Por Igor Carvalho, do Brasil de Fato
Relatório divulgado na sexta-feira (28) pela Repórteres Sem Fronteira (RSF) mostra que jornalistas e empresas de comunicação receberam 3,3 milhões de mensagens ofensivas ou com conteúdo intimidatório pelo Twitter apenas nos últimos três meses de 2022.
O documento é parte da pesquisa O jornalismo frente às redes de ódio no Brasil, que mostra a violência contra o trabalho da imprensa durante as eleições de 2022, que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência do país, após derrotar Jair Bolsonaro, ex-morador do Palácio do Planalto.
O relatório foi elaborado pela RSF em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e acompanhou o perfil no Twitter de 121 jornalistas ou analistas de política que trabalham no país.
A pesquisa “identificou dois perfis de agressores: autoridades públicas e influenciadores ligados ao campo político do ex-presidente Jair Bolsonaro, com grande número de seguidores e repercussão relevante nas redes, e usuários ‘desconhecidos’.”
A entidade identificou um padrão de comportamento das redes bolsonaristas para atacar repórteres. “Quando o ex-presidente ou algum influenciador faziam uma postagem de teor hostil a um/a jornalista ou meio específico/a, era como se um comando fosse dado: a quantidade de ataques àquele jornalista ou veículo por usuários comuns aumentava exponencialmente.”
O relatório recorda os ataques à apresentadora da CNN Brasil Gabriela Prioli, que foi alvo de uma publicação crítica de Bolsonaro no dia 1º de setembro de 2022. No final do dia, a mensagem já tinha mais de 13 mil republicações e alcançou mais de 13,6 milhões de pessoas.
“Era tudo claramente pensado e orquestrado, tinha uma estratégia política por trás, para promover esse ódio e descredibilização em relação ao papel da imprensa como mediador social. Essa onda de ódio que vimos e conseguimos quantificar nessa pesquisa reforçam a perspectiva de que a hostilidade contra a imprensa ganhou um fôlego no governo passado e está claramente associada à extrema-direita no país”, afirma Artur Romeu, diretor do escritório da Repórteres Sem Fronteiras para América Latina.
Ainda de acordo com Romeu, entre as soluções para a violência contra jornalistas está a garantia da “prevenção, proteção e acesso à Justiça” dos profissionais e políticas públicas estruturais.
“É preciso investir no fortalecimento do pluralismo e da diversidade na mídia brasileira. O governo deve pensar políticas públicas que reforcem essa discussão sobre a importância do pluralismo e da diversidade de origem da comunicação, para fazer com que a produção e circulação de informação no país esteja desencontrada da mão dos grandes oligopólios do país, o que também acaba contribuindo para a perda de confiança na imprensa”, finaliza Romeu.