5 de junho de 2024 6:36 por Da Redação
Por Neirevane Nunes
Essa semana a população foi surpreendida com a informação contida em uma placa no bairro de Bebedouro sobre uma obra de intervenção na linha férrea, com a retirada dos trilhos no trajeto entre Bom Parto e Bebedouro, o qual se encontra interditado há 3 anos, devido ao afundamento do solo provocado pelo crime da mineração da Braskem.
Além da população, a CBTU (Companhia de Trens Urbanos) foi lesada pela Braskem, com a perda de usuários do VLT e do Trem. Os danos são econômicos e sociais, o VLT transportava cerca de 11 mil passageiros por dia e com a interrupção, o número caiu para cerca de 2 mil passageiros por dia principalmente trabalhadores de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade e que tinham o VLT/Trem como a principal forma de deslocamento.
E mesmo com a baldeação feita entre o Bom Parto e Bebedouro essa população está sendo extremamente prejudicada.
A Braskem e CBTU firmaram um acordo judicial para criar um novo traçado para o VLT, longe das áreas de risco, passando pela parte alta da cidade. Só que a Braskem ficou de apresentar esse projeto em dezembro do ano passado (2023), mas conseguiu prorrogação e até o momento não apresentou o projeto. E antes de apresentar o novo traçado já anuncia que irá fazer a retirada/realocação dos trilhos.
Como? Cadê o projeto? Será mais um projeto de mobilidade em Maceió sem discussão com a população, a exemplo do projeto viário do Antares? Pois foi somente através de muita luta dos moradores do loteamento Terra de Antares II, que houve a adoção de um novo traçado, impactando um numero menor de famílias quer terão seus imóveis desapropriados.
O caso da remoção da linha férrea entre Bom Parto e Bebedouro é o pano de fundo para uma discussão muito maior, que é o futuro das áreas afetadas pelo afundamento do solo. Segundo o acordo firmado entre a Braskem e as instituições da força-tarefa as intervenções futuras pela Braskem na área, como edificações estariam condicionadas a permissão do Plano Diretor de Maceió e a possibilidade de estabilização do solo.
Ora, sabemos que o Plano Diretor precisa de urgente atualização, pois é de 2005, bem anterior a situação de afundamento e evacuação dos bairros, como também sabemos que a Defesa Civil até o momento mantém suspenso o tráfego de VLT na área, apesar do tráfego de veículos pesados a serviço da mineradora acontecer diariamente. O que a Braskem pretende fazer? Liberar a via para o tráfego de veículos após a obra de deslocamento dos trilhos?
São muitos os questionamentos e esperamos respostas da Braskem e da CBTU, além disso, defendemos que toda e qualquer intervenção presente e futura nos bairros afetados pela mineração da Braskem seja discutida amplamente com a sociedade. Não podemos permitir que decisões sobre o nosso território e nossas comunidades continuem sendo tomadas sem a participação efetiva dos atingidos. O controle social sobre as ações a serem desenvolvidas nessas áreas não pode ser ignorado, sendo assim, o fato da população ser excluída desde o inicio da construção dos acordos e da discussão dos projetos de intervenções nestas áreas, representa mais uma violência a população.
*É bióloga e doutoranda pela Sottep/Unima