítimas – ainda poderia se contrapor ao rolo compressor da Braskem.
Negociou espertamente até a adesão do crítico líder da Associação dos Empreendedores, o empresário Alexandre Sampaio, a quem garantiu que, se eleito, daria apoio político para a revisão do acordo, com critérios mais justos na desequilibrada balança do poder econômico da mineradora.
Empossado prefeito de Maceió após acirrada disputa com Alfredo Gaspar (MDB), passa a operar uma mudança de posição em relação ao crime praticado pela Braskem. Entendeu ser importante controlar os movimentos a partir do processo de cooptação das principais lideranças, entre elas, Geraldo Vasconcelos do SOS Pinheiro.
A liderança reconhecida pela luta contra a Braskem e a defesa das vítimas, sendo ele uma das vítimas, se lança candidato a vereador tendo poucos votos. Outra liderança cooptada é Ronnie Mota.
As lideranças do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) e a Associação dos Empreendedores, percebendo que não contariam mais com o apoio, entregaram um requerimento ao GGI e ao Gabinete do Prefeito JHC cobrando um posicionamento concreto favorável ao pedido de autocomposição protocolado no MPF e MPE, para a revisão do acordo realizado entre o MPF e MPE e a Braskem. O posicionamento em favor das vítimas nunca veio.
A mobilização das vítimas não parou e, entre junho e julho de 2021, enquanto o MUVB e Associação dos Empreendedores fechavam a avenida Juca Sampaio em frente ao MPF e a Avenida Fernandes Lima em frente ao CAOP do MPE, pressionando fortemente os órgãos de controle pela revisão do Acordo e cobrando da prefeitura o apoio político prometido, o prefeito JHC, sentindo-se pressionado, manteve a estratégia de dividir os movimentos e, por pouco, não houve agressão física numa das reuniões.
A Prefeitura de Maceió resolve, já que não conseguiu cooptar o movimento através das suas principais lideranças, negociar isoladamente com a Braskem os valores referentes às indenizações exclusivas da prefeitura, enquanto milhares de vítimas estão emparedadas resistindo ao poderio econômico da multinacional.
A prefeitura, ao assinar o acordo com o MPF, DPU e a Braskem manteve em isolamento dos sofridos moradores dos Flexais e Quebradas. As consequências das ações da municipalidade vão a cada momento vulnerabilizando os moradores mais pobres ao não atualizar a lei 6.900, após a inclusão dos novos bairros, Farol e Bebedouro, no mapa de riscos da Defesa Civil. Esse ato administrativo favorece ainda mais a Braskem na isenção de impostos dos imóveis comprados por ela a preço vil.
A Defesa Civil, desde o terremoto divulgava os resultados da interferometria de satélite (que mostra movimento de terra nos bairros afetados), as vítimas vão sendo acrescidas pela falta de escola. Milhares de crianças foram prejudicadas pela descaso da Braskem que não construiu escolas até hoje, passados cinco anos da tragédia.