domingo 24 de novembro de 2024

O grande Pedro Caetano

O rastilho da fama não mais abandonou o ilustre compositor paulista

3 de junho de 2023 12:28 por Da Redação

Pedro Caetano

 

Por Marcos de Farias Costa*

Vinicius de Morais bateu o martelo declarando que “São Paulo era o túmulo do samba”. Peço licença para discordar do grande poeta (também compositor e exímio letrista), citando um nome: Pedro Walde Caetano.

 

Autor de mais de 400 composições, gravadas e editadas, Pedro Caetano nasceu numa fazenda do município de Bananal (SP, 1/2/1911-RJ, 27/7/1992) e a sua obra é um atestado de maturidade artística.

 

Transferiu-se para o Rio de Janeiro aos nove anos e já dedilhava o piano. É de 1934 seu primeiro samba, “Foi uma pedra que rolou”, só gravada em 1940 pela dupla Joel e Gaúcho, pois o indisciplinado Silvio Caldas prometeu e só cumpriu a promessa vinte anos depois. Mas a primeira composição realmente registrada em disco foi o “Tocador de violão”, samba-canção de 1935, parceria com Claudionor Cruz, na voz do alagoano Augusto Calheiros, selo Odeon. Sucesso definitivo seria a belíssima valsa “Caprichos do Destino” (1938), com seu parceiro dileto Claudionor Cruz, na voz dolente de Orlando Silva. Em 1941 é a vez de “Nova ilusão”, extraordinário samba-choro em parceria com Claudionor Cruz e gravado por Renato Braga, irmão do Braguinha, em disco Colúmbia, com sucessivas regravações excelentes por Paulinho da Viola em 1976 e Lúcio Alves, com Vero e sua orquestra, pela Continental. “A felicidade perdeu seu endereço”, tipo de samba-choro estilizado, com linda melodia, repete o parceiro Claudionor Cruz, em 1940, na interpretação calibrada de Orlando Silva. Em 1942 Ciro Monteiro, um de seus cantores preferidos, gravaria o samba-choro “Botões de Laranjeiras”, cuja origem singela Pedro Caetano narraria em seu livro autobiográfico “54 Anos de música popular brasileira”. Neste mesmo ano Francisco Alves, cognominado o Rei da Voz, levaria à chapa o samba “Sandália de prata”, com o parceiro Alcir Pires Vermelho. A valsa “A dama de vermelho”, também dividida com Alcir Pires Vermelho, na voz poderosa de Francisco Alves, é de 1943, em plena guerra, com a orquestra Odeon. Neste mesmo ano ele registraria outra valsa, agora com Claudionor Cruz, “Duas vidas”, na entonação chopiniana de Orlando Silva e Orquestra Odeon, sob a batuta do maestro alagoano Fon-Fon, filho de Santa Luzia do Norte. Uma marcha carnavalesca de sucesso seria “Eu brinco” (tabelinha com Claudionor Cruz), muito executada no carnaval de 1944, sob um clima pesado de guerra. No ano seguinte outro delicioso samba de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, “Disse-me-disse”, no registro impecável de Carlos Galhardo, com o antológico refrão: “Quem fala dela não pode ser meu amigo”, pela Victor, que receberia regravação sensível do grande sambista Noite Ilustrada.

Pedro Caetano e Marlene

O rastilho da fama não mais abandonou o ilustre compositor paulista, que em 1946 nos legaria o samba “O que se leva dessa vida”, cantado por Ciro Monteiro, com o regional de Benedito Lacerda e K-Ximbinho. Outro sucesso datado de 1946 foi o samba “Apelo”, com Claudionor Cruz e gravado por Gilberto Milfont, pela Victor. Neste mesmo ano, o mundo já livre do inferno da guerra, ele consagra “O samba agora vai”, gravação de Quatro Ases e um Coringa, sugerindo, até, um livro homônimo do historiador José Ramos Tinhorão.

 

Em pleno carnaval de 1947 explode o sacudido samba “Onde estão os tamborins”, nas vozes afinadas do “Quatro Ases e Um Coringa”, onde a folia desanimada deste ano deflagrou a criatividade de Pedro Caetano, reclamando da ausência de Cartola, desde então sumido do morro de Mangueira. E não para aí a curva da febre deste compositor inspirado. É de 1948 o samba carnavalesco de Pedro Caetano, “É com esse que eu vou”, feito numa viagem de trem, de inspiração instantânea, para passar o tempo, segundo o próprio autor; gravado pelo grupo Quatro Ases e Um Coringa e sucesso de estima neste carnaval, sendo regravado por Elis Regina, com novo arranjo, em 1973. De 1961 é a marchinha “Desta vez vamos”, sátira burlesca ao slogan do candidato Ademar de Barros à presidência da república, que ostentava o insultuoso slogan: “Eu roubo, mas faço”. Não pude comprovar, mas em certo verbete de uma autorizada enciclopédia sobre MPB, afirma-se que Pedro Caetano teve como parceiros nada menos que Walfrido Silva, Noel Rosa e Pixinguinha, o que indica o nível. Na voz grave e profunda de Carlos Nobre, intérprete tão injustamente esquecido, é uma outra linda valsa, de safra ininterrupta, “Guarapari” (1962), deste incansável compositor.

Pedro Caetano sendo homenageado por Chacrinha

 

Pedro Caetano é também autor da graciosa marchinha que celebrou a vitória da bela baiana Marta Rocha ao concurso de Missa Brasil de 1954; marchinha defendida pela própria beldade, no carnaval de 1955, mostrando que apesar das “duas polegadas a mais” nos quadris, ela era a baianinha mais bonita do país.

 

Em 1975 Pedro Caetano aos 64 anos gravou um LP (RCA Victor) cantando suas próprias canções. Era comerciante de calçados e a música nunca foi a sua profissão. Entenda-se este país.

________________
• Autor do livro “Juvenal Lopes: o comandante do samba” e comentarista de MPB.

 

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1 Comentário

  • Texto biográfico para ser colocado num altar mor.

    A midia televisiva, as Radios de hoje o depuseram, mas o “valor da-se a quem tem” e os bons pesquisadores o ressuscita.

    Bravo!

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