9 de maio de 2023 4:20 por Redação
Marcos de Farias Costa *
O compositor alagoano de choros compõe para o esquecimento, pois nunca será tocado aqui em sua própria terra. Prova cabal é o singelo LP “Chorano”, (2006) reunindo dezena de autores “prata da casa”, sem dúvida os melhores e maiores instrumentistas alagoanos e que não toca em nenhuma parte do planeta. Qual a razão sociológica (ou psicológica) deste descaso estético? Será porque o disco em si não possui valor musical? Ora, mas os entendidos garantem que as composições são muito boas. Por que será que será? Sinceramente não sei. O que eu sei é que circula entre os músicos a fábula do caranguejo, da imagem medonha deste crustáceo que puxa para dentro da lata aqueles que ousam subir e mudar o seu destino. Um amigo mais culto até rememora o mito grego da caverna de Platão. Outros argumentam que Maceió é a capital da inveja e trovejam inúmeras teorias e interpretações. Uns mais agressivos falam até em complexo de vira-lata, o triunfo de nossa baixa autoestima, que impede que valorizemos o que é nosso. Não acredito em nenhuma destas teorias isoladas, mas elas reunidas formam um espectro deveras interessante.
Maceió possui músicos e multi-instrumentistas de altíssima qualidade e a discussão não vai por aí. Claro que eu admiro e adoro ouvir os músicos choristas do passado, sou fã irreversível de Joaquim Callado, Patápio Silva, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazaré, Bonfiglio de Oliveira, Pixinguinha, Zequinha de Abreu, João Pernambuco, K-Ximbinho, Luis Americano, Waldir Azevedo, Fon-Fon, Jacob do Bandolim e outros e mais outros gênios do gênero, porém, e há um porém, os músicos que tocam chorinhos destes ilustres mestres aludidos bem que poderiam executar, também, algumas faixas daquele pobre CD esquecido, chamado “Chorano”, que deve estar chorando pelos cantos da casa.
Tenho absoluta certeza que os compositores alagoanos vivos, e que fazem chorinhos (e são tão poucos) penhoradamente agradecem!
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• Ocasional compositor de sambas e choros, até tangos e xotes e cantor de boteco.
1 Comentário
A crônica ácida e humorada, do Marcos de Farias Costa, nos leva à reflexão e nos fornece o tom dissonante desta conduta local. Pautada no esquecimento e na indiferença da nossa Arte e Memória Cultural. Como diria um amigo próximo, da mesma verve do Marcos, até os nossos museus são simulacros do que hoje concebemos como museus interativos e dinâmicos. Os músicos, infelizmente, tb entram nessas estatísticas do descaso e da indiferença.