25 de abril de 2023 6:43 por Geraldo de Majella
Fundado em 1980, o Partido dos Trabalhadores (PT) é resultado das lutas operárias e sociais dirigidas pelos sindicalistas e militantes políticos que emergiram do “chão de fábrica” no ABC paulista, liderados pelo metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. O PT surge como partido de esquerda com base operária, mas também contou com intelectuais, acadêmicos e artistas.
As pressões políticas deflagradas pelo movimento sindical do ABC, dos jornalistas, médicos de São Paulo e de outros estados se concretizaram em manifestações de ruas e em greves que deslocaram o eixo político do regime para a região do ABC, no sentido de conter os trabalhadores.
O polo aglutinador da resistência à ditadura se consolidava no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), liderado pelo deputado Ulisses Guimarães. As sucessivas vitórias politico-eleitorais foram sendo maturadas em torno de uma política de Frente Democrática que se institucionalizou, inclusive, com a entrada de lideranças políticas e empresariais que apoiaram o regime, como o senador Teotônio Vilela e o ex-ministro Severo Gomes.
A concepção da Frente Democrática é do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que entendia que só seria possível derrotar a ditadura militar através das lutas de massas e do isolamento político dos militares e seus apoiadores. A construção dessa formulação política não foi consensual entre os comunistas brasileiros. Houve setores importantes das direções do PCB que não concordaram e romperam com o partido, decidindo enfrentar a ditadura militar por meio da luta armada.
As consequências políticas fazem parte da História do Brasil. Reconhecer os erros cometidos na avaliação política não significa desconhecer a disposição incontestável de travar a lutar em terreno impróprio e desigual contra um inimigo que tinha o domínio do teatro de operações e, numericamente, era superior.
O entendimento do PCB e dos que constituíram a Frente Democrática foi o de atrair o inimigo para, exatamente o caminho oposto: a disputa no campo político, que lhe era adverso.
O MDB elegeu uma espetacular bancada de senadores em 1974. Em 1978, a ditadura fechou o Congresso Nacional e instituiu a censura no horário eleitoral gratuito e criou o senador biônico. Um terço do Senado Federal foi eleito pelas Assembleias Legislativas controladas pelo regime. A cada eleição, os militares ficavam mais fracos e a ampla oposição crescia nas casas legislativas e, em 1982, com a volta da eleição direta para governador, o MDB venceu em grandes colégios eleitorais. O resto da história todos conhecemos.
O PT, historicamente, tem pouca experiência na formação de frentes, no entanto, adquiriu know-how em alianças eleitorais, saiu da Frente Brasil Popular constituída por PT, PSB e PCdoB para alianças com partidos centristas, o que lhe possibilitou vencer quatro eleições presidenciais.
É inegável o enraizamento social do Partido dos Trabalhadores, em última análise, fator de sua sustentação e motivação da sua existência. Essa trajetória histórica obriga o PT a dialogar com as suas bases e, mais amplamente, com a sociedade no sentido de aumentar o nível de politização, cimento que sustenta o tranco nos momentos de adversidade. Esse trabalho independe da Frente Democrática, é uma das suas tarefas.
Frente Democrática
O Brasil governado por Lula/Alckmin é um país fraturado com a ascensão da extrema-direita à Presidência da República, e as consequências que advêm com a presença ativa desse espectro político na caserna das Forças Armadas e nas corporações policiais. Não menos relevante, ancora-se em bancadas parlamentares nas casas parlamentares com significativa base social.
Esse quadro político era impensável para um país que viveu uma ditadura militar durante 21 anos. É um fato e como tal deve ser enfrentado com inteligência política.
A constituição de ampla Frente Democrática não pode ser entendida como uma aliança entre partidos e personalidades de esquerda, mas, com esses e mais os centristas de vários espectros. A gravidade da situação exige ponderação e arte na constituição desse arco partidário e político.
A argamassa que sustentará essa engenharia política é o compartilhamento do Poder, o que não significa abdicar das convicções ideológicas de parte a parte. É necessário construir um projeto de País que inclua todas as forças sociais ou o que for possível incluir. Em determinados momentos, a esquerda vai conviver com adversários que anteriormente disputavam protagonismo nos plenários da Câmara dos Deputados e no Senado Federal. É difícil para ambas as partes, mas necessário para consolidar a democracia, o que não fica restrito ao atual governo mais aos que virão.
A consolidação da democracia é algo tão profundo quanto atingir o pré-sal. As forças políticas golpistas atuam como se fossem camadas em movimentos diuturnos.
A Democracia e a República são bens fundamentais para existirmos como um povo livre. O fascismo é uma ameaça real. A derrota do fascismo não pode ser apenas eleitoral, mas, significar o crescimento da conscientização democrática da sociedade brasileira. Esse deve ser o objetivo da esquerda e das forças democráticas.
1 Comentário
Análise bem formulada. Um caminho a ser percorrido. Repetir acertos políticos é inteligente e produtivo para o bem comum.