17 de dezembro de 2023 9:48 por Da Redação
O crime que a mineradora Braskem cometeu em Alagoas segue estendendo seus tentáculos para além da economia e o meio ambiente da capital do Estado. A população do entorno das minas de sal-gema, riqueza mineral que a multinacional explora em Maceió há mais de 40 anos, continua sendo vítima do crime de afundamento e posterior desocupação de uma área expressiva do território da cidade.
As vítimas do momento são os moradores dos bairros Flexal de Cima e Flexal de Baixo, que estão ilhados em suas casas, desprovidos dos serviços básicos de assistência. “Estamos morrendo sem receber assistência dos órgãos de saúde” – reclama um morador, que prefere não se identificar temendo ainda mais represálias.
Num áudio enviado a um familiar, esse morador do Flexal de Baixo relata os fatos que antecederam a morte de um vizinho em consequência da absoluta ausência dos órgãos de Saúde. “Meu vizinho morreu se debatendo na sala de casa, gritando de dor e apelando por ajuda” – relata o denunciante.
A morte foi registrada na madrugada deste sábado, 16. Segundo o áudio, o vizinho, que três dias antes buscara atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Chã da Jaqueira, voltou a passar mal, sentindo fortes dores. Sem transporte para levá-lo novamente à UPA, os familiares recorreram ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), pelo telefone 192.
“O atendimento informou que não havia ambulância disponível” – afirma o morador. A situação tornou-se desesperadora, pois o vizinho gritava muito por conta das dores. Com o quadro se agravando, a família decidiu chamar um Uber para levar o rapaz até o Hospital Geral do Estado (HGE), mas também foi inútil.
Por conta da situação de abandono, os serviços de transporte e delivery não atendem aos bairros do entorno das minas da Braskem. Ou seja, a família não conseguiu o transporte.
Sem atendimento da rede pública de saúde, o morador acabou morrendo no chão da sala de sua casa.
O vizinho relata ainda que o drama da família do falecido aumentou com a falta de assistência do Instituto Médico Legal (IML), chamado para as providências legais. O Instituto só atendeu ao chamado 12 horas após a solicitação, tornando a perda daquela família ainda mais sofrida.
“Quanto vale uma vida aqui nos Flexais?” – indaga o morador, revoltado com o desrespeito que a população daquela área está sofrendo.
Para ele, a situação nos Flexais assemelha-se ao sofrimento da população de Gaza (região próxima a Israel, na fronteira com o Egito), que vem sendo dizimada pelo governo israelense.
“É essa a realidade de todos nós. Me pergunto qual o crime que cometemos? Antes dessa situação da Braskem a vida era tranquila, tínhamos condições de resolver os problemas. Agora estamos abandonados, sem assistência” – relata o morador, citando o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC, como um “genocida”.
Na sua crítica ele aponta também como responsáveis pelo quadro de abandono e descaso na área, o Ministério Público Federal e Estadual e a Defesa Civil.