sexta-feira 25 de outubro de 2024

Banco da China, Banco do BRICS ou Banco Mundial, eis a questão, por Luís Nassif

Quem será mais eficiente, um sistema subordinado ao mercado financeiro, ou um sistema embasado em um projeto de nação?
Reprodução

Por Luis Nassif, do Jornal GGN

É curioso esse processo de reordenamento da ordem mundial. Hoje em dia há dois núcleos em disputa. De um lado, a estrutura agonizante de Bretton Woods, com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. De outro, uma organização que passa pelo Banco do BRICS e pela estrutura montada pela China na rota da Seda.

Historicamente, a Rota da Seda foi uma rede de rotas comerciais que conectavam o Oriente Médio, Ásia Central e Oriental com o Mediterrâneo, África e Europa.

Agora, a China lançou o projeto do Cinturão e Rota da Seda, também conhecido como a Nova Rota da Seda, envolvendo mais de cem países em todo o mundo. Isso inclui países da Ásia, Europa, África e Oriente Médio. Alguns dos países mais envolvidos no projeto são a China, Rússia, Cazaquistão, Paquistão, Indonésia, Irã, Turquia, Espanha e Itália. O projeto visa fortalecer as conexões comerciais e culturais entre esses países, promovendo o desenvolvimento econômico e a cooperação internacional.

Será o parceiro preferencial do Banco do BRICS.

Há uma diferença essencial entre os dois modelos.

Historicamente, FMI e Banco Mundial deveriam trabalhar os desequilíbrios das contas externas de países da Organização das Nações Unidas. O FMI acudia nas crises, com empréstimos, exigindo contrapartidas de políticas de austeridade e desvalorização cambial. Depois, o Banco Mundial entrava financiando projetos que trouxessem desenvolvimento e combate à miséria.

Do pós-guerra aos anos 70, essa fórmula permitiu um crescimento inédito da economia mundial. Com o fim do pacto cambial, o desatrelamento do dólar em relação ao padrão ouro, entrou em vigor a nova era de liberdade total para fluxo de capitais. E, aí, deu-se a diferença essencial.

De seu lado, FMI e Banco Mundial tornaram-se instrumentos de apoio à financeirização da economia. Na crise cambial de 1999, por exemplo, o governo Fernando Henrique Cardoso conseguiu um financiamento robusto do FMI que serviu exclusivamente para resguardar o capital financeiro, financiando sua fuga do país.

Já o modelo chinês é uma estratégia de nação. Por isso, seus aportes obedecem a interesses diretamente ligados à atividade produtiva. Interessa o fortalecimento de parceiros internacionais, ou de ajudar no financiamento de exportação de bens, serviços e empresas chinesas. Esse enfoque na produção faz todo o diferencial.

A resposta do Banco Mundial tem sido muito mais retórica do que efetiva. Em janeiro, o Banco Mundial divulgou uma declaração sobre seu realinhamento, em um documento chamado de Roteiro da Evolução.

O documento baseou-se em um estudo preliminar, “Desenvolvendo a Missão, Operação e Recursos do Banco Mundial: um roteiro“.

No Roteiro, o Banco enfatiza seu compromisso contínuo com os chamados objetivos gêmeos: erradicar a pobreza extrema e promover a prosperidade compartilhada de maneira sustentável.

Manifestou também a intenção de atender a todos os clientes. E jogou um amontoado de siglas:

“O Conselho também confirmou seu compromisso de atender a todos os clientes, incluindo países LICs, MICs, SIDs e FCV. Além disso, a Diretoria reafirmou a necessidade de trabalhar para tornar o WBG mais impactante e envolver-se de forma mais eficaz com outros MDBs, IFIs e outros parceiros internacionais”.

LICS é sigla de países de média e baixa renda. MICs são países de renda média. SIDs são países pequenos em início de desenvolvimento. FCVs são economias frágeis, afetadas por conflitos. WGB é o Grupo do Banco Mundial. MDBs são instituições financeiras multilaterais. IFIs são Instituições Financeiras Internacionais.

Em artigo recente, o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, trouxe considerações gerais sobre o papel do banco, mas não saiu das generalidades. Propõe um pacto entre o Norte e o Sul globais, admite como compreensível a frustração do Sul Global.

“De muitas maneiras, esses países estão pagando o preço pela prosperidade de outros. Quando deveriam estar em ascensão, temem que os recursos prometidos sejam desviados para a reconstrução da Ucrânia; eles sentem que suas aspirações estão sendo limitadas porque as regras de energia não são aplicadas universalmente, e eles estão preocupados que uma geração florescente seja presa em uma prisão de pobreza”.

Nesta semana, líderes de 20 das maiores economias do mundo se reunirão na Índia para a Reunião dos Ministros de Finanças e Governadores de Bancos Centrais do G20. A intenção é reformar todos os bancos multilaterais dentro dos princípios do Mapa da Evolução.

Mas como esse esforço exigirá trilhões de dólares, o BM pretende abrir espaço para parceiros do setor privado. Ou seja, admite que não há condições de obter esse apoio dos estados-membros.

E, ai, voltamos para o ponto inicial: quem será mais eficiente, um sistema subordinado ao mercado financeiro, ou um sistema embasado em um projeto de nação?

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